| 01/12/2009 05h20min
Eles são dois luminares da intelectualidade gaúcha. Um, gremista. O outro, colorado. Os dois enveredam por meandros diversos na hora de avaliar a última rodada do Campeonato Brasileiro, que colocou o Grêmio na necessidade de perder para o Flamengo como única forma de, com certeza, impedir o Inter de ser campeão. Mas ambos concordam: o Grêmio, apesar de o desejo da torcida em ver a desgraça do rival, está metido em um dilema.
Se corrobora a paixão e perde de propósito, atende aos anseios mais sinceros da torcida, mas cria pontos de atrito com Palmeiras, São Paulo, quem sabe até a CBF e o STJD. Se abraça a lógica da razão e faz de tudo para vencer, ao ponto de conseguir a façanha de vergar o Maracanã lotado, vira exemplo de dignidade futebolística, mas jamais será perdoada pelos torcedores.
Cláudio Eizirik é gremista e ex-presidente da Sociedade Psicanalítica Internacional, a mais importante entidade do gênero do mundo, fundada por Freud em 1910.
– É
um episódio que exemplifica que o
futebol é paixão. Não é algo movido pela razão. E a lógica da razão é diferente da lógica da paixão. Pela razão, o Grêmio precisa ganhar. Pela paixão, é compreensível e aceitável o desejo do torcedor de perder. Freud afirmou que as massas ficam cegas em determinados momentos, dominadas por desejos e fantasias. Não vejo nada de imoral nesta situação. É só a lógica da paixão – diz Eizirik, que acrescenta: – Mas reconheço que é um dilema para a direção. Há terceiros envolvidos.
Mário Corso é colorado e psicanalista. A exemplo de Eizirik, concorda com o dilema dos dirigentes gremistas. Se perder com indícios de falta de empenho, ele entende que a reputação do Grêmio pode ficar manchada. Se a dedicação for extremada por ordem da direção ao ponto de resultar em vitória sobre o Flamengo e título para o Inter, haverá conflito com a torcida.
– Os dirigentes do Grêmio deveriam ficar em silêncio nesta hora. Na verdade, isso tudo me parece uma brincadeira do Grêmio. Mesmo que
precisasse ganhar do
Flamengo para não cair, o Grêmio não conseguiria, pelo que o Flamengo está jogando. O Inter deixará de ser campeão por incompetência sua, e não culpa do rival. O Grêmio está entre a imortalidade e a imoralidade. O mundo é maior do que a rivalidade Gre-Nal. Além do mais, é pouco viril entrar em um jogo para perder – afirma Mário Corso.
Nas ruas ou nos mais reluzentes consultórios de psicanálise, fala-se do destino que colocou o Grêmio na obrigação de perder se quiser impedir o Inter de ser campeão. E o Inter de depender do Grêmio para erguer mais uma taça. Como se vê, é o assunto. E, apesar das concordâncias aqui e ali, vai ser difícil de encontrar um consenso entre o que é certo e errado. A não ser, como dizem Eizirik e Corso, acerca do dilema da direção tricolor.
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