| 04/02/2011 17h53min
O governo brasileiro prepara, via Embaixada do Brasil no Egito, uma nota de protesto contra o governo do presidente egípcio, Hosni Mubarak. Na diplomacia internacional, o documento tem o valor de uma queixa formal. Nele, o embaixador do Brasil no Cairo, Cesário Melantonio Neto, vai reclamar do impedimento de um diplomata de dar assistência a brasileiros, em um hotel, e de agressões sofridas por jornalistas brasileiros no país.
O secretário-geral para Comunidades de Brasileiros no Exterior no Itamaraty, embaixador Eduardo Gradilone, disse à Agência Brasil que a nota de protesto vai mencionar que as ações, cometidas por autoridades policiais no Egito, contrariam os acordos internacionais de assistência e apoio a estrangeiros fora de seus países.
— É uma nota que será encaminhada pela Embaixada do Brasil no Egito diretamente para o Ministério das Relações Exteriores. O embaixador Cesário deve citar a inadequação do impedimento ao trabalho do diplomata na assistência consultar e a agressão aos jornalistas brasileiros — disse Gradilone.
A reação brasileira ocorre um dia depois de um diplomata ser impedido de entrar um hotel, no centro do Cairo, para dar assistência a brasileiros e também quando jornalistas do Brasil foram detidos, vendados e tiveram os equipamentos apreendidos no Egito. Os jornalistas Corban Costa, da Rádio Nacional, e Gilvan Rocha, da TV Brasil, ficaram presos por 18 horas e depois receberam ordens para deixar o país.
— O que ocorreu com os jornalistas brasileiros foi gravíssimo. Foi uma das situações mais graves dos últimos dias, por isso o Itamaraty divulgou ontem nota de imprensa sobre o episódio. Houve a detenção dos profissionais e o confisco dos equipamentos. Além deste caso, houve o impedimento ao trabalho de assistência consular — disse Gradilone.
Segundo Gradilone, ainda há cerca de 320 brasileiros no Egito. Destes, apenas 20 são turistas que estão em uma praia afastada do Cairo – centro da onda de manifestações de protestos contra Mubarak:
— Estamos fazendo o possível para ajudar a todos que nos procuram. Tivemos, como todos, dificuldades com as linhas telefônicas e a internet. Agora está mais fácil.
Paralelamente, o governo brasileiro, por meio do Itamaraty, analisa as sinalizações de reações populares na Síria, no Yêmen e Tunísia. De acordo com Gradilone, o mapeamento dos brasileiros nestas regiões está em elaboração e há uma atenção diferenciada, caso seja necessário prestar assistência, se houver ameaças nestes países.
>>>Confira a cronologia dos incidentes:
De 24 de janeiro a 3 de fevereiro:
Um homem de 50 anos toca fogo em si mesmo em frente ao Parlamento, no Cairo, numa possível reprodução do suicídio de um jovem tunisiano em meados de dezembro que desencadeou a revolta e subsequente derrubada do presidente Zine El Abidine Ben Ali. Nos dias seguintes, mais três egípcios fazem o mesmo — um deles, de 25 anos, não resiste aos ferimentos e morre.
Foto: Martin Bureau, AFP
Dia 25:
Insuflados pelo líder da oposição, Mohamed ElBaradei, milhares de pessoas tomam as ruas do Egito pedindo a renúncia do presidente do país, Hosni Mubarak. Nos confrontos com a polícia, dois manifestantes morrem em Suez e um policial é morto no Cairo.
Dia 26:
As manifestações se espalham dos grandes centros para cidades menores, aumentando em número e violência. No Cairo, um policial e um manifestante são mortos, enquanto em Suez 55 protestantes e 15 homens da força anti-motim são feridos.
Dia 27:
Diante do saldo violento, com mais um jovem morto em Sinai, a Casa Branca cobra providências do governo do Cairo para evitar os embates, enquanto a União Européia chama atenção para o direito de protestas da população.
Dia 28:
O saldo da violência chega a 13 mortos, centenas de feridos e quase mil presos. Os protestos aumentam e manifestantes tocam fogo no prédio do governo em Alexandria e na sede do Partido Democrático Nacional. Os serviços de internet são derrubados e ElBaradei diz que está pronto para liderar a transição, enquanto Mubarak impõe toque de recolher e promete reformas.
Foto: Reprodução, Egyptian TV
Dia 29:
O presidente egípcio, Hosni Mubarak, designou um vice-presidente, o chefe da inteligência Omar Suleiman, pela primeira vez em 30 anos, e um novo primeiro-ministro, ambos com cargo de general, para tentar sufocar a rebelião já deixa mais de 90 mortos.
Dia 30:
O presidente egípcio, Hosni Mubarak, visitou um centro de operações do exército e ordenou que o toque de recolher no Cairo, Alexandria e Suez seja ampliado em uma hora. O toque de recolher, instaurado na sexta-feira devido aos protestos da população para exigir a renúncia de Mubarak, foi gradualmente ampliado, mas não é respeitado pela população. Neste domingo, as autoridades egípcias ordenaram à polícia antimotins que volte a atuar em todo o país, depois de dois dias nos quais esteve virtualmente ausente, quando ocorreram diversos saques enquanto o exército lidava com uma revolta popular.
Dia 31:
O movimento contra o regime convocou uma greve geral por tempo indeterminado. Durante a manhã, a emissora estatal egípcia anunciou a formação de um novo governo no país, substituindo o governo dissolvido na sexta-feira. Na mudança mais significativa, o criticado ministro do Interior — responsável pelas forças de segurança — foi substituído.
O exército anunciou que não usará a força contra os manifestantes e declarou que considera as demandas do povo "legítimas". O último provedor de internet egípcio ainda em funcionamento, o Grupo Noor, caiu nesta segunda-feira, deixando o país sem acesso à rede.
Dia 1º:
No oitavo dia de intensos protestos anti-governamentais, mais de 1 milhão de pessoas saíram às ruas de todo país protestando contra o governo, na chamada "Marcha do Milhão". Os conflitos podem ter deixado cerca de 300 mortos, segundo a ONU. No poder desde 1981, o presidente egípcio, Hosni Mubarak, garantiu que não irá tentar a reeleição, em discurso transmitido pela emissora de TV estatal.
Dia 2:
Pela manhã, 500 partidários do presidente egípcio Hosni Mubarak se reuniram no Cairo para manifestar apoio ao governante. O vice-presidente, Omar Suleiman, pediu que manifestantes voltassem para casa devido aos confrontos violentos entre partidários e adversários do presidente. No fim da noite, o Ministério da Saúde do país confirmou três mortos e 639 feridos nos confrontos entre apoiadores e opositores do regime egípcio na Praça Tahrir. Apesar do número oficial, a rede Al Jazeera e jornais como The Guardian e El País falavam em mais de 1,5 mil feridos.
Dia 3:
No 10º dia de protestos no Egito, o presidente Hosni Mubarak, assegurou em entrevista à rede de TV americana ABC que deseja deixar o poder, mas teme o caos que pode ser criado caso o faça. Já a Coalizão Nacional pela Mudança, que reúne os principais grupos de oposição do Egito, rejeitou qualquer diálogo com o regime antes da renúncia de Mubarak. A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, pediu ao governo e à oposição que comecem "imediatamente" negociações sérias para uma transição. No acesso à ponte que leva à Praça de Tahrir, onde estão os manifestantes, foram montadas barreiras. Nas ruas de Cairo, muito civis armados.
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