Entrevista
Ricardo Amorim Economista, presidente da Ricam Consultoria
foco na retomada da confiança

2016 ainda será um ano difícil para o brasil. essa é a previsão do economista ricardo amorim, presidente da Ricam Consultoria, que tem foco em negócios de atuação global. no entanto, depois da recessão, a economia costuma tomar direção contrária. Assim, o crescimento voltaria à cena. Para isso, é preciso primeiro restabelecer a convicção do mercado

Em dezembro, o senhor disse acreditar que o cenário econômico poderia melhorar a partir da metade de 2016. O senhor mantém a projeção?

Até o final do ano passado, eu acreditava numa possibilidade de mudança de rumo da economia brasileira a partir de decisões do governo Dilma. A minha lógica era: enquanto a economia continuasse a piorar e a inflação e o desemprego a subir, a popularidade da presidente continuaria em queda, o que tornaria a posição política mais frágil. Em resposta a isso, eu imaginava que, em dado momento, a presidente se esforçaria em conseguir o apoio do Congresso para as únicas medidas que faltavam para retomar a confiança, que basicamente é finalizar o ajuste fiscal. O que aconteceu foi que, em resposta à queda de popularidade e a todos os outros fatores que eu comentei, a presidente optou em mudar na direção oposta.

 

Com isso a chance de retomada de confiança sumiu. Agora, a possibilidade de que haja uma reviravolta política e que eventualmente a presidente seja substituída, essa na minha opinião está longe de estar descartada. O mais provável é que essas decisões comecem a avançar agora no final do primeiro semestre. Retomando a confiança, os investimentos no Brasil vão voltar a crescer. O país continua muito atraente para o investidor estrangeiro porque tem boas perspectivas de crescimento de longo prazo, e a curto e médio prazos já tem um mercado muito grande. E, para completar, hoje está muito barato para o investidor estrangeiro. Com a crise, as empresas brasileiras baratearam o preço e, ainda por cima, o dólar e as moedas estrangeiras se valorizaram em relação ao real. Para os gringos, o Brasil ficou baratíssimo. Como diz o Abílio Diniz, ele está em liquidação. Só falta retomar a confiança.

 

O maior desafio da equipe econômica é colocar ordem nas contas públicas. O governo propõe a criação de novas taxas, como a CPMF. Aumentar a tributação é a melhor saída?

Sem dúvida nenhuma, a solução dos problemas fiscais brasileiros deveria estar concentrada em redução do tamanho do Estado e dos gastos públicos. O Brasil tem hoje a terceira maior carga tributária entre 156 países emergentes. E certamente não é o terceiro melhor em qualidade de serviços públicos. Mais do que isso, somando-se uma carga tributária que beira os 36% do PIB com um déficit que passou de 9% no ano passado, significa que 45% de tudo que é produzido no país passa pelo governo. Então aumentar impostos ou criar novas taxas é uma solução para colocar as contas públicas em ordem, mas também torna a economia brasileira mais ineficiente.

 

A solução ideal seria resolver os dois problemas. Isso passaria por redução do tamanho do Estado, que deveria significar redução de gastos em geral e provavelmente também processos de privatização, que aumentam as receitas e diminuem a máquina pública.

 

Qual é, na sua opinião, a estratégia mais adequada para retomar o caminho do crescimento?

Do ponto de vista econômico, retomar o crescimento é algo até bastante simples. Tudo que a gente precisa é voltar a combater a inflação de forma firme. E retomar a confiança colocando as contas públicas em ordem. Quando isso acontecer, a gente vai ter a retomada dos investimentos, que, por sua vez, geram empregos. A geração de emprego faz com que nós tenhamos mais consumo. Mais consumo significa mais vendas. A gente entra num circulo virtuoso.

 

Aliás, é exatamente o fato de que, em seguida a movimentos tão ruins como os que a economia brasileira vêm passando nos últimos anos, a gente tende a ter o pêndulo indo para a direção contrária e, nos anos seguintes, a recuperação tende a ser muito forte, ao contrário do que se espera hoje no Brasil. As expectativas não só para esse ano, mas para os próximos, são muito ruins. Mas a chance de uma recuperação vigorosa, quando ela começar, é muito maior do que essa letargia que é a expectativa generalizada que existe no Brasil. Nos últimos 115 anos, o Brasil nunca teve três anos seguidos de desempenho tão ruim como será de 2014 a 2016. E na sequência de movimentos de queda do PIB trianual, como a que está acontecendo agora, a gente teve o crescimento se acelerando nos anos seguintes.

 

Eu não vejo razão nenhuma para não apostar por que isso não deveria acontecer nos próximos anos. O desafio é retomar a confiança e isso exige uma solução para a crise política atual.