Toda semana, o clicEsportes conversa com ex-jogadores da dupla Gre-Nal que hoje brilham em gramados distantes do Rio Grande e do Brasil. Hoje, a série mostra como está o meia Tales, ex-Inter.


No Mundial de 2006, Alexandre Pato, recém incorporado à equipe principal do Inter, comemorou gol contra o Al Ahli com a mão para o alto. Mais tarde, explicou que o gesto era uma homenagem ao seu amigo Tales, que permanecera em Porto Alegre.

Ao lado de Pato, Walter e Taison, Tales figurava na lista das grandes apostas coloradas. Dono de passe qualificado e boa visão de jogo, o campeão sul-americano sub-17 e sub-20 com o Brasil pedia passagem no time titular. Mas não era aproveitado.


Foto: Luiz Armando Vaz.

Em Portugal, quatro anos depois, o jovem se mostra magoado com o clube que o lançou à Europa no ano passado. O meia foi emprestado ao Braga no primeiro semestre de 2009 e, logo depois, em setembro, ao Sporting.

— Não há como negar nem apagar 11 anos vividos, de muito sucesso e títulos conquistados, ao longo dos quais criei um sentimento especial pelos companheiros, funcionários, clube, torcida...E é por esses amigos que eu torço sempre — afirma o jogador, hoje com 20 anos de idade. — Porém não há como esconder uma certa mágoa pela forma como as coisas aconteceram nesses últimos dois anos, como fui tratado, as oportunidades que não me foram dadas e como consideraram minha história e dedicação ao Inter.

Adaptação

Plenamente adaptado, o jogador aprecia a rotina no Sporting. Ele se diz bem acolhido na cidade de Alcochete, onde mora e onde se localiza o centro de treinamento do clube, distante 20 minutos de Lisboa.

— É uma cidade bem pequena, também banhada pelo rio Tejo, muito tranquila, aconchegante, mas perfeitamente estruturada e que dispõe de todos os serviços. Como eu sou muito reservado, bem caseiro, essa tranquilidade é ótima para mim. Estou adorando viver aqui.

A satisfação de Tales só não é maior devido a uma lesão sofrida no fim de outubro, antes que ele pudesse estrear em partida oficial. O meia sofreu um entorse no tornozelo direito. Agora treina para conquistar a titularidade em 2011.

— Como nossos treinamentos são sempre em um turno, normalmente pela manhã, dedico o período livre para ficar em casa, vendo filme ou, então, dou uma caminhada pela cidade. Vou até o calçadão na beira do rio e fico lendo um livro. O pôr-do-sol lembra bastante o de Porto Alegre. Outra coisa que gosto de fazer no tempo livre, e que é questão de subsistência quase, já que moro sozinho, é cozinhar. E tenho me virado bem até.

Diferenças culturais

Apesar da proximidade cultural com o Brasil, Tales se surpreende com os hábitos lusitanos. Principalmente com o contraste entre a educação de brasileiros e portugueses nas ruas.

— Desde o início, me chamou a atenção a questão do trânsito. Todos parecem interessados em fornecer informações na rua. Na hora de atravessar, é automático o motorista parar, independente da cor do sinal ou do local. E sem qualquer sentimento de obrigação, é realmente automático.

O meia também destaca as diferenças em expressões corriqueiras do idioma: -São coisas engraçadas. Por exemplo, "café da manhã" chamam de "pequeno almoço" e "Papai Noel" aqui é “Pai Natal”.

Essas peculiaridades culturais também são percebidas dentro de campo. Tales vê, nos jogadores europeus, uma “mentalidade tática” diferente, mais comprometida com a defesa.

— Isso já é implícito nos jogadores. No meio-campo, percebo uma outra ideia na criação de jogadas. Há pouco jogo centralizado em um meia armador, com enfiadas de bola, infiltrações ou dribles. O enfoque é muito maior nas alas do campo.

Embora não seja a sua vontade, Tales pode retornar ao Inter no próximo ano, já que o clube gaúcho detém parte de seu passe. O vínculo do atleta com o Sporting segue até a metade de 2011.

— Para o ano que vem, espero dar continuidade ao meu trabalho aqui no Sporting, aproveitar da melhor forma as oportunidades que me forem concedidas e prosseguir essa carreira aqui na Europa. Depois do empréstimo, tenho mais 6 meses a serem cumpridos com o Inter ainda.

Telefone resolve

A adaptação a Portugal é tão grande, que o jovem não tem saudade da capital gaúcha. Para amainar a falta que sente da família e dos amigos, ele conta a sua tática:

— Sempre fui muito caseiro e ligado às pessoas que amo. Mas estou muito contente aqui. Nada que um telefone, por enquanto, não resolva. Estou há muito pouco tempo aqui para ter saudade de Porto Alegre.


Tales foi apresentado em setembro no Sporting.

Com os colegas de Inter, Tales conversa pela internet. O jogador afirma que acompanha à distância os resultados dos times, desde o sub-10 ao principal.

— Fiz grandes amigos lá. Dentro do possível e da compatibilidade de horários, converso pelo msn ou por email com o pessoal com quem joguei muito tempo nas categorias de base, como o Daniel, que agora merecidamente está no Mundial, o Nathan e o Juliano, que continuam acumulando títulos no Inter B, assim como o atacante Fabinho, o auxiliar técnico do time B, Thiago Pacheco, que ficou um longo período trabalhando comigo e foi fundamental para o meu desenvolvimento nos últimos tempos aí no Inter.

Mundial de Clubes

Nesta terça-feira, Tales espera assistir ao jogo entre Inter e Mazembe, na semifinal do Mundial de Clubes. Apesar de considerar a a força do time afriano, o jogador tem palpite para a decisão:

— Como todos estamos cansado de ver todos os dias, não há mais bobo no futebol, independente da procedência do time. Mas creio numa vitória, de certa forma, tranquila do Inter nessa semifinal.

Para uma possível final, o meia também imagina uma vitória colorada. Mesmo que o adversário seja a temida Inter de Milão.

— A Inter de Milão tem uma equipe muito forte, muito competitiva, formada por grandes jogadores e acostumada a vencer, porém não vive seus melhores momentos. Penso que aí é que o Inter pode tirar proveito e, consciente e humildemente, conquistar o bicampeonato mundial.