|
Das regiões dos países vizinhos povoadas pelas famílias gaúchas, as que se estabeleceram no Paraguai são as mais bem-sucedidas economicamente. Mas também são as que mais correm risco de perder suas posses. Ao contrário do Uruguai e da Argentina, onde muitos gaúchos entraram de maneira ilegal para ali se estabelecerem, os que rumaram para o Paraguai foram convidados pelo governo do país para implantarem as lavouras de soja. O risco de perder suas posses deve-se à insegurança jurídica, provocada pela maneira como as terras foram vendidas aos brasileiros. A maior parte dos lotes tinha dois problemas legais: eram vendidos várias vezes para pessoas diferentes e muitos deles pertenciam a comunidades indígenas, que foram simplesmente expulsas do país pelo governo. Há uma estimativa, não oficial, de que pelo menos 60% dos 400 mil brasiguaios – 33% são gaúchos – que vivem no país tenham problemas legais com escritura de terras. Mais ainda: há centenas de brasileiros que vivem há três décadas no Paraguai e ainda não conseguiram legalizar sua permanência no país.
– Esse quadro é um prato cheio para um político populista – recorda Francisco Antonio Mesomo, 62 anos, um dos líderes dos brasiguaios e pioneiro da fundação de Santa Rita, importante cidade produtora de soja no Paraguai. Por conta desse quadro, houve muitas crises entre a comunidade brasiguaia e as autoridades daquele país. A última foi em 2008, na eleição presidencial. O então candidato, ex-bispo Fernando Lugo, havia prometido na campanha distribuir aos agricultores do país as terras dos brasileiros com documentação ilegal. Eleito presidente, os partidários de Lugo montaram mais de 300 acampamentos de sem-terras pelo país a esperam as propriedades prometidas. Dezenas de famílias brasileiras, a maioria de produtores de classe média, perderam tudo o que tinham e foram expulsas.
No auge da crise, Lugo aceitou assistir a uma exposição agropecuária no Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Índio José. Ali, o presidente se reuniu com autoridades brasileiras para discutir a questão dos brasiguaios. Houve uma trégua, e os acampamentos de sem-terras desapareceram das estradas paraguaias. Mas a situação da insegurança jurídica das propriedades dos brasileiros segue inalterada. Por conta desse quadro, as propriedades desvalorizam a cada boato de que os "ilegais" vão ser expulsos. Sílvio Hammes da Veiga, 28 anos, agrônomo, diz que, por ter nascido no Paraguai e ser considerado cidadão do país, a geração dele terá mais chance de legalizar as terras. Enquanto isso não acontece, as famílias de brasiguaios continuam a deixar o Paraguai.
|