Os bairros Lomba do Pinheiro, Restinga, Rubem Berta e Santa Tereza concentram 20% dos assassinatos de jovens e adolescentes na Região Metropolitana.
Se na Capital 7,9% das vítimas não chegam aos 18 anos, nos quatro bairros, 10,9% das vítimas morreram nessa faixa etária. Juarez Fernando Oliveira Weber foi uma dessas vítimas. Ele completaria 20 anos em abril deste ano. Mas não teve festa, só saudade. Uma dor que a mãe, a vendedora ambulante Cleonice Oliveira Weber, 40 anos, carrega desde agosto de 2011, quando perdeu o filho executado aos 15 anos, dentro de uma lan house no Bairro Restinga, Zona Sul de Porto Alegre.
Territórios sem paz
Um mês depois do crime, o governo estadual lançou ali um Território da Paz, uma bandeira na área da segurança pública para combater os homicídios de jovens nos quatro bairros que até aquele ano respondiam por um terço dos assassinatos da Capital.
Com a troca de governo, os Territórios da Paz terminaram sem efetividade e sem um projeto que os substituísse.
Na Restinga, onde está a maior população de crianças e adolescentes da Capital — 20.773 habitantes —, os efeitos da violência sem uma resposta efetiva são ainda mais graves.
A chance de alguém ser morto antes de completar 18 anos é quase o dobro do que na Região Metropolitana. As vítimas nessa faixa etária correspondem a 12,3% do total no bairro. Quando são considerados os jovens até 24 anos, essa conta sobe até quase metade das vítimas. A polícia contabiliza mais de dez quadrilhas ativas no bairro, e todas têm nos adolescentes seus soldados e alvos.
Sem antecedentes
Morador da Quinta Unidade, Juarez contrariava essa realidade.
— Ele sempre dizia que iria trabalhar para nos ajudar e ser alguém na vida. O que mais me dói é sentir que os sonhos dele foram cortados assim — diz a mãe.
O garoto foi vítima do tráfico sem que tivesse qualquer envolvimento com a criminalidade. Isso não é raro. Mesmo que em 70,4% dos assassinatos de adolescentes na Região Metropolitana o tráfico de drogas tenha sido o pano de fundo, mais da metade das vítimas não tinha antecedentes.
Ranking dos bairros
Territórios da paz
Adolescentes executados (12-17 anos)
Um adolescente da mesma idade de Juarez foi apreendido e confessou o crime na época. A frieza do seu depoimento revela a realidade chocante do bairro:
— Estava passando do outro lado da rua, quando vi um contra meu. Aí, eu estava armado e fui pegar esse contra. Parei no meio da rua para atirar nele, bem na reta da lan house e, no caso, matei o cara errado.
Naquela sexta-feira, dia 12 de agosto de 2011, a professora do segundo período na Escola Municipal Dolores Alcaraz Caldas não foi à aula. Então, Juarez, que cursava a oitava série, saiu e foi à lan house. Estava com fones nos ouvidos e preparava o seu currículo. Nem percebeu quando o adolescente armado entrou no local e foi direto até ele. Foi morto com três tiros pelas costas.
— Desde aquele dia, eu não sou mais a mesma. Não consigo ser completamente feliz depois que perdi o meu menino — diz a mãe.
A vida da família passou por um turbilhão. Ela sofreu depressão, o marido por pouco não explodiu um sentimento de vingança e a família esteve no limite de ruir. Mãe ainda de uma menina de 15 anos e de outro menino, de três, Cleonice mantém o trabalho de vendedora de meias nas ruas da Restinga. Na época, Juarez era conhecido por todos no bairro por acompanhar o pai neste ofício.
• Romper o ciclo de sedução pelo tráfico de drogas. É preciso tornar a escola um ponto de referência na comunidade, e não a boca de fumo.
• Transformar a didática, com educadores que se comuniquem e criem atrativos a esses jovens.
• Parcerias com ONGs, geralmente criadas na própria comunidade, são eficientes por conhecerem a situação local e não representarem uma intervenção repressora.
• Revisão na punição à criminalidade na adolescência, reforçando que a escolha por esse caminho terminará em punição rigorosa.
• Presença de policiamento nas ruas, em contato com a comunidade.
Fonte: diretor de investigações do Departamento de Homicídios, delegado Gabriel Bicca
Mateus Bruxel