Em cinco anos, 6.408 pessoas foram assassinadas em 19 municípios da Região Metropolitana e do Vale do Sinos.
É como se a população de uma cidade do porte de Glorinha, a 44km de Porto Alegre, tivesse desaparecido entre 2011 e 2015. Os dados integram um levantamento inédito e exclusivo do Diário Gaúcho.
Vive-se uma epidemia de homicídios, com 33,8 assassinatos para cada 100 mil habitantes por ano. É três vezes mais mortes que o índice considerado aceitável pela ONU. Proporcionalmente, mata-se mais aqui do que nas cidades do Rio de Janeiro (18,6 para 100 mil) e de São Paulo (10,1). O ritmo dos assassinatos é oito vezes maior do que o do crescimento da população.
Em 2015, ao menos 1.539 pessoas foram mortas na região que a
planilha abrange. Número 41,3% superior aos 1.089 mortos em 2011. Neste período, a população cresceu 5%, segundo o IBGE. O tráfico de drogas explica muito. Junto com acertos de contas, foi o pano de fundo em seis a cada dez mortes.
Em pleno vigor do Estatuto do Desarmamento, 82,9% das vítimas foram atingidas por armas de fogo. O “grupo de risco” da epidemia está entre os 18 e os 24 anos: um em cada quatro homicídios atinge pessoas desta faixa etária.
Aqui, o discurso de que “são criminosos se matando” é frágil. Pelo menos uma em cada cinco vítimas não tinha antecedente criminal. Quando os crimes são motivados pelo tráfico, uma em cada quatro vítimas não tem ficha na polícia.
Ao longo desses cinco anos, a média é de uma pessoa morta por semana vítima de assaltantes. Muitas vezes, tendo justamente o tráfico de drogas como mola propulsora para cometer os latrocínios.
Até agora, os remédios para frear esta epidemia foram ineficazes. Autoridades criaram, e desfizeram, os Territórios da Paz. Estabeleceram o homicídio como prioridade, com a criação de delegacias especializadas. Mas diante de cortes de investimentos, o ritmo e a qualidade das apurações diminuíram.
Logo, a falta de respostas para a epidemia não surpreende. Conforme a Corregedoria do Ministério Público, apenas 5,5% dos inquéritos de homicídios chegam ao Tribunal do Júri na Região Metropolitana. Pior: 82% deles são devolvidos à Polícia Civil para novas diligências.
Os números, as histórias e os porquês serão apresentados neste Dossiê DG.
Por ora, a pergunta de uma mãe que perdeu a filha parece longe da resposta:
— Até quando?