| 01/04/2008 02h45min
Amparado por uma liminar que lhe assegurava o direito de silenciar diante de perguntas dos deputados para não se auto-incriminar, o ex-secretário executivo da Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência (Fatec) Silvestre Selhorst surpreendeu os integrantes da CPI do Detran na noite desta segunda-feira.
— Ele está falando e muito — disse um deputado que deixou a sala da comissão.
O depoimento de Selhorst, que se iniciou às 19h30min e terminou por volta da 0h30min, foi definido como "uma bomba" e "muito impactante" por alguns dos que o assistiram. Com tom de fala tranqüilo, o ex-secretário executivo da Fatec, que pediu proteção à Assembléia antes de depor, não só confirmou o depoimento que dera à Operação Rodin em novembro do ano passado, ao ser preso, como esclareceu pontos que haviam suscitado dúvidas de deputados.
Como alto dirigente da Fatec, Selhorst tinha acesso a detalhes da negociação que levou à assinatura de contrato de prestação de serviços
entre a fundação e o Detran. Indiciado
no inquérito da Operação Rodin, que apurou fraude de mais de R$ 40 milhões contra os cofres do Estado, ele disse em depoimento aos federais que a fundação subcontratava empresas que serviam a um esquema de recolhimento e pagamento de propina.
Ainda segundo Selhorst à PF, a fraude era de conhecimento da cúpula do Detran — especialmente dos ex-presidentes Carlos Ubiratan dos Santos e Flavio Vaz Netto. O ex-secretário também confirmou no inquérito que, em abril de 2007, a mudança de fundação — da Fatec para a Fundação para o Desenvolvimento e o Aperfeiçoamento da Educação e da Cultura (Fundae) — serviu para alijar parte das empresas e redistribuir o resultado do ilícito.
— O depoimento de Selhorst derruba o que Ubiratan e Vaz Netto haviam dito à CPI — disse um assessor de bancada presente à sessão.
O interesse pela fala do ex-secretário executivo da Fatec era tanto que os parlamentares não saíram nem para lanchar. Por pelo menos três vezes, lanches
foram encaminhados ao plenarinho.
— Cada vez me convenço mais de que estamos diante de um dos maiores esquemas de roubo organizado a partir do aparelho estatal para lesar sociedade — afirmou o deputado Elvino Bohn Gass (PT), ao deixar o plenarinho, às 22h30min.
— O depoimento está sendo de grande valia, está acrescentando, mas não posso revelar detalhes do teor — afirmou o deputado Gilberto Capoani (PMDB).
O medo de que possíveis vazamentos levassem à responsabilização de membros da CPI fez com que cada atitude fosse analisada com a assessoria jurídica da comissão. Em determinado momento, havia divergência sobre o que poderia ou não ser dito por quem estava na sessão.
O assessor jurídico da CPI, Ricardo Breier, garantia que nada podia ser revelado. Enquanto outros advogados envolvidos com a comissão acreditavam que o ato de confirmar se Selhorst estava ou não repetindo a confissão não afrontaria a decisão judicial. Na dúvida, a regra era ficar calado.
Participaram
desta cobertura Adriana Irion, Adriano Barcelos,
Alexandre de Santi e Marciele Brum
Depoimento de Selhorst foi definido como "bomba" por integrantes da CPI do Detran
Foto:
Marcos Nagelstein
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