Liga da resistência

Sociedade no Centro de Joinville sobrevive mesmo sem organizar seus tradicionais bailes

Fachada atual do prédio da década de 1930
Fachada atual do prédio da década de 1930

Boate, abrigo de jogos, cinema, festas de chope, Carnaval, Fenatiro, exposição de flores. Não importa a lembrança que se tenha da Liga de Sociedades de Joinville — ou Liga da Sociedade Joinvilense — ela será sempre múltipla. O prédio da rua Jaguaruna realmente já foi palco de quase tudo (até de uma pista de gelo para patinação) e, como um camaleão, continua fazendo a sua parte na arte de atender à cultura e ao entretenimento. Hoje, são os shows os responsáveis pela maior motivação para a visita ao imóvel septuagenário.

Mesmo na carência de um grande teatro em Joinville, houve um tempo, entre a década de 1990 e não muito longe, que a Liga se tornou um local quase esquecido. A movimentação voltou após uma grande reforma e a parceria com uma produtora. A partir de 2011, o local voltou a receber atrações e nomes nacionais, como Ney Matogrosso, Maria Rita, Milton Nascimento, Djavan e Nando Reis, que fizeram a cidade reviver um momento épico da agenda musical.

— A Liga é um dos poucos lugares da cidade que possui um palco interessante, com boa acústica e é viável para a realização de shows — constata o produtor cultural Luciano Cavichiolli, produtor cultural da Studio Produções.

Fachada atual do prédio da década de 1930
Salão onde acontecem os shows

Primeiro Palácio dos Esportes de Joinville, casa da primeira transmissão radiofônica da cidade (1927), primeiro cinema da região (1929) e palco da primeira apresentação de Roberto Carlos na cidade (década de 1960). São tantos "primeiros" que fica difícil não deixar passar em branco alguns dos títulos. Ainda mais que, anterior à construção do prédio atual, o endereço ainda foi salão de bailes desde o século 19.

— Este espaço é uma referência para a área cultural da cidade. Ele se adaptou a diferentes gerações, sempre com o mesmo objetivo — argumenta o historiador Bruno Silva, da Fundação Cultural de Joinville.

Hoje, poucos são os sócios que mantêm em dia o pagamento da mensalidade de R$ 30, o que fez com que a diretoria procurasse parceria com a Studio Produções, de Cavichiolli, para a realização de shows e, em troca, a manutenção do espaço. Segundo Flávio Piazera, na presidência da casa há 21 anos, os bailes que fizeram o reconhecimento do local e que continuam sendo motivo de boas recordações estão fora dos planos da diretoria.

— Hoje, os custos seriam altos para fazer um evento. Além do mais, são necessárias muitas autorizações — justifica.

A Liga de Sociedades já contou com mais de 1,4 mil sócios. Hoje, esse número não passa de 40. E menor ainda é a quantidade de pessoas que procuram o clube para se associar.

— Quanto valeria o título da Liga hoje? Não saberíamos responder — se questiona o vice-presidente da Liga, Roberto Koehntopp, sobre a dificuldade de se definir um valor em meio ao patrimônio e ao número atual de sócios, que ainda se reúnem esporadicamente na Taberna, como é chamado o bar que fica em um dos porões do imóvel.

Planos após tombamento

Fachada atual do prédio da década de 1930
Detalhe da escadaria que leva aos camarotes

O salão principal da Liga não é o único ambiente de convivência do prédio. Outros três espaços poderiam estar abertos ao público se houvesse recursos suficientes para uma grande reforma. Cavichiolli vê nos salões que já abrigaram restaurante e a antiga Boate Vagão uma oportunidade de ampliar as opções culturais da cidade. As três salas estão fechadas e sem uso há anos. O acesso a elas é quase impossível devido ao mau estado de conservação.

Uma saída seria aproveitar o tombamento do prédio — processo que está entre as prioridades do setor de patrimônio histórico da Fundação Cultural de Joinville — para buscar recursos junto a editais públicos, já que os gastos da recuperação passariam de R$ 1 milhão.

— Estes espaços poderiam se tornar um centro cultural, com cineclube, café e continuar servindo ao lazer — sonha o produtor.