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Os gaúchos que ergueram o Brasil de Bombachas estão trocando o chimarrão pelo tererê, uma bebida feita com erva-mate forte e água fria, popular entre os paraguaios e os matogrossenses. Muito embora tenha nascido no mesmo berço, entre os índios guaranis, até meia década o mate e o tererê eram símbolos de dois modos de vidas bem diferentes. O novo hábito já está próximo das barrancas do Rio Uruguai, que divide o oeste catarinense do Rio Grande do Sul. – E vai cruzar o Uruguai e entrar pelo Rio Grande – aposta João Ermelino de Mello, um gaúcho que migrou para Campo Grande (MS), onde tem semeado centros de tradições gaúchas (CTGs). Mello não sabe como o tererê se alastrou no Brasil de Bombachas. Ninguém sabe ao certo. Há uma conversa que foi entre os jovens universitários. Ele acha irrelevante saber como começou. Na sua opinião, tinha que acontecer. – O clima aqui é muito quente. Então, durante o dia, a gauchada toma tererê e, à noite ou pela manhã, quando está mais fresco, é o chimarrão – anuncia. O alastramento do hábito do tererê também tem muito a ver com a |
mudança que acontece no comportamento dos moradores da região. Em 1995, quando Zero Hora percorreu os rincões povoados pelos sulistas, o chimarrão era preservado como um símbolo de ligação com o Rio Grande do Sul. – Não deixamos de ser gaúchos por tomarmos tererê. A integração entre o chimarrão e o tererê ajuda a preservar os pilares da nossa cultura: a família, que hoje está se espalhando lá do Rio Grande do Sul até os rincões do Maranhão – afirma Valdir Zaltron, 48 anos, patrão do CTG Getúlio Dornelles Vargas, em Balsas (MA). Sempre que as famílias vêm visitar os parentes no Rio Grande do Sul, carregam o equipamento do tererê. A jovem Paula Vanessa Rohr, filha de um dos pioneiros do povoamento de São Gabriel do Oeste (MS), José Aloisio Rohr, viveu em Porto Alegre durante dois anos cursando uma pósgraduação em agronegócio. – O tererê tem a ver com o nosso clima quente. Imagine alguém tomando mate gelado no inverno de Porto Alegre – comenta a jovem. A observação de Paula é correta. Em 1995, Zero Hora percorreu 30 mil quilômetros pelo Brasil de Bombachas e o hábito de tomar tererê se limitava à população nativa. Hoje, já é possível encontrar pessoas sorvendo o mate gelado pelo oeste catarinense e paranaense. As ervateiras estão atentas ao que está acontecendo. Em Amambaí (MS), a família Soares tem uma ervateira. Eles iniciaram no ramo no Rio Grande do Sul há quase um século. Logo, conhecem o negócio, como explica Antonio Vieira Soares, que junto com um dos filhos, Joelson, administra uma ervateira. – Há até cinco anos, 70% da nossa produção era erva-mate normal, a tomada no chimarrão. Hoje, inverteu: 70% é para tererê – observa.
Muito atento ao paladar dos clientes, Joelson comenta que, diferentemente dos consumidores tradicionais do tererê, que prefere a erva esbranquiçada, os gaúchos gostam da "bem verdinha". As ervateiras gaúchas que abastecem o Brasil de Bombachas também já estão atentas à mudança de hábito. Inclusive, já é possível encontrar erva de tererê para vender à beira da BR-386, no trecho entre Fontoura Xavier e Soledade, o berço da boa erva gaúcha.
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