| 02/12/2009 10h40min
Na série de torcedores fanáticos pela dupla Gre-Nal, é a vez do gremista Andrei Copetti. Em 2005, depois da emocionante Batalha dos Aflitos, ele teve que dar uma bela caminhada para pagar a promessa.
Andrei é gaúcho de Cruz Alta, e, atualmente, após 20 anos de Porto Alegre (e de Estádio Olímpico) e cinco de Pato Branco, mora em Chapecó, onde, segundo ele, a nação tricolor também é maioria.
Envie a sua história também para o e-mail esportes@clicRBS.com.br, informando seu nome completo, profissão/ocupação e um telefone de contato, além de uma foto, e tenha a sua aventura publicada no clicEsportes.
Confira o relato:
Minha história, como a de muitos outros gremistas, também é sobre o
inesquecível (para mim e para o futebol brasileiro) 26 de novembro de 2005. Na época eu era professor
universitário na FADEP, na cidade de Pato Branco, cidade paranaense onde, a exemplo de muitas outras cidades de colonização gaúcha, a torcida gremista é a imensa maioria da população.
O sábado já havia começado tenso. Nas duas bancas de TCC nas quais participei pela manhã, meu nervosismo era visível. Além de ir vestido com a camisa do Grêmio, a toda hora, durante minhas arguições, dava um jeito de relacionar os assuntos tratados nos trabalhos com futebol. Após as bancas fui para a concentração, realizada no apartamento de um amigo e onde, por mais inacreditável que possa parecer, um torcedor legítimo do Náutico, nascido no Recife, professor da mesma instituição, foi educadamente desconvidado por todos, para constrangimento do anfitrião.
Após um primeiro tempo tenso, fui para a segunda etapa com a certeza que tudo ia dar certo. A certeza, é claro, se desfez com o segundo penalti e a expulsão dos jogadores do Grêmio. Como comecei a sentir taquicardia, pedi licença a todos e me retirei.
No elevador já encontrei alguns são-paulinos que tiraram sarro de minha tristeza. Fui para casa em absoluto silêncio, totalmente arrasado e, pior, ouvindo foguetes que não paravam de estourar. Ao entrar em meu apartamento, sentei no sofá da sala em frente à televisão, que me recusei a ligar, e comecei a chorar copiosamente. Minha esposa, que havia chegado da aula minutos atrás e aproveitava o silêncio para tirar um cochilo, veio até a sala para ver o que estava acontecendo. Eu estava deitado no sofá, com a camisa do Imortal enrolada na mão, aos prantos. Ela imediatamente, sem saber de nada que estava acontecendo falou "vou ligar a TV para ver o que está acontecendo, vai que o Galatto pegou o penalti".
Sem que eu concordasse (ao contrário, pedia para ela não ligar), ela ligou no momento em que o Ademar estava se preparando para a cobrança. Naquele momento prometi que, se escapassemos daquele inferno, eu iria, no outro dia, à pé até a cidade de Vitorino, distante 17 quilômetros de onde eu morava. E aí, primeiro foi o Galatto e depois o Andershow...
Para encurtar o relato (como diria o saudoso Jaime Caetano Braun), fiquei o resto do dia me recuperando do taquicardia, nem pude ir na passeata e na grande festa que a nação tricolor fazia pelas ruas. Alguns amigos passaram para dizer que iriam fazer um churrasco, mas que tínhamos de ir ao supermercado. Para não deixar de acompanhar a transmissão da Gaúcha, dei um cheque em branco para eles (minha mulher ficou furiosa, dizendo que eu nunca tinha feito isso para ela).
Fui para o churrasco, enchi a cara de cerveja e, com a cabeça que era um tambor, acordei às 6h para pagar minha promessa. Levei 3 horas até Vitorino, e era saudado pelas buzinas dos caminhões e carros que passavam por mim na estrada. Meu destino final era a igreja da cidade, onde entrei no meio da missa, com direito ao padre dar uma pequena parada e os presentes virarem para trás para olhar o que estava acontecendo. No final da missa várias pessoas vieram falar comigo, e ouvi, inclusive, que deveria ter caminhado até a cidade de Renascença, um pouco mais distante, pois o padre era tão ou mais gremista do que eu, e, aí sim, era capaz de ele suspender a missa para comemorarmos a Batalha dos Aflitos.
Minha esposa foi me buscar na cidade vizinha. Os pés estavam cheios de bolhas, mas a missão estava cumprida. Essa é apenas uma das muitas histórias que tenho para contar do meu Imortal Tricolor, e, como todas as outras, valeu a pena.
• A história de Rogério Dalcin, o primeiro da série, virou uma charge eletrônica. Confira clicando na imagem abaixo: