Dos poucos divertimentos que João Antônio Schmitz, 82 anos, tinha na infância, a visita de grupos de terno de reis certamente era o preferido. O catarinense de Biguaçu cresceu recebendo músicos em casa às vésperas do Natal, experiência que o fez trazer a tradição para Joinville. Ele mudou-se na década de 1970 e, há 38 anos, tem no terno de reis uma ligação maior do que a memória. Ele é protagonista do próprio grupo e conseguiu envolver filhos e netos na cantoria.
Hoje, sete integrantes da família de João formam o grupo Estrela Guia, com quatro CDs gravados e a maioria das músicas escritas pelo marceneiro aposentado. O envolvimento com o terno de reis fez com que quase todos os Schmitz aprendessem algum instrumento, incentivados por seu João, que tirou do violão quase 30 composições.
Vestidos com um uniforme simples, os integrantes da família visitam as casas e começam a cantar do lado de fora até serem convidados a entrar, diferentemente do terno de reis de outras regiões do País, em que um grande número de músicos desfilam fantasiados pelas ruas entoando os cantos de Natal. A diferença também está na duração das canções. Enquanto, para alguns lugares, o terno de reis é embalado com uma única e longa canção, em Santa Catarina, o repertório é maior e com variedade de melodias.
Chegamos quietinhos, quando as pessoas já estão dormindo, e fazemos a surpresa. A visita é sempre encomendada e dedicada a alguém. Vamos cantar para quem quer ouvir.
Os pedidos começam a surgir no início de dezembro, e o grupo chega a visitar até dez casas em uma única noite. A recepção é sempre a mesma: café com bolachinhas decoradas e muita emoção.
Temos três principais objetivos: perpetuar a cultura, transmitir alegria e cultivar amizades. Acho que conseguimos cumprir todos eles comenta o músico.
A primeira gravação do Estrela Guia veio em 1999, seguidos de outros CDs lançados com o apoio de editais de cultura. O repertório fez com que o grupo virasse referência no Estado: hoje, outros grupos de terno de reis cantam as canções feitas por seu João.
Para aprender o segredo da pureza e do sabor da cachaça vendida no restaurante Max Moppi, em Pirabeiraba, é preciso entender de química. Ou ser um dos descendentes da família de Max Lütke. A receita da bebida que atravessa cinco gerações é continuada por Max Eugênio Lütke, 33 anos, e segue o mesmo rigor de preparação há mais de cem anos.
Max Eugênio é tataraneto do pioneiro na fabricação da bebida na família e assumiu a produção artesanal da cachaça depois que seu pai, Norberto Lütke, faleceu, em maio de 2011. Dos filhos de Norberto, apenas Max se interessou pela produção, ainda que tarde. As duas irmãs ajudam no restaurante e o irmão trabalha com a plantação de bananas.
Só fui me dedicar ao alambique depois dos 18 anos, quando saí para trabalhar na indústria e acabei voltando lembra o herdeiro.
O modo artesanal com que a cachaça é produzida torna o sabor o seu principal chamariz. Sem adição de produtos químicos para acelerar o processo de fermentação, a bebida extraída da cana de açúcar é fabricada com toda a calma e em pequenas quantidades. O cuidado começa ainda na plantação da cana, que é feita na propriedade dos Lütke e garante que haja produção da bebida o ano todo. O local onde são armazenados os barris com o líquido é invadido pelo cheiro da cana. Lá, alguns litros do produto chegam a descansar de sete a oito anos. As cachaças mais brancas ficam "dormindo" por somente um ano.
O tempo no barril é que vai influenciar no sabor, se vai ficar com menos ou mais sabor do carvalho explica Max Eugênio.
Como a produção é pequena e liderada apenas por Max ele ainda não tem filhos para repassar a tradição familiar , o alambique produz apenas de 15 a 20 mil litros anuais. Além da cachaça pura, da fabricação também saem os licores artesanais de frutas.