As folhagens por trás da cerca quase encobrem a fachada da "casinha" de dona Erna, 72 anos, e seu Egon Pries, 73. É fácil passar pela Estrada Quiriri sem se dar conta do que está escondido pelos ramos. A paisagem rural, com os belos morros ao fundo, também pode distrair o olhar. Mas para encontrar uma das preciosidades em enxaimel da Estrada Quiriri, no distrito de Pirabeiraba, zona Norte de Joinville, é só perguntar ao primeiro vizinho que avistar.
Famosa na região, a herança da família Schwisky tem todas as características originais mantidas. A varandinha onde o sol bate pela manhã é ladeada por uma cerca de ripas cuidadosamente colocadas. O telhado quase encobre as paredes frontais, superprotegendo a estrutura. Na fachada, os tijolos, à vista, formam mosaicos, caprichosamente encaixados horizontal e verticalmente. As diferentes tonalidades da alvenaria valorizam a geometria.
É assim desde que dona Erna nasceu. A concepção de lar dela sempre foi o aconchego do quarto e sala frontais, cozinha e sótão da propriedade levantada por vontade de seu avô João. Erna nunca soube em qual ano ou por quais circunstâncias vieram parar na região.
– Meus pais nunca foram de falar muito do passado para a gente. Talvez porque nunca perguntei – conta, com simpatia, a herdeira.
Protegida pelo tombamento estadual, por meio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), a casa foi restaurada há 26 anos com recursos do Iphan. Hoje, ela conta com uma estrutura nova em alvenaria em anexo, além de três ranchos. A propriedade é produtiva e mantém a família em atividade agrícola.
Na esquina de uma via rápida, no extremo inverso da cidade, outro exemplar corre o risco de escapar incólume. A recompensa pela parada na extensa rua Santa Catarina é o esmero dos proprietários Valtraut e Claudio Wolfgramm, que começa no jardim de grama e plantas bem aparadas e passam pela varanda onde os bancos são convidativos ao descanso. As telhas, de tão limpas, parecem recém-trocadas.
A casa em enxaimel de nº 5.718 do bairro Profipo recebe cuidado como se fosse um projeto familiar. Mas, na verdade, não é. O imóvel foi comprado da família Norwick pelo avô de Claudio antes mesmo de ele nascer e já está na terceira geração dos Wolfgramm. E se depender dos filhos, Valtraut afirma que deve continuar por algumas décadas entre os herdeiros.
– É uma casa tão bem-feita, que é fresca no verão e acolhedora no inverno. Aqui não temos nem ar-condicionado – orgulha-se o proprietário.
Para Claudio, a casa em enxaimel onde cresceu e criou os filhos sempre foi como outra qualquer. A importância histórica só foi revelada ao herdeiro quando a família recebeu uma carta da Prefeitura, em que estava documentado o interesse do município por sua preservação.