diversificado, o setor industrial catarinense revelou-se mais resistente à retração econômica e percebe chance de inovar
A
crise que assola o Brasil tem raízes mais antigas do que muitos pensam. Políticas econômicas e fiscais equivocadas no passado, marcadas sobretudo pela falta de incentivo à produção industrial e de enxugamento da onerosa máquina pública, criaram uma bolha que cresceu e já estava em vias de estourar antes mesmo do início do atual mandato da presidente Dilma Rousseff. Dentro desse cenário, a política foi o ingrediente que fez o caldo entornar, gerando um cenário de incertezas, falta de confiança de investidores e uma paralisia nacional ainda mais grave.
No último ano, a indústria brasileira despencou 8,3%, o pior resultado desde 2003. O setor respondeu por 608 mil dos cerca de 1,5 milhão de postos de trabalho fechados no país em 2015. Santa Catarina também sentiu os efeitos da crise, mas por aqui os números foram menos piores (veja na página ao lado). Ainda assim eles preocupam. Com exceção do setor de alimentos, todos os demais tiveram queda de produção e saldo negativo na geração de empregos.
Não há fórmula mágica para retomar o crescimento, mas algumas propostas já são debatidas e defendidas há muito tempo pela classe empresarial.
– O Brasil precisa de novos marcos regulatórios e mais segurança jurídica para que haja incentivo a investimentos em infraestrutura. Precisamos também das reformas que todos clamam: tributária, da previdência pública e de uma legislação trabalhista mais flexível. Precisamos criar um ambiente mais propício ao empreendedorismo, à competitividade e à produtividade - analisa Harry Schmelzer Jr., presidente da multinacional WEG.
Se antes as negociações desses temas já andavam a passos de tartaruga, agora a tensão do momento impede qualquer avanço nas discussões, alimentando as incertezas econômicas e políticas e afetando negativamente a confiança dos empresários e consumidores.
Sem uma sinalização positiva de Brasília, não resta outra alternativa ao setor industrial catarinense a não ser cuidar bem do próprio quintal. O presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Glauco José Côrte, defende que o setor não pode ficar de braços cruzados esperando decisões que venham de cima.
– Continuamos tendo vantagens competitivas, com trabalhadores qualificados, um sistema de educação muito valorizado e condições sociais equilibradas. Esta é a hora de inovar processos e produtos e buscar mais eficiência na gestão. Isso tende a fazer a diferença nos momentos de crise – avalia o presidente.
Momento de avaliação
A construção civil e o setor têxtil, que juntos totalizam 52% dos estabelecimentos e 35% dos empregos industriais no Estado, foram responsáveis por 20,2 mil das 36,3 mil vagas de emprego eliminadas na indústria catarinense em 2015. No primeiro caso, o boom do mercado há alguns anos gerou um excedente de ofertas, o que impactou nos resultados de agora.
– O momento agora é de analisar e estudar o mercado para poder avaliar novas oportunidades – sugere Altevir Baron, diretor comercial da FG Empreendimentos, que atua no setor de construção civil.
Em relação à indústria têxtil, o enxugamento se deve a dois fatores, na análise da Ulrich Kuhn, presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau (Sintex). O primeiro é uma redução da demanda, motivada pelo desaquecimento da economia.
O segundo é uma migração da chamada mão de obra intensiva para outras áreas, um movimento natural na avaliação do dirigente. Apesar de terem peso importante na economia catarinense, o setor têxtil e a construção civil não estão sozinhos. Vários outros ramos têm atuação forte por aqui. Lideranças empresariais atribuem a “maior resistência” de Santa Catarina diante da crise justamente a essa diversificação do parque industrial. Para muitos deles, este fator credita o Estado a largar na frente dos demais quando a situação da economia melhorar.
- A indústria é sólida, com atuação relevante em inúmeros segmentos.
O Estado não tem apenas um, mas quatro portos estruturados para exportação, ainda que haja espaço para melhorias relevantes de eficiência da infraestrutura portuária e dos corredores de ligação entre fontes produtivas, portos e aeroportos. Essa diversificação fortalece Santa Catarina para enfrentar situações adversas como a que vivemos – analisa Luiz Tarquinio, presidente da Tupy.
PONTOS DE
OPORTUNIDADE
PONTOS
DE ATENÇÃO
Mercado externo: o câmbio valorizado tornou as exportações muito mais vantajosas, e as vendas para fora podem ajudar a compensar as perdas do mercado doméstico.
Diversificação de mercado: indústrias precisam investir em processos, novos segmentos e prospecção de clientes para suportar a crise.
Inovação: quem otimizar processos será mais produtivo e estará em melhores condições de crescer mais quando a economia melhorar.
Olho nos desdobramentos do cenário político, que impacta diretamente na tomada de decisões do governo e, por consequência, no ânimo do mercado.
Absoluto controle de custos. Uma gestão profissional e eficiente é essencial para uma empresa se manter em tempos de crise.
Aumento de custos de produtos e matérias-primas importados.