| 29/02/2008 07h55min
Os pecuaristas mineiros estão preparados para receber a inspeção dos técnicos da União Européia. Das 106 fazendas aprovadas pelos europeus, 87 estão em Minas Gerais. De acordo com a Secretaria de Agricultura do Estado, a visita deve acontecer na próxima semana.
Se por um lado a liberação parcial do embargo à carne brasileira é um sinal positivo para o futuro das negociações, por outro, o Serviço Brasileiro de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos (Sisbov) e os critérios de escolha das propriedades geram desconfiança dos produtores.
A Fazenda Iraras, localizada no município do Prata, distante 110 km de Uberaba, no Triângulo Mineiro, trocou a agricultura pela pecuária em 2005. O local foi reestruturado para atender o mercado internacional, especialmente os países europeus. Quem adquire gado para engorda, por exemplo, com idade entre 20 e 24 meses, geralmente faz a rastreabilidade depois da compra. Mas, se os animais vierem de fazendas
não rastreadas, essa
compra só será possível até o final deste ano. Quem vende boi magro também será obrigado a entrar no Sisbov.
Gustavo Rocha é zootecnista, gerente responsável pela fazenda Iraras, e mostra que está preparado para o processo de rastreabilidade. A prova está no livro de registro, um diário de bordo da propriedade, um histórico do manejo dos animais, vacinas que receberam e a alimentação recebida. O Certificado do Estabelecimento Rural (Eras) aprovado no Sisbov é renovado a cada seis meses, depois de uma vistoria feita pela certificadora.
– O Ministério da Agricultura exige. As certificadoras repassam as informações e o pecuarista cumpre. Mas aí aparecem os fiscais e cobram coisas que não foram pedidas. Como é que vamos atender a todos sem uma referência do quê, de fato, deve ser cumprido na rastreabilidade? – reclama o zootecnista.
A fazenda foi vistoriada em novembro de 2007, e o certificado vale até o mês de maio de 2008. Após
essa data, é feita uma nova
vistoria, que pode aprovar ou não, para emitir um novo certificado.
Para o processo de rastreabilidade, não basta apenas selecionar os animais. A correria começa já no brete. O número de manejo do Sisbov logo é conferido pelo técnico que localiza o Documento de Identificação Animal (DIA). A guia reúne todas as informações sobre o animal: o número do Sisbov (com 15 dígitos), o número de manejo (com seis dígitos, que facilita na operação dentro da fazenda), o nome da cidade e o número da fazenda.
Com a relação conferida, uma cópia fica na propriedade. A primeira via é entregue à certificadora. Outra via deve ser entregue ao órgão de defesa do Estado. No caso de Minas Gerais, o Instituto Mineiro de Agropecuária é o responsável pela liberação da Guia de Transporte Animal (GTA). Só depois o lote poderá ser abatido.
O pecuarista Marco Túlio Andrade Barbosa é o proprietário de três fazendas rastreadas e apenas uma foi aprovada para
a exportação. Ele levanta dúvidas
sobre os critérios usados pelo Ministério da Agricultura, que estaria favorecendo os frigoríficos e deixando o produtor em segundo plano.
– Qual a resposta que o Ministério da Agricultura vai dar para os proprietários das outras 2,5 mil fazendas? Qual a justificativa para fazendas que antes não estavam na primeira lista e aparecem nesta última? Estamos vendo claramente a manipulação dos frigoríficos, a conveniência dessas propriedades serem próximas dos frigoríficos exportadores, para obter a redução nos custos. Mas, e o produtor? O governo precisa olhar para a cadeia produtiva como um todo – contesta o pecuarista.