| 05/02/2011 14h41min
O birô executivo da facção no poder no Egito, o Partido Nacional Democrata (PND), de Hosni Mubarak, demitiu-se neste sábado, anunciou a televisão estatal, no 12º dia consecutivo de manifestações, reivindicando sua demissão imediata. Em medida destinada a isolar ainda mais o presidente, o filho de Mubarak, Gamal, foi afastado da direção do PND, em benefício de Hossam Badrawi, conhecido por manter um bom relacionamento com a oposição egípcia.
"Para o secretariado-geral do partido foi nomeado Hossam Badrawi", confirmou a televisão estatal egípcia.
Nas ruas, a mobilização não enfraquece. Na Praça Tahrir, símbolo da contestação, no centro do Cairo, milhares de manifestantes gritavam "vai embora, vai embora" para Mubarak, 82 anos, que governa o Egito com mão de ferro.
Apesar do apelo na véspera de Washington para que se afaste o mais rapidamente possível, Mubarak, no entanto, não demonstrou nenhum sinal de que vá se demitir.
Agarrando-se ao poder, reuniu-se pela primeira vez com seu novo gabinete, neste sábado, depois de um gasoduto que abastece Israel e Jordânia ter sido alvo de um ataque com explosivos no Sinai egípcio, mas não está claro ainda se o ato de sabotagem está relacionado à revolta popular.
Neste sábado, o presidente reuniu-se com o primeiro-ministro Ahmad Shafic, o ministro do Petróleo, Sameh Fahmy, o governador do Banco Central, Farouk Oqda e o ministro das Finanças, Samir Radwane. Foi a primeira vez que o gabinete se reuniu desde a demissão, no dia 29 de janeiro, do antigo governo, sob pressão popular.
Para o líder do movimento de contestação Kefaya, Georges Ishaq, isso "é uma prova de que Mubarak não vai deixar o posto e quer mostrar ao povo que ainda está lá".
No Exterior, informações da imprensa indicavam várias possibilidades para garantir uma saída digna a Mubarak, depois de o presidente americano Barack Obama ter declarado que haviam começado as "discussões" para a transição política no país.
Segundo a edição deste sábado do New York Times, o novo vice-presidente egípcio, Omar Suleiman, e altos comandos militares estudam formas de limitar a autoridade do presidente Hosni Mubarak e possivelmente afastá-lo do palácio presidencial do Cairo.
Citando funcionários de alto escalão dos Estados Unidos e Egito, que preferiram não ter os nomes divulgados, o jornal diz que esses planos não visam a tirar imediatamente Mubarak da presidência. Seu objetivo seria permitir a formação de um governo de transição, chefiado por Suleiman que, por sua vez, negociaria com a oposição emendas à Constituição e outras mudanças democráticas.
O New York Times diz que entre as ideias em estudo estão a possibilidade de Mubarak transferir-se para sua residência, no balneário de Sharm el Sheikh, ou submeter-se a um check-up médico na Alemanha. Essas opções representariam para ele uma saída honrosa e não o eliminariam como ator político central, segundo o jornal.
Por sua vez, o opositor egípcio com mais visibilidade e prêmio Nobel da Paz, Mohamed El Baradei, disse desejar conversar com o Estado Maior, a fim de organizar "uma transição sem derramamento de sangue". Ele e o chefe da Liga Árabe, Amr Mussa, muito popular em seu país, não excluíram se apresentar como sucessores de Mubarak.
No Cairo, milhares de manifestantes passaram mais uma noite na Praça Tahrir, alguns em tendas, outros no chão, apesar do toque de recolher, após um dia marcado por manifestações gigantes através do país.
Na madrugada, dezenas deles procuraram impedir que os tanques do Exército deixassem a praça, temendo que militantes pró-Mubarak viessem confrontá-los. Quando ouviram os roncos dos motores, correram em direção aos veículos, sentando-se ao redor deles e suplicando aos militares para que ficassem.
Em uma enorme faixa, os manifestantes expõem suas reivindicações: saída do presidente, dissolução do Parlamento, implementação de um governo de transição e término do Estado de emergência em vigor desde 1981.
Desde quinta-feira, as manifestações ocorrem pacificamente. Os confrontos já fizeram 300 mortos e milhares de feridos, segundo a ONU, um número ainda não confirmado por outras fontes.
Na Alemanha, a secretária de Estado americana Hillary Clinton saudou a "moderação" das autoridades egípcias, na quinta-feira. Ante a situação instável, a Bolsa do Cairo, fechada desde 30 de janeiro, não reabrirá segunda-feira como o previsto.
Paralelamente, um terminal de gás, abastecendo a Jordânia, e Israel, numa outra seção, foi alvo de um ataque com explosivos no Sinai egípcio. Uma igreja de Rafah, no Sinai egípcio, estava em chamas na tarde deste sábado, segundo testemunhas, mas as causas ainda não haviam sido estabelecidas.
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