Itapema FM | 09/04/2013 06h02min
Três meses na estrada, acompanhada apenas pela mochila nas costas e pelas surpresas do destino. O sonho é viajar, a paixão é escrever.
Desde dezembro, Cecília Hauff Colcombet colocou os pés na estrada para finalmente viver a vida que sempre quis. A rodovia é sua guia, e as pessoas que encontra pelo caminho são seus amigos. Encontros efêmeros e momentos intensos.
Ela iniciou sua viagem ao Brasil pelo Sul. Ficou dois meses no Rio Grande do Sul e depois chegou a Santa Catarina, passando por Florianópolis e alguns dias em Joinville. Por quê?
— Porque estava no meio do caminho — brinca Cecília.
No último sábado (6), embarcou para Curitiba (PR) e de lá continua sua viagem sem destino. O medo e a insegurança de viajar sozinha estão na bagagem, mas não em quantidade suficiente para fazê-la ir mais devagar.
Cecília é de El Colorado, Formosa, na Argentina, e licenciada em Letras pela Universidad Nacional Del Nordest. Trabalhou como professora e atuou em diversas áreas da educação e em projetos de incentivo à leitura.
Mas a insatisfação com o ofício e alguns profissionais, combinados com a vontade de viajar e escrever, fizeram-na abandonar a rotina e realizar o sonho: viajar pela América Latina.
— Meu destino era viajar e não lutar contra as pessoas, ou contra o sistema — revela, com um sorriso.
As viagens são de baixo custo. Por onde passa, a argentina procura hospedar-se na casa de pessoas dispostas a ajudar, seja por meio do site Couchsurfing, rede social própria para isso, ou de indicações de conhecidos que encontra pelo caminho. Pegar caronas e fazer amizades são deleites da aventura. Aliás, as pessoas são imprescindíveis na jornada de Cecília.
— Não adianta ter as mais belas paisagens, se não tiver pessoas para conhecer.
Relato no Facebook
Durante toda a viagem, Cecília faz relatos diários na página do Facebook, a "Chica Latinoamericana". Os textos são em espanhol, embora ela já consiga falar em um português arrastado e compreende muito bem a nossa língua, que só falha entre uma palavra e outra desconhecida.
Para se manter, ela usa o dinheiro que recebeu da recisão e também confecciona livros de poesias, intitulados "Pies Alados", vendidos a R$ 8. Até agora, foram feitos 45 e para onde vai, ela leva o material.
Na lista de viagens, França, Inglaterra, Argentina, Chile, Peru, Bolívia são alguns dos países que Cecília já pisou. Agora, seu objetivo é encontrar algum lugar para se isolar e escrever seu livro, dar aulas e se manter, por cerca de um mês.
— Viajar é como um vício, é como viver num estado constante de felicidade — descreve.
No ano passado, Cecília organizou a 13ª Feira Internacional do Livro em Formosa (Argentina), sua cidade natal. O objetivo da edição era promover a interculturalidade, com foco nas tribos indígenas locais.
Lá, segundo ela, é comum às tribos terem apenas a língua falada, sem registros documentais, enquanto alguns grupos indígenas estão aprendendo o espanhol como idioma oficial e deixando a língua materna de lado.
Por isso, existe um trabalho focado na valorização da cultura indígena, na formação de professores dentro das aldeias. Cecília chegou a morar durante um ano com uma tribo.
Durante a visita a 10º Feira do Livro em Joinville, Cecília explicou que há muita semelhança nos projetos de incentivo à leitura infantil e juvenil, o que, na opinião dela, é fundamental na formação dos jovens cidadãos. Por outro lado, ela se decepcionou com a pouca oferta editorial ao público adulto, principalmente da falta de literatura.
Entre suas andanças pelas livrarias brasileiras, Cecília acha curioso o destaque que as capas dos livros recebem, ao contrário dos livros do seu país, por exemplo, que são geralmente mais simples e minimalistas. Outro ponto destacado por ela é a apreciação de crônicas, "um estilo característico brasileiro", como ela define.
A NOTÍCIA
"Viajar é como um vício, é como viver num estado constante de felicidade", descreveu.
Foto:
Diorgenes Pandini
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