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 | 14/01/2010 00h31min

Imagens mostram suposto encontro entre Pavan e Pegoraro no aeroporto

Vice-governador de Santa Catarina aparece saindo da sala de desembarque

O Diário Catarinense teve acesso às imagens que constam do inquérito da Polícia Federal sobre a investigação da Operação Transparência.

No total, são 11 imagens anexadas ao processo que mostram o suposto encontro do vice-governador Leonel Pavan (PSDB) com os empresários Marcos Pegoraro e Eugênio Silva, representantes da Arrows Petróleo do Brasil.

Segundo a PF, durante o encontro os empresários teriam repassado R$ 100 mil ao vice-governador para que ele intercedesse a favor da empresa na Secretaria da Fazenda.

De acordo com o inquérito, as imagens foram captadas pelo circuito interno de segurança do Aeroporto Hercílio Luz no dia 18 de março de 2009, entre as 21h45min e 22h15min. O relatório destaca cinco fotos.

Na primeira são identificados Pegoraro e Eugênio conversando, às 21h45min, na área externa do aeroporto. Na imagem seguinte os dois empresários aparecem, às 22h, parados em frente ao portão de desembarque. Na imagem captada às 22h06min, o vice-governador está no interior da sala de desembarque.

Dois minutos depois, Pavan aparece saindo da sala de desembarque. A quinta imagem, captada às 22h09min, mostra Pavan saindo do aeroporto acompanhado por assessores, sendo seguido por Pegoraro e Eugênio.

O inquérito informa que o encontro foi acompanhado por uma equipe da Polícia Federal, quando teria ocorrido a entrega do valor de R$ 100 mil ao vice-governador. Para a Polícia, tal constatação seria comprovada por uma conversa telefônica de Pegoraro interceptada dois dias depois, quando o mesmo afirma "que está tudo acertado com o Pavan; até porque eu já paguei".

No inquérito, consta ainda o depoimento de uma agente da PF que participou da ação no aeroporto. Ela afirma que a equipe presenciou a chegada dos dois empresários e, cerca de uma hora depois, a chegada de Pavan. O vice-governador teria cumprimentado Eugênio com um abraço efusivo e, em seguida, os três teriam saído do aeroporto e entrado em um carro de cor escura.

Relatório anexado ao inquérito informa que as interceptações telefônicas foram solicitadas à Justiça em fevereiro de 2008 para a investigação de atos de corrupção praticados por policiais rodoviários federais do Norte do Estado.

Teria sido constatada a existência de uma rede de corrupção envolvendo agentes públicos do Estado para evitar a fiscalização da entrada de caminhões carregados de álcool combustível em Santa Catarina.

Segundo o relatório, quando a investigação estava adiantada, "surgiu um fato novo que ampliou o espectro das investigações, inclusive pode alterar a competência da autoridade judicial responsável.

Tal fato novo seria a entrada do vice-governador no caso, após o cancelamento do registro estadual da Arrows. De acordo com a PF, Pavan "atuou como intermediário entre os interesses da Arrows e Fazendo".

Defesa de Pavan alega que imagens não provam nada

O advogado do vice-governador, Cláudio Gastão da Rosa Filho, afirma que as imagens do inquérito não provam nada. Ele destaca que as imagens mostram apenas Pavan desembarcando no aeroporto e outras fotos mostram apenas os empresários.

Segundo ele, não há registro dos três juntos e nem de Pavan recebendo qualquer coisa dos representantes da Arrows.

— Se houve este abraço efusivo, por que não há imagens no inquérito — questiona.

Para Gastão da Rosa, a agenda do vice-governador é pública e qualquer pessoa poderia saber que ele chegaria ao aeroporto naquele horário.

Vanderléia decide que agora não fala

A reportagem do Diário Catarinense localizou nesta quarta-feira a advogada Vanderléia Aparecida Batista, uma das denunciadas a partir da Operação Transparência, da Polícia Federal.

Apontada no inquérito como uma das pontes entre a empresa Arrows Petróleo do Brasil e o vice-governador Leonel Pavan (PSDB), ela estava em sua casa, em Camboriú. Vanderléia não quis se pronunciar e afirmou que não falaria neste momento.

A equipe do DC chegou à casa de Vanderléia por volta das 9h30min e, do portão era possível ver a porta entreaberta. Depois de tocar a campainha, a advogada apareceu alguns minutos depois.

Aparentemente recém saída do banho, Vanderléia atendeu a porta de roupão e toalha na cabeça. Questionada se gostaria de dar sua versão sobre as acusações contidas na denúncia apresentada pelo Ministério Público à Justiça, repetiu diversas vezes que "não falaria" neste momento.

A advogada, que é servidora da prefeitura de Balneário Camboriú e estava cedida a Secretaria de Desenvolvimento Regional de Itajaí, foi denunciada por advocacia administrativa por ser suspeita de utilizar das prerrogativas do seu cargo público para beneficiar uma empresa privada, no caso a Arrows.

Mas não é apenas na Justiça que Vanderléia tem problemas, ela também está respondendo processo administrativo por abandono de emprego na prefeitura de Balneário Camboriú. Segundo informações do município, Vanderléia é professora concursada da prefeitura desde 1987 e no dia 4 de julho de 2007 foi cedida à SDR de Itajaí como consultora jurídica.

A servidora foi cedida ao Estado durante a administração do ex-prefeito Rubens Spernau (PSDB). Em 19 de agosto do no passado, a atual administração, do prefeito Edson Piriquito (PMDB), revogou a cedência da servidora para o Estado e a convocou para reassumir seu posto.

Vanderléia pediu exoneração da SDR de Itajaí no dia 30 de novembro, por conta das investigações da PF, mas ela só se apresentou para a prefeitura no dia 23 de dezembro. A funcionária pediu para ser reintegrada à Secretaria de Educação e, no momento, seu pedido está sendo analisado pelo titular da pasta.

A prefeitura destaca que a sua reapresentação não a isenta do processo administrativo e que durante os dois anos que ficou afastada ela não recebeu salário da administração municipal. Ela só voltará a ter os rendimentos a partir do momento que retornar ao trabalho.

O que é a Operação Transparência

A Operação Transparência, da Polícia Federal, investigou possíveis crimes praticados por empresários e servidores públicos que tentaram resolver pendências fiscais da distribuidora de combustíveis Arrows junto à Secretaria da Fazenda.

No depoimento que prestou à Polícia Federal, Vanderléia contou que conhece Leonel Pavan desde que este foi eleito pela primeira vez prefeito de Balneário Camboriú, em 1988, e que chegou a trabalhar como sua secretária.

A sua ligação com a Arrows Petróleo do Brasil teria começado a partir do empresário Eugênio Silva, que conheceu a partir de amigos em comum.

Segundo seu relato, em janeiro de 2008 ela teria sido apresentada a Marcos Pegoraro, representante da Arrows em Santa Catarina, e em julho daquele mesmo ano, foi chamada para defender três caminhoneiros que, a serviço da empresa, foram detidos por suspeita de sonegação fiscal.

Ainda em 2008, Vanderléia teria atuado em mais dois casos de abordagem de caminhões da Arrows, também por sonegação de impostos.

No início de 2009, a Arrows teve sua autorização para emissão de notas fiscais eletrônicas cancelada. Também foi aberto processo, com prazo de 45 dias, para cancelamento da inscrição estadual da empresa. A dívida da Arrows chegava a R$ 13 milhões.

A partir daí, segundo o inquérito, Pegoraro e o empresário Eugênio Rosa da Silva — que a PF aponta como sócio oculto da filial da Arrows em SC — tentaram resolver a pendência por meio de influência política, aproximando-se do vice-governador Leonel Pavan.

Vanderléia teria sido então contratada para acompanhar o processo administrativo do cancelamento e passou a ter contatos frequentes com Pavan.

A advogada Vanderléia Aparecida Batista e o médico Armando Taranto Júnior, ambos servidores públicos, também teriam, de acordo com o inquérito, feito pressão para solucionar o problema da Arrows na Fazenda.

Em algumas conversas grampeadas, há referências a um pagamento de R$ 100 mil ao vice-governador, que ocorreria durante encontro no Aeroporto Hercílio Luz no dia 18 de março de 2009.

Neste dia, agentes da PF foram ao aeroporto e viram Pavan, após deixar a área de desembarque, abraçar "efusivamente" Eugênio, cumprimentar Pegoraro e embarcar com os dois em um veículo escuro, seguindo na direção do centro da cidade. Pavan nega que tenha recebido dinheiro.

DIÁRIO CATARINENSE
 

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