CATARINENSES ENCONTRAM PARENTES NA POLÔNIA

A partir de documentos e viagens à Europa, Ivan Walendowski conseguiu localizar uma prima e recuperar carta enviada de Brusque

 

 

Entre fotografias de época e cópias de documentos estão cartas antigas. Amarelado pelo passar dos anos, um dos manuscritos escrito com tinta preta em alemão - o autor polonês era alfabetizado na língua germânica - há 88 anos é a relíquia que Ivan Walendowsky, 69 anos, guarda a sete chaves em Brusque. A carta atravessou gerações até chegar às mãos do brusquense. O manuscrito marca o reencontro da família que havia perdido contato ainda no início do século 19.

 

Diferente dos poloneses da localidade Treze de Maio Alto, em Blumenau, que pouco sabem sobre a história de seus imigrantes, resgatar as tradições e principalmente o contato com os parentes que ficaram na Polônia, sempre foi um desejo de Walendowsky. Os primeiros passos do reencontro ocorreram em uma das viagens do empresário a Tomaszów Mazowiecki, terra dos antepassados.

 

Em uma primeira tentativa, a recepcionista de um hotel localizou dois números de pessoas com o mesmo sobrenome dele em uma lista telefônica. Os números foram discados, a ligação completada e os telefones tocaram, mas ninguém atendeu. Em uma segunda ida à Polônia, uma prima de Ivan foi localizada. Com ela estava o símbolo do reencontro e a certeza de que a família seguia viva na terra de origem.

 

Halina Walendowska (a letra A é adicionada ao final do sobrenome das mulheres) perguntou de onde o suposto parente vinha e só se convenceu depois de escutar a cidade de origem. Depois disso, aceitou mostrar a carta enviada por um dos Walendowsky direto do Brasil aos parentes poloneses. No topo, a origem: Brusque, 5 de janeiro de 1926.

 

 

 

 

Antes ainda da chegada da família Walendowsky a Brusque, a cidade recebeu outras levas de imigrantes da Polônia. De acordo com o pesquisador da temática polonesa em Santa Catarina Nazareno Angulski o país acolheu muitos poloneses ao longo dos anos, mas o início da imigração ao Brasil, em 25 agosto de 1869, começou oficialmente por Brusque. Um grupo de 16 famílias desembarcou no porto de Itajaí vindo da aldeia de Siolkowice, próximo à Opole, região que se encontrava sob o domínio prussiano.

 

Um registro de batismo resgatado pelo historiador Celso Deucher no livro Brusque Polonesa marca a data exata da chegada deste grupo organizado de poloneses ao Vale do Itajaí dando início à saga que traria ao município o terceiro grupo étnico brusquense mais numeroso, atrás de alemães e italianos.

 

“No dia 25 de agosto de 1869, batizei e pus os santos óleos ao inocente Estevão Sieniovski, nascido no dia 3 de julho de 1869, em o mar, filho legítimo de Thomaz Sieniovski e de Maria Kovalska, neto paterno de albano Sieniovski e Maria Bastek, neto materno de pessoas imigrantes.”

 

Trecho do registro assinado pelo então pároco de Brusque, Alberto Gattone

O registro assinado pelo  então pároco de Brusque, Alberto Francisco Gattone, comprova a história da imigração organizada de poloneses para o Brasil. O primeiro grupo com 78 imigrantes desta etnia que chegou à cidade trazia o pequeno Estevão, de 54 dias de vida.

 

– Somente três meses depois, mais precisamente no dia 12 de novembro, Estevão teria companhia de uma outra criança nascida em terras brusquenses, Izabella Kokot, que alguns consideram a primeira polonesa nascida no Brasil  – explica.

 

O especialista Angulski destaca que foram os imigrantes poloneses originários em grande parte da região de Tomaszów Mazowiecki e Lodz, importantes centros têxteis da Polônia, os responsáveis pela pioneira atividade da indústria têxtil em Brusque no final do século 19. Conhecendo bem o ofício foram eles que contribuíram de forma decisiva para que a cidade ficasse conhecida, anos mais tarde, como o berço da fiação catarinense.

 

O 25 de agosto, com base no documento resgatado por Deucher, se tornou o Dia Municipal do Imigrante Polonês. A lei foi sancionada em 24 de setembro de 2009 e a data é comemorada por todos os descendentes de Brusque e até mesmo em outras cidades catarinenses.

 

 

 

Textos: Pamyle Brugnago

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Edição: Cleisi Soares

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