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 | 04/02/2011 07h28min

Egito: Senado dos EUA pede governo interino e egípcios organizam a 'sexta-feira da partida'

Os organizadores esperam mobilizar, mais uma vez, um milhão de pessoas na tarde desta sexta-feira

O Senado americano aprovou na noite desta quinta-feira por unanimidade uma resolução que pede ao presidente Hosni Mubarak a formação de um governo interino no Egito, mas sem pedir sua renúncia. No texto, os senadores americanos pedem ao presidente egípcio de 82 anos o início imediato de uma "transição ordenada e pacífica para um sistema político democrático" por meio da transferência de poderes a um governo interino "em consulta com os líderes da oposição, da sociedade civil e do Exército egípcio".

Este governo, segundo a resolução, ficaria responsável por "fazer as reformas necessárias para celebrar este ano eleições livres, justas e confiáveis aos olhos do mundo". Um dos autores do texto, o senador democrata John Kerry, declarou antes da votação que a resolução não vinculante era deliberadamente vaga sobre o papel de Mubarak no futuro gabinete.

— Ele poderia ser parte ou não. Tudo depende do que os egípcios desejarem — disse Kerry. 

Mais manifestações nesta sexta-feira

Em meio a isso, novas manifestações estão previstas para esta sexta-feira no Cairo, convocadas pela oposição ao regime, que espera transformar a jornada no dia da saída do presidente Hosni Mubarak, após mais de 10 dias de protestos e de uma violência extrema, sem precedentes no país. O movimento é chamado de 'sexta-feira da partida'.

Os organizadores esperam mobilizar, mais uma vez, um milhão de pessoas, após a prece semanal muçulmana, no início da tarde. Segundo a jornalisa Christiane Amanpour, do canal de televisão americano ABC, o vice-presidente egípcio, Omar Suleiman, com quem conversou durante uma entrevista com Mubarak no Cairo, disse que o Exército "nunca" usaria a força contra a população.

Depois de ter rejeitado o pedido de diálogo do regime, considerado "ilegítimo", a Irmandade Muçulmana afirmou que as solicitações de conversações não vão influenciar a grandes manifestações programadas para esta sexta-feira para derrubar o regime. A oposição, também integrada por partidos laicos e movimentos surgidos da sociedade civil, como a Coalizão Nacional para a Mudança, formada ao redor do Nobel da Paz Mohamed ElBaradei, fez da saída imediata de Mubarak uma condição para negociar com o regime.

O vice-presidente Suleiman declarou que a exigência equivale a um "chamado ao caos" e pediu aos manifestantes que abandonem a Praça Tahrir, epicentro dos protestos no Cairo. Mubarak afirmou que está "cansado de ser presidente" e que gostaria de deixar o poder agora, mas que não podia tomar tal decisão pelo "temor de que o país afunde no caos", em uma entrevista Amanpour.


>>> Mosaico: os protestos no Egito em imagens:

 

>>>Confira a cronologia dos incidentes:

De 24 de janeiro a 3 de fevereiro:

Um homem de 50 anos toca fogo em si mesmo em frente ao Parlamento, no Cairo, numa possível reprodução do suicídio de um jovem tunisiano em meados de dezembro que desencadeou a revolta e subsequente derrubada do presidente Zine El Abidine Ben Ali. Nos dias seguintes, mais três egípcios fazem o mesmo — um deles, de 25 anos, não resiste aos ferimentos e morre.

 
Foto: Martin Bureau, AFP

Dia 25:

Insuflados pelo líder da oposição, Mohamed ElBaradei, milhares de pessoas tomam as ruas do Egito pedindo a renúncia do presidente do país, Hosni Mubarak. Nos confrontos com a polícia, dois manifestantes morrem em Suez e um policial é morto no Cairo.

Dia 26:

As manifestações se espalham dos grandes centros para cidades menores, aumentando em número e violência. No Cairo, um policial e um manifestante são mortos, enquanto em Suez 55 protestantes e 15 homens da força anti-motim são feridos.

Dia 27:

Diante do saldo violento, com mais um jovem morto em Sinai, a Casa Branca cobra providências do governo do Cairo para evitar os embates, enquanto a União Européia chama atenção para o direito de protestas da população.

Dia 28:

O saldo da violência chega a 13 mortos, centenas de feridos e quase mil presos. Os protestos aumentam e manifestantes tocam fogo no prédio do governo em Alexandria e na sede do Partido Democrático Nacional. Os serviços de internet são derrubados e ElBaradei diz que está pronto para liderar a transição, enquanto Mubarak impõe toque de recolher e promete reformas.


 
Foto: Reprodução, Egyptian TV

Dia 29:

O presidente egípcio, Hosni Mubarak, designou um vice-presidente, o chefe da inteligência Omar Suleiman, pela primeira vez em 30 anos, e um novo primeiro-ministro, ambos com cargo de general, para tentar sufocar a rebelião já deixa mais de 90 mortos.

Dia 30:

O presidente egípcio, Hosni Mubarak, visitou um centro de operações do exército e ordenou que o toque de recolher no Cairo, Alexandria e Suez seja ampliado em uma hora. O toque de recolher, instaurado na sexta-feira devido aos protestos da população para exigir a renúncia de Mubarak, foi gradualmente ampliado, mas não é respeitado pela população. Neste domingo, as autoridades egípcias ordenaram à polícia antimotins que volte a atuar em todo o país, depois de dois dias nos quais esteve virtualmente ausente, quando ocorreram diversos saques enquanto o exército lidava com uma revolta popular.

Dia 31:

O movimento contra o regime convocou uma greve geral por tempo indeterminado. Durante a manhã, a emissora estatal egípcia anunciou a formação de um novo governo no país, substituindo o governo dissolvido na sexta-feira. Na mudança mais significativa, o criticado ministro do Interior — responsável pelas forças de segurança — foi substituído.

O exército anunciou que não usará a força contra os manifestantes e declarou que considera as demandas do povo "legítimas". O último provedor de internet egípcio ainda em funcionamento, o Grupo Noor, caiu nesta segunda-feira, deixando o país sem acesso à rede.

Dia 1º:

No oitavo dia de intensos protestos anti-governamentais, mais de 1 milhão de pessoas saíram às ruas de todo país protestando contra o governo, na chamada "Marcha do Milhão". Os conflitos podem ter deixado cerca de 300 mortos, segundo a ONU. No poder desde 1981, o presidente egípcio, Hosni Mubarak, garantiu que não irá tentar a reeleição, em discurso transmitido pela emissora de TV estatal.

Dia 2:

Pela manhã, 500 partidários do presidente egípcio Hosni Mubarak se reuniram no Cairo para manifestar apoio ao governante. O vice-presidente, Omar Suleiman, pediu que manifestantes voltassem para casa devido aos confrontos violentos entre partidários e adversários do presidente. No fim da noite, o Ministério da Saúde do país confirmou três mortos e 639 feridos nos confrontos entre apoiadores e opositores do regime egípcio na Praça Tahrir. Apesar do número oficial, a rede Al Jazeera e jornais como The Guardian e El País falavam em mais de 1,5 mil feridos.

Dia 3:

No 10º dia de protestos no Egito, o presidente Hosni Mubarak, disse em entrevista à rede de TV americana ABC que deseja deixar o poder, mas teme o caos que pode ser criado caso o faça. Já a Coalizão Nacional pela Mudança, que reúne os principais grupos de oposição do Egito, rejeitou qualquer diálogo com o regime antes da renúncia de Mubarak. A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, pediu ao governo e à oposição que comecem "imediatamente" negociações sérias para uma transição. No acesso à ponte que leva à Praça de Tahrir, onde estão os manifestantes, foram montadas barreiras. Nas ruas de Cairo, muito civis armados.

AFP
Patrick Baz, AFP / 

Nesta tarde está prevista a 'sexta-feira da partida', nova manifestação contra Mubarak
Foto:  Patrick Baz, AFP


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