A mãe parecia estar vivendo novamente a dor de um parto quando tentava, em vão, reanimar Ingrid Hellen Santos, de apenas 15 anos. Era começo da noite de quinta, 30 de agosto de 2015, quando o caminho para o cinema, que Ingrid faria para assistir ao filme do Carrossel, foi interrompido a tiros.
Nos últimos cinco anos, quase triplicou a frequência de tiros que cruzam o caminho de pessoas sem qualquer relação com a criminalidade. Só no ano passado, 13 vidas foram perdidas assim. Em sete delas, os tiros encontraram vítimas menores de 18 anos.
A morte de Ingrid foi em meio à Vila Cruzeiro, Zona Sul de Porto Alegre. Era uma parada de ônibus, mas na realidade do tráfico de drogas, era território de uma quadrilha. A disparada dos casos de bala perdida está diretamente ligada a regiões onde o tráfico está em guerra.
— Eu era superprotetora, naquele dia mesmo conversei com ela sobre como estava tudo perigoso por aqui. Mas ela estava tão empolgada, tinha comprado tênis novos e queria assistir aquele filme — recorda a mãe.
Só com remédio
Desde então, Sílvia Cardoso dos Santos, 31 anos, não dorme sem remédios. Havia alguns anos, apesar de tão jovem, Ingrid já servia como exemplo positivo no ambiente violento. Era um dos pilares para os mais novos no Centro Esportivo, Cultural e Assistencial Vila do Campinho.
— Ela tinha uma maturidade que chamava a atenção, vivia dando conselhos aos meninos para não seguirem o caminho errado. Ajudava muito no trabalho social — valoriza Ubirajara Cardoso Júnior, 38, que lidera a entidade.
Bala perdida
Cerca de um terço das vítimas de bala perdida eram crianças ou adolescentes. Este tipo de ocorrência aumentou em 2015, quando 13 pessoas foram mortas dessa forma. É quase a metade dos 31 casos registrados desde 2011.
— O problema é o ambiente, não o jovem. Se está envolvido na criminalidade ou não, para nós é indiferente. É sempre uma perda — lamenta o líder comunitário Ubirajara.
A menina participava de um projeto social que atende a 60 crianças, no turno inverso ao da escola.
— A Ingrid começou aqui aos 11 anos. Ela era exemplo aqui e fora daqui — conta Ubirajara.
• Retirar armas irregulares de circulação.
• Exercer um maior controle nas fronteiras como forma de combater o contrabando
de armas.
• Formalizar parcerias com países vizinhos para um combate internacional ao comércio ilegal
de armas.
• As instituições intensificarem o controle de suas armas para que não cheguem às mãos de criminosos.
• Ampliar o combate ao tráfico de drogas e às quadrilhas que disputam territórios.
Fonte: delegado da PF, Roberto Lopes
Carlos Macedo