Marcar um “F” ao lado de cada nome, representando “falecido”, foi como um golpe para os professores e os colegas da Escola Estadual Professor Gentil Viegas Cardoso, no Bairro Jardim Algarve. Era início do ano letivo quando os amigos Cristian Rodrigues de Assis, 19 anos, Brayan Ildo de Andrade, 16, Jonas Dorneles de Souza, 16, e Andrey Flores Monticelli, 16, foram mortos em uma chacina.
Os quatro foram vítimas da criminalidade na cidade mais violenta da Região Metropolitana.
Alvorada tem uma taxa de 59,4 homicídios para cada 100 mil habitantes, por ano. É seis vezes superior ao índice considerado aceitável pela Organização das Nações Unidas (ONU). E mais do que o dobro da taxa de homicídios do Brasil. A cidade foi palco de sete das 22 chacinas registradas na região entre 2011 e 2015. Era começo da noite de domingo, 1º de março de 2015, e os quatro amigos comemoravam o aniversário do Cristian. Para a polícia, foram mortos por traficantes do vizinho Loteamento Timbaúva, em Porto Alegre, que tentavam controlar o tráfico no Jardim Algarve.
Enquanto em toda a Região Metropolitana 63,2% dos homicídios têm como motivação o tráfico, em Alvorada o percentual é ainda maior: chega a 67,1%.
— A cada perda, a autoestima desses jovens é abalada. Reforça uma questão de desvalorização da dignidade deles. É como se estivessem à mercê de um sistema que não funciona. Nosso esforço é para mostrar a eles que essa não pode ser a regra, que há outras alternativas e precisa do envolvimento de todos – conta a professora Cristine Stefani Silva, que também é psicóloga e teve papel fundamental após a perda traumática dos quatro jovens.
Nenhum dos amigos tinha antecedentes criminais. Na cidade mais violenta da região, 27,5% das vítimas do tráfico de drogas não tinham antecedentes. Um índice superior aos 25,5% da região.
Ficaram arquivados os trabalhos sobre a 1ª Guerra Mundial, de Brayan, e futebol, de Jonas. Os garotos faziam parte de um projeto para cursar o Ensino Médio. Passaram com louvor.
— O Brayan estava superempolgado para iniciar o Ensino Médio. Veio nos mostrar os tênis novos que a mãe lhe deu – lembra a professora.
Jonas iniciaria o segundo ano, e Cristian retornaria à escola no turno da noite. Andrey também estudava à noite.
— Ele sonhava fazer faculdade ou ser militar. Nunca desrespeitou ninguém e isso foi acontecer justamente com ele — lamenta a mãe de Andrey, Rosalba Cruz Flores, 39 anos.
A vila mudou após a perda dos garotos.
— Não se vê mais os meninos na rua. O medo aqui é maior do que a alegria — resume a mãe.
• Regularização urbana. A cidade tem o menor Índice de Desenvolvimento Humano da Região Metropolitana.
• Maior presença do Estado nas comunidades como um todo, em políticas de inclusão e projetos sociais que privilegiem a educação e o emprego.
• Valorização do espaço escolar como fomentador de oportunidades para a juventude.
• Eficiência investigativa e condenação dos homicidas. Em média, apenas um caso vai a júri a cada três semanas na cidade.
• Maior rigor em abordagens e ações policiais contra armas e drogas.
• Policiamento comunitário e aproximação com os moradores.
Fontes: comandante do 24º BPM, major Maurício Huster, e psicóloga e professora da rede estadual Cristine Stefani Silva
Carlos Macedo