Vale Polonês

TRAÇOS DA POLÔNIA NO VALE

Pela curvilínea estrada Geral Treze de Maio Alto, em Blumenau, um homem de chapéu e cabelos brancos irregulares pedala tranquilamente enquanto fuma um cigarro de palha. A casa de Tadêus Kempczynski fica no fundo de um amplo e verde terreno, herança do avô que emigrou da Polônia para o Brasil durante a Primeira Guerra Mundial, marcando a chegada da família ao solo brasileiro.

 

Além dos traços e marcas no rosto de 64 anos, Tadêus carrega na personalidade a resiliência polonesa. Orgulha-se em dizer que só passou por atendimento médico quando se feriu gravemente em uma queda de bicicleta. A televisão e a energia elétrica só chegaram ao lar dos Kempczynski, ali na Vila Itoupava, há pouco mais de sete anos. O estilo de vida um tanto rústico é praticamente o mesmo de quando o primeiro da família fixou residência na comunidade há quase um século.

 

Em casa, Tadêus, Ana, 47, mulher tímida de bochechas rosadas, e os seis filhos (Fabiana, Carlinhos, Roseli, Bernardina, Verônica e Bernardo) só conversam em polonês. As palavras soam de forma natural e ritmada, mas com consoantes demais para ouvidos brasileiros. Os filhos aprenderam o português no colégio, mas as orações no altar de casa repleto de santos e com a imagem do polonês mais célebre – papa João Paulo II – são na língua tenra.

 

– Tentamos respeitar a língua (polonês) e incentivar que seja preservada. Assim como é importante lecionar o português, não podemos deixar de lado as origens destas crianças – reforça Veleda Siewederdt Funke, diretora da Escola Municipal Carlos Manske, onde estuda a filha mais nova de Tadêus e onde parte dos alunos chega falando apenas polonês.

 

A unidade atende 14 alunos de diferentes idades, todos integrantes da comunidade polonesa de 220 moradores que habitam o local quase escondido, a 50 quilômetros do Centro.

Na vila famosa pelas tradições alemãs, 220 moradores da comunidade Treze de Maio Alto mantêm vivas as tradições
 dos primeiros poloneses que
chegaram a Blumenau em 1873

Estar os poloneses da Vila Itoupava é mergulhar em uma cultura que desembarcou entre outros imigrantes e encontrou na terra nova a esperança de sobreviver. A cada novo dia, quem se encontra pela manhã não economiza o cumprimento dzien dobry – o bom dia pronuncia-se dindóbri. A língua falada na Vila Itoupava e que sobrevive em outros municípios de Santa Catarina, além do Paraná e do Rio Grande do Sul, já não é mais ouvida na Polônia.

 

Estudiosos dos descendentes poloneses, como o jornalista Celso Deucher, destacam que muito provavelmente o polonês daqui é aquele que há mais de 100 anos era falado no país de origem.

Diante do altar com santos e a imagem do papa João Paulo II que quase todas as casas da comunidade Treze de Maio Alto preservam, as famílias rezam diariamente. A presença no culto semanal é quase obrigatória para este povo que leva o catolicismo tão a sério.

 

Na convidativa Igreja Nossa Senhora das Dores a celebração é feita apenas uma vez ao mês, mas o culto ocorre todos os domingos, às 9h. O ministro Felix Wittkowski, 69 anos, é o responsável pela cerimônia, pelo cuidado com a capela e pelas orações em polonês.

 

Com nove filhos, oito netos e dois bisnetos, durante a semana trabalha na própria terra e nos finais de semana se dedica à religião. De cabelos grisalhos escovados e com a roupa impecável, orgulha-se em preservar as tradições e em cuidar da capela.

 

– Quando tem muito brasileiro na igreja a gente reza em português, mas se a maioria é polonês optamos pela orações em polonês mesmo. A comunidade toda participa e faz coro na hora da reza. Muitos arquivos da igreja estão escritos em polonês – conta Felix.

 

A história dele com a igreja começou há seis décadas. O religioso que estudou até a 3ª série começou a ajudar o padre como coroinha aos sete anos e não parou mais. Os avós vieram da Polônia há mais de 100 anos e ele ainda lembra do terreno onde a antiga capela ficava, local onde está o cemitério. É lá que descansam os primeiros imigrantes que pisaram naquela terra.

GUARDIÃO DO CATOLICISMO

Felix Wittkowski

 

Textos: Pamyle Brugnago

pamyle.brugnago@santa.com.br

Edição: Cleisi Soares

cleisi.soares@santa.com.br

Design e edição de vídeos: Aderlani Furlanetto

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Fotos e vídeos: Gilmar de souza

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