Prioridade para tombamento

Entre mais de mil UIPs, lista que deverá ser totalmente revista segundo o que prevê a nova Lei do Inventário do Patrimônio Cultural de Joinville (IPCJ), está o prédio de número 100 da rua Jaguaruna. Em maio de 2008, o setor de patrimônio deu início ao processo de tombamento definitivo do imóvel a fim de proteger o prédio septuagenário e as lembranças do endereço que remetem ao século 19. A notificação de proteção não foi bem recebida pela diretoria e foi impugnada um mês depois.

O início do processo de tombamento, não coincidentemente, se deu quando os sócios buscavam alternativas para reerguer a sociedade interditada. Flávio Piazera optou pela venda do terreno nos fundos, ação que foi aprovada pela Fundação Cultural, que via no negócio uma das formas encontradas para levantar dinheiro e colocar a Liga novamente de pé.

Fundos do palco foi construído em enxaimel
Fundos do palco foi construído em enxaimel

— Não é nossa intenção que o patrimônio fique sem uso, muito pelo contrário — esclarece Bruno da Silva, que participa da comissão responsável pelo laudo do prédio.

A impugnação desacelerou um processo que, se consentido pela diretoria, já poderia ter tido fim. Com uma grande demanda, o setor de patrimônio da FCJ está elaborando um laudo que avaliará o tombamento. Se for finalmente aprovado pelos proprietários, o documento seguirá para a Comissão do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Natural de Joinville (Comphan), responsável por decidir o destino do imóvel ainda neste ano, já que a Liga está entre as prioridades do setor.

O Moinho Joinville seguiu trajetória semelhante. A Bunge, proprietária do imóvel, também impugnou a decisão há quatro anos, mas voltou atrás no fim ano passado, quando recebeu o laudo, trabalho técnico minucioso que reúne dados históricos e arquitetônicos do imóvel. A empresa, fechada no mesmo período, já goza da proteção do tombamento, embora a documentação não tenha sido sancionada pelo prefeito.

Documentos em alemão

Em 2002, na reforma dos porões, um valioso conjunto de documentos foi encontrado. De posse do presidente do clube desde então, os livros escritos em alemão gótico ainda não foram traduzidos. Alguns detalhes, como datas e assinaturas, são, por enquanto, os únicos indícios de que esses registros podem complementar as informações já conhecidas sobre os primeiros anos de Joinville.

Flávio Piazera preserva os documentos histórios
Flávio Piazera preserva os documentos histórios

Um dos cadernos que serviam de ata nas reuniões marca o início das anotações em 1858, oito anos depois da fundação da cidade. Algumas páginas são assinadas por Ottokar Doerffel.

Ata encontrada tem dados a partir de 1858
Ata encontrada tem dados a partir de 1858

— Meu sonho é juntar esses documentos e fazer uma biblioteca na Liga — afirma Flávio Piazera, que não abre mão da posse da papelada com o receio de que o material se perca.

Os documentos foram, possivelmente, escondidos no porão durante a campanha de nacionalização, a partir de 1937. A repressão aos imigrantes estrangeiros chegou a Joinville e se intensificou por volta de 1942, com a Segunda Guerra Mundial. As sociedades formadas por essas comunidades, como é o caso da Liga, da Harmonia-Lyra e de tantas outras, foram alvos da campanha. Para forçar a integração dos imigrantes alemães com a cultura brasileira, esses locais de convivência passaram a ser liderados por pessoas escolhidas pelo governo. Foi então que a Liga chegou a ter como presidente o oficial Celso de Oliveira. Algumas sociedades não sobreviveram à intervenção.