Passei alguns dias na Itália acompanhando a Internazionale, provável adversária do seu homônimo de Porto Alegre na final do Mundial de Clubes, dia 18 de dezembro, em Abu Dhabi.
Há detalhes que só estando lá, trocando informações, impressões, analisando rostos, lendo jornais locais e repartindo ideias, há nuances que só vendo ao vivo para perceber. Um deles é o seguinte: se blindar jogadores der resultado, então os italianos estão com a taça na mão.
Os CTs não são locais de treinamento, mas fortalezas. Em Appiano Gentile, cidadezinha a 45 quilômetros de Milão, dois portões com grades pontiagudas abrem e fecham durante o tempo estritamente necessário para os carrões dos jogadores passarem.
Imagine o porsche do sérvio Stankovic embalando, lá de dentro, até passar pelo portão. Tente pará-lo e haverá risco de atropelamento. Eu vi.
Os treinos são fechados. Só uma vez por semana, às vezes nem isso, o acesso é liberado para torcida e jornalistas. Como trata-se de regalia em véspera de jogo, vê-se apenas a obviedade do rachão.
Atender telefone no CT? Nem pensar. Mesmo os mais experientes e de conduta irrepreensível precisam colocar no silencioso. Liguei 10 vezes para Lúcio.
Queria apenas avisá-lo que estava do lado de fora do CT, conforme o combinado na véspera, enfrentando neve e frio. Ele não atendeu. Passou de carro voando pelo portão. Depois, retornou as ligações — e um torpedo desesperado meu.
Jogadores em tratamento médico não podem conceder entrevistas, sob pena de multa. Há censura seletiva. Abu Dhabi é assunto vetado até ordem em contrário. Como falta pouco para o embarque aos Emirados Árabes, os laços da mordaça tendem a afrouxar nos próximos dias.
Só os mais consagrados abordam o tema sem medo. Lúcio falou gentilmente comigo para ZH dominical. Cambiasso fez menção, de leve, após marcar o gol da vitória sobre o Twente, pela Liga.
Na Itália, a blindagem é doentia. Não é assim em toda a Europa. Em 2006, entrevistei Ronaldinho sem paranóias na casa dele em Barcelona. A Seleção de Luiz Felipe foi pentacampeã com democracia e acesso livre aos jogadores. Era só ir até o hotel e conversar no saguão, dentro dos limites do bom senso, sobre qualquer assunto.
Se a Inter vencer em Abu Dhabi, terá sido pelo bom futebol. E não por ter um CT que é uma fortaleza ou por blindar jogadores.
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