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Transformaram-se em escombros centenas de serrarias que existiam instaladas nas bordas da Floresta Amazônica, na divisa de Mato Grosso com o Pará. O desaparecimento deveu-se a uma aliança involuntária entre dois extremos: a extinção nas redondezas das espécies de madeiras nobres e a aplicação das duras leis ambientais brasileiras, que dificultam o transporte de toras e proíbem a migração das serrarias para dentro da floresta. Fernando Grams, 54 anos, foi um dos poucos madeireiros estabelecidos que restaram. Conhecido como Gaúcho, ele mora em Santa Carmem, cidade de 4 mil habitantes, no Norte de Mato Grosso, que já teve mais uma centena de serrarias, das quais poucas sobraram. O município fica 50 quilômetros a leste de Sinop, o maior centro comercial da região. Em 1995, ZH esteve na região. Na época, nos finais de tarde, era difícil respirar devido à fumaça provocada pela queima dos restos de madeiras nas serrarias. Vindo do Sul, Gaúcho se estabeleceu na região no auge da exploração madeireira, no começo dos anos 70.
Na época, o ramo mais rentável de negócios era o da alimentação, porque a maioria dos víveres vinha do Paraná, e a região fervilhava de garimpeiros, madeireiros e agricultores. – Não havia muito dinheiro circulando. Então, a conta era paga em toras de madeiras, ouro dos garimpos e, até, com carne de caça – recorda. Foi por acaso que Gaúcho se tornou madeireiro. Um agricultor tinha uma dívida com ele pelo fornecimento de alimentos. Com a intenção de voltar para o Sul, o colono ofereceu um revólver calibre 38 e toras de madeira. – Aceitei o pagamento e, quando vi, estava envolvido com a serraria – conta. Pressionado por organizações nãogovernamentais, estabelecidas ao redor do mundo, no início do ano 2000, o governo federal fez sentir sua mão pesada. O aperto na fiscalização fechou centenas de serrarias: – Para legalizar a serraria e os fornecedores de toras, é uma operação complicada e cara. Muita coisa mudou. Agora, cada árvore vem com uma plaquinha que identifica a origem – explica.
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