Homem ao mar

Ofícios relacionados à pesca já não são mais tão comuns entre os jovens do Morro do Amaral

A pesca já foi a principal fonte de sobrevivência das famílias do Morro do Amaral, comunidade que cresceu às margens da Baía da Babitonga, quando Alcides Amaral Soares era criança. Não havia escapatória. Com 11 anos, ele foi incentivado a enfrentar o mar e ajudar a tirar dele o sustento da casa junto com seus 14 irmãos. O aprendizado envolveu outros afazeres comuns do ofício, como a confecção da rede de pesca. Lições que Alcides, hoje com 50 anos, tomou do pai, que só se aposentou da pescaria aos 70.

Alcides pesca na Baía da Babitonga desde os 11 anos

Esta rede de 400 metros leva de cinco a seis meses para ficar pronta. Toda feita a mão e dura até dez anos, muito mais do que aquelas feitas na máquina — explica Alcides, que carrega no sobrenome duas das primeiras famílias a se estabelecerem na região.

Sem perspectivas de outra atividade na comunidade, os saberes relacionados à pesca foram passados de geração para geração, envolvendo homens e mulheres. Alcides conta que as irmãs foram criadas em torno da coleta do marisco, ostra e bacucu.

Morador do Morro do Amaral mostra a tarrafa de 400 metros feita a mão

Quando outras oportunidades bateram à porta da comunidade, o duro ofício, tão fundamental na infância de Alcides, passou a ser uma rara opção. Tanto que Alcides não conseguiu repassar a nenhum dos herdeiros os ensinamentos que recebeu de seu pai. Os três filhos continuam morando no Morro do Amaral, mas batem cartão em indústrias da cidade, e o próprio pai lamenta não ter também um espaço entre os trabalhadores de carteira assinada, condição que o tiraria da instabilidade da pesca.

— Sem estudo, eles não aceitam. Eu bem que queria ir pra indústria — afirma.

Se, por um lado, o conhecimento em torno da pesca no Morro do Amaral quase não consegue mais competir com o trabalho formal, outros saberes têm meios diversos de serem compartilhados. Em 2009, um projeto liderado por alunas e professoras de arquitetura da Sociesc deu visibilidade às receitas típicas da cozinha dos moradores da comunidade. O passo a passo de 12 pratos, que têm como base os frutos do mar, como o camarão no feijão, foram impressos em cartões postais.

Camarão no feijão é uma das receitas preparadas pelas famílias da região

O projeto Sabor da Cultura surgiu da vontade das pesquisadoras de reforçar a identidade e mostrar o quanto a culinária é importante para a cultura local.