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 | 16/12/2010 08h10min

Como um torcedor do Mazembe assistiu ao jogo contra o Inter em Porto Alegre

Eric Losala nasceu na República Democrática do Congo e hoje mora na Capital

Paulo Ludwig  |  paulo.ludwig@zerohora.com.br

Porto Alegre estava vestida de vermelho na tarde de terça-feira. A cidade respirava a semifinal do Mundial de Clubes. Gremistas e colorados se dividiam entre torcida e secação. Mas no bairro Cidade Baixa, alheio a rivalidades, havia um coração que pulsava em branco e preto, no ritmo dos tambores africanos. Encravado em um mar alvi-rubro, Eric Losala, que há 23 anos nasceu na República Democrática do Congo, era a resistência do Mazembe na terra do adversário.

Torcedor fanático do clube africano e estudante de Ciências Econômicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ele jamais imaginava que um dia estaria torcendo para o seu time do coração contra uma equipe de Porto Alegre. Vencer, então, já era pedir demais.

— A coincidência de eu estar aqui no dia em que o Mazembe enfrentou o Inter é algo assustador. Olhava para os lados e só via vermelho. Sabia que a nossa chance de vitória era pequena. Mesmo assim, acompanhei a partida com muita emoção — disse.

Eric nasceu na cidade de Quinxassa, mas aos dois anos de vida mudou-se para Lubunbashi, a casa do Mazembe. Logo se apaixou pelo pelo time preto e branco e passou a seguir de perto as suas conquistas. Aos 15 anos, acompanhado dos pais, voltou para a sua cidade natal, mas a marca deixada pelo Mazembe já era irreversível.

— Costumava ir aos jogos quando morava em Lubunbashi, mas depois ficou mais difícil. Mesmo assim, não perdia um jogo do Mazembe na minha cidade. Somos o clube mais forte da África Negra — disse Eric, que dá aulas de francês em uma escola de idiomas da Capital.

A segurança para sair às ruas e assistir ao jogo decisivo contra o Inter foi conquistada com a companhia dos gremistas. A apreensão antes da partida se misturava à certeza de que ele estava adentrando o terreno inimigo. O sentimento era o mesmo lá no Congo, na família de Eric. Quando saiu o primeiro gol, o telefone tocou.

— Era o meu pai. Ele ligou muito feliz mas também preocupado comigo. Queria saber como eu estava, se eu estava seguro — contou.

A voz rouca de Eric entrega o tamanho da festa depois do segundo gol do Mazembe. Com a vitória histórica garantida, o jovem africano pode se libertar e gritar não só em nome do Mazembe, mas por todo um continente.

— Essa foi a vitória da África. Todo o continente está eufórico. Falei com amigos e parentes e eles me disseram que hoje é feriado em Lubunbashi. A festa deve estar grande por lá — lembra.

Informado que a Inter de Milão era o adversário na final, Eric pensou um pouco e emendou:

— Depois de ontem, eu acredito que podemos tudo.

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