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 | 02/04/2008 04h54min

Ex-secretário da Fatec diz que fraude no Detran teve três fases

Em depoimento a deputados, Silvestre Selhorst usou a palavra "extorsão" em vez de propina

Adriana Irion e Marciele Brum

Em cinco horas de depoimento à CPI do Detran, o ex-secretário executivo da Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência (Fatec) Silvestre Selhorst preferiu usar a palavra "extorsão" em vez de propina para definir a fraude no departamento.

A portas fechadas no plenarinho da Assembléia Legislativa, entre a noite de segunda-feira e a madrugada de ontem, Selhorst confirmou informações prestadas à Polícia Federal (PF) e deu detalhes sobre o esquema.

Aos deputados, o ex-secretário relatou o que chamou de extorsão em três momentos. Segundo Selhorst, em uma primeira fase de negociações, quando houve a rescisão do contrato da Fatec com o Detran, já estaria acertada a contratação da Fundação para o Desenvolvimento e o Aperfeiçoamento da Educação e da Cultura (Fundae).

O contrato firmado com a Fundae, porém, não era publicado no Diário Oficial, disse o indiciado. Diante da demora, o ex-secretário da Fatec foi informado por um sócio da Pensant Consultores de que era necessário garantir o pagamento de R$ 320 mil mensais de propina durante a vigência do contrato para garantir a publicação.

No momento em que o documento foi publicado, imaginou que o valor tinha sido acertado. Garantiu que a antiga cúpula do Detran tinha conhecimento das tratativas.

Fraga fazia forte pressão em
favor de Ferst, disse Selhorst


No período de transição entre as fundações, segundo Selhorst, um sócio da Pensant lhe pediu que conversasse com o suposto lobista Lair Ferst, descontente com a exclusão do contrato de duas empresas representadas por ele.

Em encontro no escritório de Selhorst, em Santa Maria, Ferst exigiu que as empresas fossem reintegradas ao esquema. Segundo o ex-secretário da Fatec, Ferst dizia:

— Não quero sair fora. Não posso ter prejuízo.

Quando o ex-secretário relatou que era impossível recontratar as empresas ligadas a Ferst, o suposto lobista passou a cobrar uma compensação: aumentar a propina mensal para R$ 380 mil — dos quais ele receberia R$ 60 mil "para não ter prejuízo". Essa teria sido a segunda fase da extorsão.

Nesse período, o secretário de governo de Canoas, Francisco Fraga, faria forte pressão em favor de Ferst e usava o nome do governo do Estado em reuniões. Instado por deputados de oposição a esclarecer a quem se referia, Selhorst afirmou que entendia o governo como sendo o Detran. Além disso, acrescentou que a governadora Yeda Crusius nunca foi citada por Fraga.

Para ex-dirigente da Fatec,
PF superestimou valores


Conforme Selhorst, em uma terceira fase, quando a Fundae decidiu não utilizar serviços terceirizados de advocacia, foi exigido novo aumento na propina, para R$ 450 mil mensais. O objetivo seria compensar com cerca de R$ 70 mil outras empresas excluídas do esquema.

De acordo com o depoente, o valor foi definido em reunião entre Fraga, Selhorst, Fernandes, João Batista Hoffmeister e o ex-presidente do Detran Flavio Vaz Netto, em Porto Alegre.

Conforme Selhorst, houve apenas o pagamento de parte da primeira parcela da propina, cerca de R$ 175 mil, valor exigido com urgência por um dos integrantes do esquema. Além disso, ele disse que a PF deve ter se equivocado porque o valor do desvio seria inferior a R$ 40 milhões, valor em tese superestimado pelos federais.

 
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