Detalhes lembram antigo uso

Loja guarda sinais da época em que endereço era o ponto principal das tradicionais bebidas Mayerle Boonekamp

É compreensível que em 40 anos de atividade no número 965 da avenida Getúlio Vargas a Papelaria Cruzeiro tenha mudado de aparência. A fachada já não é mais a mesma de quando o comerciante Harold Maul decidiu montar uma filial para a extinta loja da rua do Príncipe, que, na década de 1970, completava dez anos no ramo. No entanto, detalhes no interior do prédio levam a uma história que começa bem antes da ocupação da família Maul.

Porta interna da papelaria (foto à direita)

Uma porta que dá acesso à área de funcionários e a escada em madeira que leva ao sótão da papelaria remetem ao período em que o local lotava nos fins de tarde para o happy hour regado a cerveja artesanal, bitter (produto que contava com uma receita secreta de família trazida da Holanda) e aperitivos caseiros, como queijos e embutidos.

Fachada do imóvel antes da grande reforma

A "venda" de Pedro Mayerle era abastecida pelas bebidas que ele próprio produzia na indústria Mayerle Boonekamp, fundada em 1892 e que, até poucos anos atrás, ainda funcionava na mesma quadra, com entrada pela rua Inácio Bastos. A indústria centenária foi demolida no ano passado para dar lugar a um supermercado.

Indústria de bebidas Mayerle Boonekamp antes de ser demolida

Margarete Schmalz, sobrinha-neta de Pedro Mayerle, conta que as nove filhas do comerciante ajudavam no atendimento dos clientes e na cozinha da "venda", frequentada pelos "poderosos" da cidade. Já para atuar na produção das bebidas, Pedro trouxe três sobrinhos da Áustria, entre eles o pai de Margarete. Mais tarde, os genros de Pedro também começaram a atuar nas empresas. O bitter, os licores e o capilé ficaram famosos e passaram a ser distribuídos para outros estabelecimentos de Joinville e região, o que estimulou o crescimento da produção quase artesanal da indústria.

Visual atual da Papelaria Cruzeiro

De comércio de alimentos, o endereço na avenida Getúlio Vargas passou a ser papelaria administrada por três das nove filhas de Mayerle até o prédio ser comprado por Harold Maul. Hoje é a filha Danya Maul Beckert quem dá continuidade à única unidade da Papelaria Cruzeiro na cidade.

Farmácia Kumlehn

O desenho da taça Higeia com uma serpente, símbolo do poder da cura, é um dos detalhes do imóvel construído em 1930 para moradia e farmácia da família Kumlehn. Alfredo, que já atuava como farmacêutico na avenida desde a década de 1920, mandou construir o casarão quando estava prestes a casar. Além de medicamentos, o local vendia perfumes e cosméticos. Hoje, abriga uma loja de confecções infantis.

Casarão de 1919

Atualmente desocupado, o casarão na esquina com a rua Alexandre Schlemm, construído em 1919 por José Honorato da Rosa, serviu de residência até o início da década de 1980. Quando a família desocupou o imóvel, houve uma grande reforma. Foram retirados a varanda, as escadas e o porão e ali passou a funcionar um restaurante, dando início ao movimento seguinte de lojas e escritórios no local.