Antes de ser comprado pela Prefeitura de Joinville e ser transformado em parque, a área da Caieira da lagoa do Saguaçu foi o lar da família Saidock. Esperança, 62 anos, e Ladislau, 74, cuidaram durante 18 anos das terras, como caseiros contratados pela Fiação Joinvilense S.A, última proprietária do terreno antes de o local virar parque. Mais do que ninguém, eles reconhecem o valor daquelas terras onde criaram os três filhos.
Era um paraíso. Fomos muito felizes lá conta dona Esperança, ao relembrar, por fotografias, das belezas naturais.
A família deixou a Caieira em 2003, três meses antes do parque ser inaugurado. O casal vendeu uma casa que comprou próxima da região e se mudou para São Francisco do Sul. Entre as lembranças de seu Ladislau, mais conhecido como Vadeco, está a corrida para expulsar os constantes ladrões de palmitos que invadiam a propriedade. A área supria quase todas as necessidades de alimentação da família. Pomares carregados, uma lagoa propícia para a pesca, os caranguejos do mangue e as galinhas e o gado criados na propriedade eram garantia de fartura na mesa dos Saidock e, por vezes, dos vizinhos.
Mas nem sempre o local foi considerado um paraíso. Vadeco conheceu a Caieira na década de 1960, quando morava em São José dos Pinhais, no Paraná, e vinha regularmente a Joinville pescar com os amigos na lagoa do Saguaçu. Ele lembra que o acesso ao local não era dos mais fáceis: até para chegar ao bairro era preciso enfrentar muita lama _ o Adhemar Garcia só foi criado oficialmente em 1993, depois do crescimento do conjunto habitacional de mesmo nome. Vadeco namorou o lugar por anos até ser convidado a ser o responsável por cuidá-lo.
Nos últimos anos vivendo na Caieira, Vadeco ainda ajudou a equipe do Museu de Sambaqui não só com informações, mas também colocou a mão na massa, auxiliando nas escavações arqueológicas onde foram encontrados os registros históricos. Às vezes, a família vai visitar a antiga moradia e rever os amigos do bairro, mas as condições atuais da Caieira fazem doer o peito dos ex-caseiros.
Na minha época, a Caieira era uma relíquia compara o aposentado.