A situação financeira
Divergências nas contas
Partes se contradizem ao falar sobre o saldo em caixa e a arrecadação da empresa
N
o campo financeiro, as divergências entre atuais e antigos sócios da Glória continuam. O advogado de Múcio Brandão Madureira, Alexandro Maba, questiona o faturamento da empresa. Nos cálculos dele, a companhia arrecadaria cerca de R$ 680,6 milhões por mês só com passagens pagas com o cartão Siga, valor quase cinco vezes maior que o informado por Humberto Jorge Sackl, o Betinho, que diz que o total é de R$ 150 milhões.
Maba teria chego a este valor levando em conta as linhas de responsabilidade da Glória – hoje a empresa é responsável por 66% dos quilômetros rodados na cidade; a média de passageiros que usam o transporte diariamente – cerca de 125 mil; as datas em que a passagem é cobrada integralmente, o equivalente a 25 dias úteis por mês, segundo o Consórcio Siga; e a tarifa do transporte, fixada atualmente em R$ 3,30.
Para Maba, se a empresa cumprisse em dia obrigações como o pagamento dos funcionários e demais direitos trabalhistas, a compra de combustível e a manutenção e o seguro da frota, o saldo positivo em caixa mensal deveria ser de R$ 2,8 milhões.
Por outro lado, Betinho diz que o que a Glória arrecada não é suficiente para paga as despesas. O suposto déficit na cobrança da tarifa, que segundo ele foi gerado depois de aproximadamente dois anos com o sistema operando com o valor irregular, teria gerado uma lacuna de R$ 53 milhões no caixa da empresa.
– O que acontece hoje é que a gente não consegue arrecadar o volume de dinheiro necessário pra pagar todas as despesas decorrentes do transporte. O fluxo de caixa não vem.
O saldo negativo é confirmado pelo advogado da Glória e do Consórcio Siga, Antônio Carlos Marchiori. Segundo ele, o Siga moveu no ano passado uma ação para cobrar do poder público R$ 50 milhões relativos à uma suposta defasagem da tarifa.
– É necessário um capital de giro para poder fazer frente à folha salarial, já que hoje a Glória vive uma crise muito mais financeira do que econômica ou técnica, afinal ela continua operando – explica Marchiori.
De acordo com ele, números repassados por José Eustáquio apontam que os gastos com salários dos cerca de 850 funcionários são de aproximadamente R$ 1,5 milhão por mês. Neste montante, segundo o advogado, não estão calculados valores extras, como as contribuições sociais, fundo de garantia e vale-alimentação.
– Hoje a folha de salário consome grande parte do total de arrecadação da empresa – diz.
Segundo Marchiori, além da diferença entre o atual preço da tarifa e o que, nos cálculos da empresa, seria o valor ideal, outros pontos contribuem para agravar a situação da Glória. Na opinião dele, a data-base da categoria, que vence no fim de outubro e passa a valer em novembro, não é compatível com a demanda de passageiros nos meses subsequentes, em dezembro e janeiro.
– A partir dali (novembro) operamos com um novo acordo coletivo, mas logo tem uma queda terrível de usuários, porque as pessoas vão para a praia e não tem mais escola. Apesar disso, todas as escalas são mantidas – explica.
Outro ponto que o advogado da Glória e do Siga elenca é que o 13º salário também já precisa ser pago com base no reajuste, mas a tarifa, que subsidia a receita da empresa, só é revista em fevereiro.
Tarifa ideal seria de R$ 3,56, diz Glória
Marchiori sugere que todo o sistema de transporte público em Blumenau precisa ser revisto. Para ele, o poder público deveria assumir os custos com os terminais – que custariam, ainda de acordo com ele,
R$ 250 mil por mês para o Consórcio –, rever se há mão de obra ociosa na operação, tendo em vista que hoje as linhas funcionam com o sistema de cobrança eletrônica e manual, e, por fim, subsidiar a tarifa.
O advogado da Glória alega que, com base nos dados apurados no começo de 2015, a tarifa ideal para a empresa seria de R$ 3,56. Entretanto, atualmente todo o sistema opera com a passagem a R$ 3,30.
– Essa diferença representa algo em torno de meio milhão de reais de queda de receita. O poder público amplia consideravelmente a oferta do serviço, mas não remunera adequadamente ou dá subsídio. É por isso que a Glória já não consegue mais fazer frente aos seus compromissos. Não existe fluxo de caixa compatível – argumenta, ao ressaltar que a empresa opera sem subsídios desde 2007.
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