Notícias

 | 19/12/2009 17h48min

Pavan diz que terá que provar sua honestidade

Em entrevista ao DC, vice-governador garantiu que nunca recebeu oferta de dinheiro

Ana Minosso  |  ana.minosso@diario.com.br

O vice-governador de Santa Catarina, Leonel Pavan (PSDB), acredita que o inquérito da Polícia Federal (PF) foi direcionado para investigá-lo e não apenas para apurar um crime de sonegação fiscal de combustíveis.

Do seu gabinete na residência oficial, no bairro Itaguaçu, em Florianópolis, onde tem passado os últimos dias tentando contornar a crise, Pavan garantiu que nunca recebeu oferta de dinheiro e lamentou o que considera pré-condenação e interpretação equivocada dos fatos.

Tenso e medindo as palavras, falou ao Diário Catarinese durante uma hora e 10 minutos na sexta-feira. Pela primeira vez, admitiu que poderá não tomar posse em 5 de janeiro por estar fragilizado politicamente.

— Se muitos pensam que o Pavan está ferido e não é candidato (ao governo) estão enganados. Todas as minhas vitórias foram buscadas justamente no período em que eu estava ferido.

Ele também falou sobre questões que envolvem seu nome na Operação Transparência e sua relação de amizade com o empresário Eugênio Rosa da Silva, mas negou que o tenha convidado para padrinho de casamento de seu filho.

Em um momento de descontração, disse que não entende como os empresários Marcos Pegoraro e Eugênio pagariam R$ 100 mil para não terem vantagens já que a inscrição da Arrows Petróleo do Brasil fora cancelada em março pela Fazenda.

Confira a entrevista:

DC — Que argumentos o senhor usa para rebater a denúncia do Ministério Público de violação do sigilo funcional (revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação)?

Leonel Pavan — O argumento é um só. Eu atendi esses empresários como atendo centenas de pessoas e os encaminhei ao setor competente. Quando vem pessoas para falar de educação, eu encaminho para o setor de educação, quando é saúde, para lá, quando é obras, para o Deinfra. Neste caso encaminhamos para a Secretaria da Fazenda e, todas as vezes que nos procuraram foram encaminhados para o setor competente.

DC — O senhor avisou os empresários que o Ministério Público estava investigando-os? Considera isso uma quebra de sigilo?

Pavan — Qual é a missão de um governador, de um vice-governador? Além de ajudar a governar Santa Catarina, é também atender as pessoas, dar atenção, seja de qualquer setor, isso é o mínimo que se pode fazer. O governo tem secretarias e cabem a estas mostrarem a realidade de cada fato. É o que sempre fizemos e o que sempre vamos fazer.

DC — Isso não configura advocacia administrativa (patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário)?

Pavan — Então teríamos que fechar os gabinetes do presidente, dos governadores, dos prefeitos, dos deputados. Você não resolve o assunto nos gabinetes de quem comanda. Você designa para cada setor do governo. Por isso tem secretarias. E é da essência do homem público, do político, atender as pessoas. Agora tem que ver o atendimento diferenciado do lícito e do ilícito.

DC —E como avalia a denúncia de corrupção passiva (solicitar, direta ou indiretamente vantagem indevida, para si ou para outro, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem)?

Pavan — A forma como estão colocando por indícios, por conversas de terceiros, por contatos telefônicos de terceiros, por imaginação, nós não aceitamos esse tipo de acusação. Primeiro porque as pessoas estavam buscando o não cancelamento da inscrição e eles diziam que estariam sendo prejudicados e queriam que o cancelamento não ocorresse. Como pode haver ilações sobre o assunto de vantagens oferecidas se foi cancelada a inscrição e até hoje permanece cancelada. Este é o documento, a prova, de que a inscrição foi cancelada (mostra o documento).

DC — Qual a expectativa em relação à defesa do caso?

Pavan - Só tenho duas formas de argumentar: a primeira é o documento que prova que não foi atendido o pleito. E não foi atendido não porque não quisemos, não foi atendido porque eles não conseguiram atender as exigências do governo. O outro documento é a minha palavra contra a palavra de outros.

DC — Quais as evidências que o senhor usará para mostrar que a linha de investigação do Ministério Público e da PF é equivocada?

Pavan — Eu não vou duvidar das ações, do trabalho que eles fizeram até agora. O que duvido é o que falam sobre a minha pessoa. Quando eu era deputado federal e senador no Congresso sempre defendi essas duas instituições porque são muito importantes para a democracia do país. Portanto neste episódio eu coloco um ponto de interrogação: porquê tanto tempo uma investigação em cima do Pavan? Até as pessoas que lá foram ouvidas o objetivo era "Pavan". Ora, porque a Polícia Federal neste caso está preocupada com o Pavan? Eu estava lendo algumas injustiças cometidas nesse país — longe talvez de que eu possa sofrer injustiças — como Ibsen Pinheiro, só depois de 10 anos voltou à vida pública execrado pela mídia, pela Justiça. Alceni Guerra, os proprietários da Escola Base, até uma vida se perdeu depois. Mas tem casos recentes que envolvem pessoas ligadas à Presidência e o tratamento parece ser diferenciado.

DC — O senhor se sente injustiçado com a situação?

Pavan — Estou triste por vários motivos: pelos meus amigos, pelo meu partido, por uma equipe que estava planejando um começo de ano com agenda positiva, com muita força, disposição. Outra é minha família, está sofrendo comigo. Há 12, 15 dias, todos os dias (bate repetidamente na mesa) em cima de um fato que só há indícios. A denúncia que veio aprovar o indício. Isto não quer dizer que eu seja penalizado, que já tenha sido julgado. É apenas o início de um processo em que vou ter que provar que sou honesto. Questionar o tratamento de um vice-governador e de um governador — porque eu estava muitas vezes como governador neste ano — que poderia usar minhas prerrogativas de atendimento, direito de chefe, de um atendimento às pessoas. Eu recebo de 10 a 15 pedidos por dia de agenda. Estamos com quase 300 agendas atrasadas, muitas dessas são para pleitear, para mostrar injustiças, para reivindicar, apresentar projetos e muitas são políticas. A missão de um governador, atender as pessoas.

DC — O senhor disse que precisa provar que é honesto mas isso pode demorar tempo porque a Justiça é lenta. Como fará?

Pavan — Eu espero uma decisão rápida. Sei que muitos processos demoram cinco, 10 anos, e tem milhares de processos, aí se esquece e volta tudo ao normal. Para mim não volta ao normal, eu preciso e falei ao meu advogado para que se faça rápido. Da mesma forma que fui lá (no Ministério Público) prestar o depoimento para ajudar, eu quero que o julgamento seja rápido.

DC — A "subida" do caso para o STJ, com sua posse definitiva, é vista com bons olhos ou lhe traz preocupações?

Pavan — Eu gostaria que isso fosse resolvido de imediato, não dá para deixar lá para frente. Primeiro porque em 1° de abril eu assumo o governo e, ao assumir, eu tenho foro privilegiado, vai para o STJ e pode demorar anos que é o que não queremos.

DC — O senhor teme a exposição nacional que o caso possa ter com a subida ao STJ?

Pavan — Mais do que já fui torturado, esquartejado, sangrado nesses dias não sei se acontecerá mais.

DC — Haverá mais alguma contestação à presença da PF no caso ou isso é etapa vencida?

Pavan — Agora é só na Justiça, não sei definir o que cabe ainda no caso da Polícia Federal.

DC — É possível identificar uma associação da denúncia com o processo eleitoral?

Pavan — Assim como existiram e existem alguns blogs fazendo ilações, soltando fofocas — em um deles eu estava com minha família e minha filha estava lendo e referia-se onde eu fui, a determinado momentos, e eu estava com minha família naquela hora. Pôxa vida, quanta gente coloca coisas imaginando porque alguém telefonou, porque alguém disse, porque alguém viu. Quero acreditar que isso não tenha nada a ver com a disputa eleitoral do ano que vem. Porque agir de uma forma impiedosa — e eu me refiro à exposição de mídia e às ações ocorridas no processo investigatório — pensando em uma eleição antecipada eu teria dúvida se essas pessoas teriam coragem de olhar para os olhos de seus filhos.

DC — Em algum momento o senhor temeu o fogo amigo?

Pavan — Não quero acreditar que isso possa ocorrer entre parceiros. Eu sei o quanto Luiz Henrique sofreu e quanto o Estado perdeu enquanto ele trabalha no Estado e ao mesmo tempo para mostrar que era honesto. Essa dor atingiu a todos. Cada petardo que ele recebia atingia o nosso coração. Eu tenho recebido do Luiz (Henrique) toda a solidariedade.

DC — Como avalia a solidariedade que tem recebido? Alguma surpresa em algum segmento da tríplice aliança?

Pavan — Tenho recebido solidariedade de aliados e de adversários. De fora de Santa Catarina, de políticos, de não políticos e de pessoas que sequer conheço. Quero destacar aqui a solidariedade pública do governador Luiz Henrique. Jamais poderemos imaginar que algum parceiro, principalmente da tríplice aliança pudesse fazer alguma coisa nesse sentido porque nós, todos fortes, juntos, já é uma eleição difícil. Qualquer um de nós fragilizados, perdemos. Tenho colocado o seguinte: eu forte no governo a campanha será uma eleição de morro abaixo. Nós separados e feridos é uma eleição morro acima e com picareta. Será difícil.

DC — Esse episódio tem impacto na sua pretensão de uma candidatura em 2010?

Pavan — O PSDB é um partido forte, unido, que tem consistência, temos militância, e nossos objetivos continuam. E reitero o que sempre disse: não vou buscar minha candidatura para ter poder, vamos buscar dentro de critérios. Um deles será quem tiver melhor viabilidade eleitoral, pesquisa. Sempre disse, mesmo antes desse episódio que qualquer um dos parceiros poderá ser candidato. Nós vamos buscar o nosso direito e vou exigir dos meus parceiros o respeito por mim como tenho por eles.

DC — A sua posse está mantida em 5 de janeiro e depois o senhor assume definitivamente no dia 1° de abril?

Pavan — Comentei que assumo definitivamente dia 1° (de abril), a agenda está mantida. Essa questão do dia 5 (de janeiro) nunca foi uma exigência nossa. É um desejo do governador e de uma conversa do governador e de Leonel Pavan. E o governador nunca mudou aquilo que ele sempre disse. Quero dizer os seguinte: que este episódio aqui vai me fazer com que na semana que vem eu converse com meu partido e vamos reanalisar essa questão entre assumir, estar num governo interino e estar governando sob o fio da navalha. Assumir o governo definitivamente em 1° de abril vou assumir. Esta etapa interina e que ainda está o processo em julgamento é uma questão que vou discutir com o meu partido e com Luiz Henrique. Fiz uma reflexão forte de que o Estado de Santa Catarina tem que estar acima de qualquer vaidade política, de qualquer desejo pessoal. Como não busco o poder pelo poder, mas temos a missão de completar os quatro anos como um governo em destaque no Brasil, tenho que refletir. Vou refletir. Vou conversar com o meu partido e conversar com Luiz Henrique sobre as duas fases, uma interina e a outra que vou assumir definitivamente. É um período em que milhares de pessoas estão vindo para SC, início de um ano de planejamento, de atividades, de mudanças que estamos prestes a implementar com agenda positiva que, primeiro é dar continuidade a tudo o que vem sendo feito, então tu tem que ter força para dar continuidade ao governo de Luiz Henrique e segundo é implementar as tuas ideias em um ano de período eleitoral, então você entra interinamente, no fio da navalha e, ao mesmo tempo, disputando espaço para ser candidato.

DC — E que proposta o senhor leva ao partido?

Pavan — Eu quero debater, quero estudar, assim como a gente está fazendo todos os dias com amigos, companheiros, com Vinícius Lummertz, com Dalírio Beber, discutindo projetos. Passamos ao longo desses meses com professores da ENA, com representantes do governo, com autoridades internacionais e nacionais, com equipes de governo que deram certo como Minas Gerais, em São Paulo do José Serra, do Geraldo Alckmin, buscando ideias, para dar continuidade e para dar avanço em novas metas e para projetar para ao futuro. Sou o líder do meu partido. A candidatura do Pavan não pertence mais a mim. Pertence ao meu partido, aos meus liderados, aos deputados, à executiva. Focamos a questão segurança e fomos buscar experiências internacionais e, muitas delas já estão em andamento com equipamentos de tecnologia, de ponta em Santa Catarina, coisas que vão dar certo. A saúde, tão logo depus, subi para uma audiência com o Gercino (Gomes Neto, procurador-geral de Justiça do MPE). Ele foi muito atencioso comigo. E nós não fomos discutir o assunto que eu lá estava. Fui falar com ele para juntos acharmos soluções para a área da saúde. Temos hoje filas enormes em alguns hospitais e não é porque o Estado não tem recursos, mas porque não tem profissionais. Existem profissionais que estão de licença-prêmio, licença-temporária ou férias e nós temos que substituir essas pessoas e nós pretendemos fazer um limpa-corredor, acabar com as filas, dar um choque. Ele foi receptivo nessa nossa ideia.

DC — O senhor não se sente confortável de assumir o governo interinamente?

Pavan — Eu, Leonel Pavan, tenho programas, propostas para assumir, tenho equipe, estamos prontos para assumir mas quero colocar acima da vaidade, dos projetos pessoais, das vaidades, interesse do Estado. O governador será Luiz Henrique da Silveira, eu seria interinamente, sendo que um período eu estaria, na ausência do Luiz Henrique, de férias, de licença, eu estaria interino. Temos que ver se ele pode prorrogar, vamos discutir. É uma discussão que ainda quero fazer e vou falar com Luiz Henrique, assim como ele sempre falou comigo. Sempre me procurou, seria injusto eu tomar qualquer decisão sem antes falar com meu partido e com Luiz Henrique.

DC — Se for o melhor colocado, enfrenta a eleição?

Pavan — Aliás as últimas pesquisas minhas me colocam em situação privilegiadíssima. Pesquisas recentes, mas isso não pauta a minha vida. Vamos ser pautados sobre candidatura lá na frente. A decisão de ser ou não candidato é só em junho e nós não vamos nos precipitar. Se muitos pensam que o Pavan está ferido e não é candidato estão enganados. Todas as minhas vitórias foram buscadas justamente no período em que eu estava ferido. Quero dizer: cada vez que eu fui dar um passo a mais na minha vida pública aconteceram casos inusitados. Muitas vezes denúncias e acusações feitas próximas de eu ser candidato ou ao período eleitoral, quando terminava as eleições sequer encaminhavam para a Justiça. Morriam as denúncias. No entanto em todas que foram encaminhadas fui absolvido em todas. Essas coisas têm acontecido muito em minha vida, terem mexido com os meus brios em alguns casos. Esse é um caso que não vai afetar nossas pretensões futuras.

DC — Como o senhor enfrentará o discurso dos adversários?

Pavan — Existe um negócio que a gente tem que enfrentar, são as baixarias, acusações, ilações, difamações em período eleitoral. Temos que enfrentar. Nós não estamos falando que alguém possa usar isso, mas é uma coisa que temos que enfrentar. Eu vou ter que provar. Vou mostrar à sociedade que não é a conversa de terceiros que vai me incriminar. Isso é bem longe do que algumas pessoas estão imaginando.

 

Grupo RBS  Dúvidas Frequentes | Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2010 clicRBS.com.br • Todos os direitos reservados.