| 27/09/2006 09h46min
Uma semana depois de ser afastado da coordenação da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, o antes poderoso presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, é uma figura quase invisível. Não circula em locais públicos, conversa apenas com alguns companheiros próximos, não fala com a imprensa. Apenas protela para depois da eleição o que os próprios petistas consideram inevitável – a perda também do comando do partido, que só não aconteceu agora porque esta é a semana da eleição.
Berzoini, 45 anos, esteve em Brasília ontem. Assessores informaram que ele viajaria à tarde mesmo para São Paulo para cuidar da campanha à Câmara dos Deputados. Berzoini está acuado desde que pessoas do partido, diretamente ligadas a ele, envolveram-se com o Dossiê Cuiabá. As evidências de que Berzoini não só sabia das negociações em torno do dossiê, mas de que estaria comandando as operações, segundo Expedito Afonso Veloso - um dos envolvidos no caso -, isolaram o presidente do PT.
Sua
situação ficou ainda mais
crítica depois que o presidente Lula afirmou, ao falar para rádios de São Paulo, na segunda-feira, que os negociadores do dossiê eram um "bando de aloprados". Veloso, ex-diretor do Banco do Brasil, ligado ao núcleo de Inteligência do PT, apontou Berzoini como chefe do bando, em entrevista ao jornal O Tempo, de Minas Gerais. Era Berzoini, conforme Veloso, quem orientava as ações de Jorge Lorenzetti, chefe do núcleo de Inteligência.
- Ele dificilmente fica na presidência do PT. Até mesmo o campo político que venceu as eleições com ele está dividido, não é homogêneo - disse um dirigente do partido ontem.
Berzoini foi eleito em outubro passado para um mandato de três anos. Substituiu José Genoino, que caiu com o escândalo do mensalão. A abreviação do mandato de Berzoini não seria apenas uma forma de livrar-se de uma figura incômoda. É bem mais do que isso, segundo um deputado:
- Ele pertence a um grupo político que se autonomizou, que age por conta,
sem ouvir as instâncias partidárias.
Berzoini repete, como a turma de Genoino e do ex-ministro José Dirceu, os mesmos cacoetes do chamado Campo Majoritário, que controla há muito tempo o partido. A essa turma são atribuídos os desmandos cometidos pela cúpula partidária. A estratégia para renovar o comando nacional seria a de levar Berzoini ao constrangimento de pedir para sair, logo depois das eleições. Grupos políticos petistas estão prontos para, encerrada a eleição, com ou sem vitória de Lula, lançar documentos com posições sobre os rumos do partido. Repete-se o que ocorreu depois da crise do mensalão, ano passado.
- O partido está incomodado com o que aconteceu - diz outro dirigente, que espera a antecipação, para o primeiro semestre de 2007, do 3º Congresso Nacional do PT, previsto para o segundo semestre.
O gaúcho Paulo Ferreira, secretário de Finanças do PT nacional, admite que o debate acontecerá, "mas na hora certa". Ferreira disse ontem, de São Paulo:
-
Este episódio vai suscitar uma reflexão, mas este
não é o momento.
O que sobrou para Berzoini no momento é brigar pela reeleição a deputado federal. Em 1988, na primeira eleição, fez 63,3 mil votos. Em 2002, conseguiu 132,1 mil. Pretendia bater o recorde do PT no país este ano.
Depois de ser ministro da Previdência e do Trabalho de Lula e de ganhar visibilidade e poder como coordenador da campanha, seu novo projeto político era chegar à presidência da Câmara.
Hoje, completa-se uma semana da queda da coordenação do projeto de reeleição. Para alguns líderes do PT, seu substituto nessa tarefa, o ex-assessor especial para Assuntos Internacionais de Lula, o gaúcho Marco Aurélio Garcia, seria um bom nome para sucedê-lo igualmente no comando do partido.
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