Textos: Carlos Wagner
carlos.wagner@zerohora.com.br

Fotos: Mauro Vieira
mauro.vieira@zerohora.com.br


















Basta um olhar para ver a mudança. A implantação das lavouras de arroz irrigado pelos gaúchos no Uruguai, no departamento de Cerro Largo, mudou o perfil econômico da região. Ganharam vida vilarejos abandonados como Isidoro Noblia, entre as cidades de Melo, capital de Cerro Largo, e Aceguá, na fronteira sul do Brasil. Vivem em Noblia 600 famílias. Há pouco mais de uma década, a terra era usada para a pecuária, uma atividade que gera poucos empregos. A transformação ocorrida em Noblia também foi verificada em outros lugares semelhantes do Uruguai onde se estabeleceram os arrozeiros gaúchos, explica Valmir Machado, 63 anos, um doble chapa proprietário de áreas no território uruguaio. Segundo ele, há cerca de 15 anos era possível vender um hectare no Brasil e comprar até cinco no país vizinho. Com a expansão das lavouras de arroz, o preço subiu. Mas mesmo assim, até 2005 era possível ainda adquirir propriedades. – Hoje, é impossível comprar terra porque há grandes grupos econômicos internacionais adquirindo fazendas de gado para plantar árvores e para fazer grandes lavouras de soja – diz Machado. Historicamente, o Uruguai foi uma país de grandes proprietários de terra. A presença dos arrozeiros dividiu as propriedades. O alastramento dos grandes grupos econômicos significa uma nova concentração de terra e a extinção de empreendedores como o Pedro Vicente Martini Rosso, 51 anos, de Alegrete, um dos migrantes que se estabeleceram no Uruguai. – Cheguei a Noblia em 1988 como peão de granja de arroz. Além de ser pobre, eu era um estrangeiro. O começo não foi fácil – recordou Rosso. Em menos de uma década, Rosso se tornou dono de um engenho – que beneficia o grão. O arrozeiro conta que chegou a ser procurado por um homem de negócios de Montevidéu sobre seu interesse em vender suas terras e o engenho. Não demonstrou interesse, mas ele sabe que, se comprarem as terras dos seus vizinhos, que são seus clientes para beneficiar o grão no engenho, ele fica em uma posição perigosa. – E se os engenhos de arroz fecharem, a nossa economia volta à estaca zero – comenta Lesley Caballero, 56 anos, dono da casa comercial. Caballero sabe que o fechamento de engenhos reduzirá empregos em toda a economia. Vagas que permitiram a Caballero levar de volta para casa Laura do Prado, 22 anos. Nascida em Noblia, ela trabalhava em Bagé. A exemplo do que acontece há muitos anos com os jovens uruguaios, Laura havia deixado o seu país em busca trabalho. – É bom voltar para casa – diz Laura.