Uma joia da arquitetura e um templo da história. O Casarão Ottokar Doerffel, ou Castelinho, como ficou conhecido, surgiu grandioso da cabeça de seu idealizador e, ao longo dos anos, foi tendo seu valor ressignificado. De residência do imigrante alemão, a construção se tornou moradia de arte e hoje é reconhecida como exemplar único da arquitetura no País.
Justamente por ser uma das construções mais antigas da cidade o Museu de Imigração e Colonização, por exemplo, construído para ser sede da Colônia Dona Francisca, é de 1866 , a casa da rua Jaraguá, esquina com a 15 de Novembro, sofre com as mazelas do tempo. As interferências dos anos de uso resultaram em quase três anos de isolamento e o péssimo estado da cobertura, ao fechamento do local em agosto de 2011.
Foram abertos pelo menos três editais de reforma, sem que empresas se interessassem pela empreitada, situação só resolvida no fim do ano passado.
Algumas telhas precisaram ser substituídas e as calhas, refeitas, solução encontrada pela Fundação Cultural de Joinville (FCJ) para acabar com o período de reclusão da sede do Museu de Arte. A reabertura está marcada para o dia 18, quando terá novamente suas condições básicas à disposição do público.
Embora de portas abertas ainda neste mês, a casa continua com as marcas do tempo aparentes. A umidade, que consome aos poucos as paredes, é problema a ser resolvido de portas abertas, conforme promete a gerente de patrimônio, ensino e arte da FCJ, Gessônia Leite. O projeto de restauração total do espaço está nas mãos da Fundação Catarinense de Cultural (FCC), órgão responsável pelo tombo do patrimônio, e deve começar a ser posto em prática com R$ 124 mil vindos do Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultural (Simdec), em paralelo com pesquisas arqueológicas que terão acesso livre da comunidade.
O impacto maior na construção ficará centralizado nos anexos aos fundos da casa. Este ambiente será adaptado para abrigar copa e banheiros acessíveis. Assim, os funcionários administrativos do museu poderão retornar para a sede atualmente, eles trabalham na Cidade Cultural Antarctica, ao lado dos anexos de exposições.
Na reabertura, o casarão abrirá com uma exposição com fotos, documentos e objetos que remetem à história da construção e seu idealizador. Obras de 30 artistas selecionados também vão relembrar algumas das relíquias do acervo joinvilense.
É nos detalhes que o casarão surpreende. Doerffel imprimiu em sua casa uma série de símbolos que reforçam a sua crença na filosofia maçônica. Para o crítico de arte Walter de Queiroz Guerreiro, a casa foi planejada desde o fundamento para servir como uma espécie de templo pessoal. Os dois indícios principais são o formato em "L" da planta da casa e o "V" formado pela varanda. De acordo com Walter, a imagem do compasso é uma das joias móveis maçônicas e indica as possibilidades do conhecimento. O "L" da planta também faz parte do emblema maçônico, fazendo vez de esquadro, a segunda jóia, que traduz equidade, disciplina e retidão.
Esses são alguns elementos que podem ser interpretados dentro da maçonaria e fazem do casarão uma construção única. As colunas da varanda, a flor de acácia desenhada sobre a entrada e o cata-vento de galo e estrela também têm seus significados.
Fachada é cheia de detalhes simbólicos
Em Joinville, outra residência que tem símbolo maçom visível é a do artista alemão Fritz Alt. O imóvel, que virou museu com as obras dele, tem o número quatro desenhado em uma das paredes externas. O número é símbolo do criador de imagens, mas também pode ser lido dentro da maçonaria como representativo ao grau de mestre.
Para a arquitetura, o casarão é único não só em Joinville, mas no Brasil. A mistura de elementos góticos (dos arcos ogivais) e romanos (representados pelas folhas de acanto dos pilares) chega a um estilo colonial-burguês incomum em outras edificações do mesmo período. Um grupo de alunos do último ano do curso de arquitetura da Sociesc foi conquistado pelo histórico do imóvel durante a disciplina de patrimônio e restauração e iniciou, orientado pelas professoras Laura Bahia e Roberta Cristina Silva, no ano passado, o levantamento técnico das condições e estudo urbano para elaborar propostas de recuperação e ocupação.
Os futuros arquitetos encontraram um imóvel danificado pela umidade e pelas constantes adaptações do espaço para servir ao Museu de Arte, principalmente em relação à pintura as paredes receberam por muito tempo tinta plástica em vez da cal original.
São danos reversíveis, que podem ser recuperados avalia a professora Laura.
A pesquisa dos alunos também leva em consideração as intervenções que houve no casarão nos anos 1950, após a compra da família Lepper. A volumetria da cozinha e de um dos quartos aumentou, o que, segundo eles, não descaracteriza ou interfere na importância do imóvel como patrimônio.
Brenda Parucker, Fernanda Adiers, Juliana Cristina dos Santos, Sabrina Aparecida Lopes e Luiz Bruckheimer chegaram a propostas de novas ocupações, drenagem do terreno para amenizar a umidade, discussões sobre acessibilidade e soluções para manter o funcionamento do MAJ em harmonia com o patrimônio. Por enquanto, os resultados estão apenas em sala de aula.