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 | 06/04/2005 15h03min

Teólogo considera remota a chance de eleição de Hummes

Padre Érico Hammes participou de entrevista online no clicRBS

Apesar da grande torcida dos brasileiros, o professor e Coordenador das Ações Comunitárias da Faculdade de Teologia da PUCRS, padre Érico Hammes, acredita que as chances de o gaúcho Dom Cláudio Hummes ser escolhido como novo Sumo Pontífice são remotas.

– As chances reais são muito poucas: de 1 para 120 – disse o doutor em Teologia durante entrevista online no clicRBS nesta quarta, dia 6.

No bate-papo com os internautas, Hammes lembrou ainda que ao longo da história tem sido dada preferência a candidatos italianos. Ele acrescentou que outros cardeais europeus também figuram com boas possibilidades.

– Há alguns nomes que estão muito em evidência. Ratzinger, por exemplo está muito em evidência, mas a meu ver tem poucas chances pela polarização que ele causa na Igreja. Pela linha muito à direita de João Paulo II. Há outro alemão, Lihmann, que seria possivelmente um bom candidato, mas é muito visado por setores mais conservadores dentro do colégio cardinalício, por ser mais liberal – disse.

O professor Érico Hammes não descarta surpresas na escolha do novo Papa.

– No Brasil, por exemplo, os outros dois são, em geral, sequer mencionados, mas eles têm uma chance também. Além disso, existe a chance mais remota de ser um cardeal não eleitor. Mas muito provavelmente o novo sairá de um dos 116 eleitores – afirmou.

Além disso, Hammes discordou da avaliação do cardeal da Costa do Margim Bernard Agre de que não há possibilidade de um negro ser escolhido

– O problema todo está na visão da pessoa que venha ser eleita. De qualquer forma, deve ter uma visão de universalidade, levando em consideração as diversas situações culturais, políticas e econômicas existentes – acrescentou.

A entrevista online foi realizada pela jornalista Maíra Kiefer e pelos usuários e monitorada por Ana Maria Acker. Todas as perguntas encaminhadas pelos internautas foram recebidas por um editor do site para avaliação. As mais relevantes foram publicadas.

Confira abaixo a íntegra:

Pergunta: O senhor acredita que Dom Cláudio Hummes tem chance real de ser escolhido como novo Papa? Ou essas especulações seriam fruto do bairrismo?
Érico Hammes: Não são especulações advindas dos bairrismos, mas as chances reais são muito poucas: de 1 para 120.

Pergunta: Essa possibilidade pequena se deve ao fato de haver maior chance de escolha de um italiano?
Érico Hammes: Seguramente. Em geral na história da Igreja tem sido dada preferência a candidatos italianos. Ademais os demais europeus estão com boas possibilidades.

Pergunta: Você acha que os católicos podem ser surpreendidos com a escolha de um papa pouco conhecido?
Érico Hammes: Penso que sim. Essa possibilidade existe. No Brasil, por exemplo, os outros dois são, em geral, sequer mencionados, mas eles têm uma chance também. Há outros, europeus, que também são pouco mencionados, mas tem chances. Além disso, existe a possibilidade mais remota de ser um cardeal não eleitor. Existe em torno de 50 cardeais que não são eleitores, mas muito provavelmente o novo sairá de um dos 116 eleitores.

Pergunta: O Conclave deve optar por um Papa mais velho para marcar um período de transição? Quais seriam os nomes mais fortes levando em conta essa opção?
Érico Hammes: Essa é uma possibilidade. Há alguns nomes que estão muito em evidência. Ratzinger, por exemplo está muito em evidência, mas a meu ver, tem poucas chances pela polarização que ele causa na Igreja, devido à linha muito à direita de João Paulo II. Isso faz com que ele não tenha uma boa aceitação real entre os demais cardeais. Ele sempre aparece ligado a resistência e a conservadorismo.

Há outro alemão, Lihmann, que seria possivelmente um bom candidato, mas é muito visado por setores mais conservadores dentro do colégio cardinalício, por ser mais liberal.

Pergunta: O que os cardeais devem levar em conta na escolha do novo Pontífice?
Érico Hammes: Uma primeira tarefa é fazer um balanço do pontificado de João Paulo II, que apresentou muitos aspectos positivos, mas tem pontos que precisam ser ajustados aos tempos atuais, como a relação com o resto da Igreja no mundo. A relação é bastante boa com a população, com a mídia, mas internamente as igrejas regionais não foram muito favorecidas. Esse é um ponto a ser levado em conta.

Uma nova realidade religiosa se apresenta no mundo. Continuar o debate com outras religiões. E, no Cristianismo, estimular mais o ecumenismo em busca de uma construção de unidade melhor da que tem sido feita até aqui.

O empenho em favor da paz e das pessoas necessitadas precisar ser igualmente compartilhado com a teologia, com a reflexão da fé e com os bispos e as autoridades das igrejas locais. Houve uma tendência nos últimos anos de restringir a reflexão teológica para o ambiente interno da igreja.

É importante as pessoas se darem conta de que o mais importante não é o papa, mas Jesus Cristo, a quem ele quis testemunhar. Nós todos temos a tarefa de sermos testemunhas de Jesus Cristo.

Pergunta: A adoração dos fiéis ao Papa como temos visto não é pecado?
Érico Hammes: Se fosse adoração, seria pecado. O que se vê muito mais é um sentimento de carinho por alguém que representou uma liderança muito grande no mundo e apareceu como alguém muito carinhoso com as pessoas. Esses gestos agora são retribuídos nesta veneração.

Pergunta: Então, um cardeal com perfil mais moderado deve ser a opção?
Érico Hammes:
Sim, um cardeal com perfil mais moderado. Imagino que sim.

Pergunta: Em entrevista à Rede Globo, Hummes deixou transparecer que o escolhido deverá rever algumas questões, especialmente em relação aos avanços tecnológicos e assuntos polêmicos. Esse tipo de posição não pode prejudicá-lo já que a tendência é escolher um Papa semelhante ao anterior? O senhor concorda com a revisão de conceitos que não afetem os dogmas?
Érico Hammes: Seguramente. Quando se fala de dogmas tem que se ter presente que os dogmas são linguagens. E, como linguagens, precisam ser compreendidos e interpretados. Eles não são um ponto final. Eles são também um ponto de partida, para se continuar a pensar.

Pergunta: Independente do novo Papa eleito, como é o procedimento que da o nome oficial ao novo Papa, por exemplo, João ou João Paulo?

Érico Hammes: Quando sai o escrutínio do qual surge o nome do Papa que obteve a maioria necessária, lhe perguntam se ele aceita. Em seguida, ele escolhe o próprio nome. A tendência é que seja escolhido um nome já utilizado no passado, com uma numeração acima. João Paulo II, por exemplo, se entendeu como continuidade de João XXIII e Paulo VI.

Pergunta: Afinal, o que influencia a escolha do Papa: a análise da conjuntura da Igreja ou a inspiração Divina?
Érico Hammes: Teologicamente é a escolha divina, ou seja, o Espírito Santo. Sociologicamente, pode admitir-se uma influência da situação da igreja. E, com isso, não há contradição com a inspiração divina, uma vez que o Papa é encarregado da Igreja dentro da realidade atual.

Pergunta: existe a possibilidade de Dom Eusébio Scheid ser o novo Papa?
Érico Hammes: A possibilidade existe, mesmo que remota.

Pergunta: O que é preciso para se tornar um cardeal?
Érico Hammes: Ser escolhido, em primeiro lugar, pelo Papa. Entende-se que sejam pessoas de confiança do Papa para o governo da Igreja. Supõe-se também, hoje, pelo menos, uma certa vivência cristã e firmeza na fé. Além disso, observas-se, de uns 40 anos para cá, a preocupação em escolher representantes do mundo inteiro. Não só de alguns países.

Pergunta: A Teologia da Libertação se converteu numa dor de cabeça para o papa João Paulo II no Brasil. Bispos militantes teriam sido substituídos por prelados mais conservadores. É verdade que o Papa preferiu favorecer movimentos conservadores como o Opus Dei ou os Carismáticos?
Érico Hammes: É certo que não favoreceu a Teologia da Libertação. Os movimentos conservadores tiveram, em todos os casos, muita presença na Igreja nos últimos anos.

Pergunta: Há diferença entre veneração e adoração? Qual o limite entre a veneração e a observação do exemplo?
Érico Hammes: A veneração é exatamente a observação do exemplo, considerando-se que alguém é exemplar. A adoração, por sua vez, é um ato de exclusividade para com Deus. Isso significa, fundamentalmente, entregar a própria vida e reconhecer a Deus como o Único Absoluto.

Pergunta: Em relação aos dogmas, a interpretação durante esse pontificado foi mais conservadora?
Érico Hammes: Houve, sim, uma tendência de interpretação mais conservadora. Essa tendência significa uma linha teológica chamada essencialista. Menos existencial. Isto é, procurava-se a verdade em si mais do que a sua relevância prática para a vida.

Pergunta: Fui seu aluno na EST e a sua postura me pareceu bem aberta em relação às outras igrejas. Podemos esperar isso do novo Papa?
Érico Hammes: Podemos esperar e será necessária a abertura a outras religiões e confissões. É possível, no entanto, que haja uma reversão do movimento que se observava em João Paulo II. Ele, ao mesmo tempo em que se mostrava aberto e simpático, tinha momentos e manifestações muito centradas sobre a Igreja Católica. Espera-se que o novo Papa seja mais, conseqüentemente, dialogal.

Pergunta: O senhor acredita que o próximo papa deve interferir na política como João Paulo II?
Érico Hammes: Deve certamente continuar testemunhando em favor dos direitos humanos e da paz no mundo inteiro. Em alguns contextos, João Paulo II não foi suficientemente enérgico. Quando se tratou das ditaduras na América Latina, por exemplo. Ele agiu mais preocupado com o perigo do comunismo do que com os problemas de violência e justiça que estavam ocorrendo. Segundo a mídia, não consta que uma posição corajosa contra as atitudes de Pinochet. Ao contrário do que se pode constatar com Bush, contra o qual João Paulo II foi manifestamente contrário às ações na política internacional.

O problema principal parece ser o tipo de valores que se querem defender. Os valores sociais, embora afirmados, em geral não têm o mesmo peso do que os valores da moral pessoal, como aborto, sexualidade ou contracepção. São temas sempre muito acentuados, o que é certo. Mas poderia se ter uma equivalência maior na defesa dos valores sociais.

No caso dos EUA, Bush representou a linha dos valores de ordem defendidos pela Igreja, enquanto Kerry teria possivelmente uma maior sensibilidade às questões sociais. E a posição do Papa parece ter sido mais favorável à Bush nas eleições norte-americanas.

Pergunta: O papa tentou substituir a Teologia da Libertação pela Renovação Carismática no Brasil?
Érico Hammes: Não diria isso. A Renovação Carismática é um movimento que surge por conta própria. E a Teologia da Libertação, por outro lado, tinha deixado em aberto questões, sobretudo, de ordem pessoal e cultural que permitiram ou favoreceram o crescimento dos movimentos carismáticos. Por outro lado, não se deve subestimar a permanência da Teologia da Libertação sob outras formas e com outros desenvolvimentos até os dias de hoje. E há um dado que se deve ter presente: a arquidiocese do Rio de Janeiro sempre foi contra a Teologia da Libertação. No entanto, hoje se verifica ser uma cidade com o menor índice de católicos entre as grandes cidades do país, abaixo de 60%. Enquanto São Paulo, em que a Teologia da Libertação foi favorecida é ainda uma das cidades com mais porcentagem de católicos.

Pergunta: A restrição de discussões teológicas para o ambiente interno da Igreja contribuiu para que católicos, no Brasil, buscassem outras religiões?
Érico Hammes: Em algumas circunstâncias sim. Mas o maior problema é certamente a incapacidade de lidar com as situações concretas das pessoas. Os problemas do cotidiano têm pouco lugar na Igreja Católica.

Pergunta: O mundo ocidental não está pronto para um papa negro, disse o cardeal da Costa do Margim Bernard Agre. O senhor crê que essa avaliação é correta?
Érico Hammes: Não creio. O problema todo está na visão da pessoa que venha ser eleita. De qualquer forma, deve ter uma visão de universalidade, levando em consideração as diversas situações culturais, políticas e econômicas existentes, junto com a experiência própria e o conhecimento interno da Igreja.

Pergunta: Como o senhor explica o crescimento das religiões protestantes no Brasil?
Érico Hammes: Em primeiro lugar, a Igreja Católica, assim como religiosidade no Brasil, nunca foi algo muito aprofundado, mas é um sentimento muito presente em toda a população. Nessas condições, hoje se assiste a uma consolidação de experiências religiosas diferentes. E respondem mais imediatamente à maneira concreta como as pessoas vivem a experiência do divino e do religioso.

Érico Hammes: Nós nos sentimos como humanidade, hoje, agradecidos pela figura de João Paulo II, mas reconhecemos também seus limites e desejamos uma Igreja com um Papa capaz de nos sustentar em nosso caminho para adiante.

 
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