Encontrar um comércio de medicamentos na rua do Príncipe é tarefa fácil. Às vezes localizadas uma ao lado da outra, as grandes redes de farmácias foram ocupando boa parte da via nos últimos anos, cenário bem diferente do encontrado no início do século 20, quando Eduardo Augusto Gonçalves e Sérgio Vieira se aventuraram no ramo. Eles foram os responsáveis pelas construções que hoje nos remetem ao passado deste tipo de comércio na cidade.
Por mais de 80 anos, a esquina da rua das Palmeiras foi referência para a compra de medicamentos e, até mesmo, para uma visitinha à balança. A Farmácia Minâncora foi o destino de gerações de famílias jonvilenses até 2012, quando encerrou suas atividades motivada pela concorrência com grandes redes farmacêuticas. Os balcões, prateleiras e a balança, todos originais e na cor verde, já não ocupam o espaço, nem os detalhes arquitetônicos que eram mantidos e que fizeram dele um patrimônio histórico de Joinville, reconhecimento firmado com o tombamento da Fundação Catarinense de Cultura (FCC) em 2001.
No ano passado, o local passou por mudanças para acomodar um novo ramo do comércio, deixando a coordenação de patrimônio da Fundação Cultural de Joinville em alerta. A propriedade está em inventário após o falecimento da Dona Lady, última herdeira do português Eduardo Augusto Gonçalves, criador da marca Minâncora. O novo inquilino procurou recuperar paredes e gesso que estavam em péssimo estado de conservação, mas sem autorização da FCC, o que acarretou em uma notificação de embargo e poderá se transformar em multa, ainda não definida.
Ainda estamos aguardando uma posição de Florianópolis (via FCC). Temos interesse em cuidar deste patrimônio, pintá-lo, mas necessitamos de autorização comenta o empresário Edemar Minatto, que acredita que não precisará reverter as alterações não autorizadas.
A diretoria de preservação do patrimônio cultural da Fundação Catarinense de Cultura agendou uma visita ao imóvel nesta semana para inspeção e reunião com proprietário e locatário para decidir medidas compensatórias para o dano já provocado.
O imóvel projetado pelo arquiteto Max Keller foi construído em duas etapas. A primeira ocorreu em 1929 e a segunda, três anos depois. Além de comércio, o local foi residência do farmacêutico Eduardo, da esposa e dos filhos, além de ser um dos primeiros imóveis na cidade a possuir laje de concreto.
Apesar de emprestar o sobrenome para a fachada de número 685, Sérgio Vieira não foi o farmacêutico que mais tempo atendeu no endereço. Inaugurado em 1920, o imóvel que ainda guarda a placa da Farmácia Vieira seguiu seu ofício original até os anos 1980 nas mãos da família Silva. Hoje, a fachada bicolor dá entrada a três lojas diferentes.
Uma das herdeiras do prédio, Zuleica da Silva Berndt é filha de Euclides Pereira da Silva, paranaense que mudou-se para Joinville há mais de 70 anos.
Meus tios já moravam em Joinville quando avisaram meu pai de que a farmácia estava à venda. Ele se mudou de Rio Negro para tocar o negócio e aqui criou os quatro filhos conta Zuleica.
Euclides comprou a farmácia, mas continuou como inquilino do imóvel até a morte de Sérgio Vieira, por volta de 1973, quando adquiriu definitivamente a propriedade. Três anos depois, o farmacêutico também faleceu e um dos filhos gerenciou a loja por alguns anos.
Eu nasci, literalmente, na farmácia. Não havia maternidade em Joinville naquele época lembra a herdeira, hoje com 67 anos.
Zuleica já teve o sonho de transformar a antiga farmácia em hotel e galeria de lojas. No entanto, ela acredita que as restrições impostas ao imóvel, devido ao tombamento, limitam seus projetos.
Meu maior aborrecimento é não poder abrir um acesso ao terreno dos fundos desabafa.