| 04/11/2009 04h13min
Pouco antes da meia-noite de 15 de janeiro, a notícia mobilizou rádios, jornais e TVs. Logo fez tocar telefones e um rastilho de lâmpadas se acendeu nas residências de Pelotas para uma noite insone.
Meia hora antes, um ônibus com 31 integrantes da delegação do Brasil caíra em uma ribanceira em Canguçu. Às histórias de paixão pelo time xavante iriam se somar três mortes, feridos e um registro esse lançado hoje, às 17h30min, na Feira do Livro de Porto
Alegre.
Desde que chegou ao local do
acidente nos primeiros minutos do dia 16, o fotógrafo de Zero Hora Nauro Junior tinha uma certeza: aquele dia não sairia mais da sua memória. Nove meses mais tarde, junto com o repórter Eduardo Cecconi, reuniu em 272 páginas de A Noite que Não Acabou relatos de sobreviventes de um drama pranteado país afora. Lançado na Feira do Livro de Pelotas, no sábado passado, 430 exemplares foram vendidos em cinco horas. Surpresos com a procura, os organizadores tiveram de resguardar exemplares do evento para o lançamento de hoje em Porto Alegre.
Na noite que originou o livro, o futebol gaúcho perdeu o drible curto e o chute, como se fossem apenas um movimento, e a flechada invisível depois de cada gol do camisa sete uruguaio Claudio Milar. Seu amigo, o zagueiro Régis, também não mais duelaria com centroavantes mais altos do que ele. E o preparador de goleiros Giovani Guimarães nunca mais veria seus alunos e seus projetos sociais. Eles foram as três vítimas fatais da capotagem em um abismo de 30
metros.
Nauro e Cecconi, companheiros por três anos na Casa Zero Hora de Pelotas, compreenderam a dimensão daquele fato. Seu livro-reportagem vai além da mistificação de uma tragédia. Sobrepõe-se à mera reunião de detalhes mórbidos acerca de um acidente com um ônibus de 20 toneladas. É um documento a respeito da responsabilidade no trânsito, do perigo que as estradas escondem e de homens que ainda sofrem com sequelas.
O tempo do livro envolve minutos antes do acidente até a única vitória do time, 77 dias depois, por 1 a 0, sobre o Novo Hamburgo, na despedida do Gauchão. Talvez tenham faltado elementos como um mapa do acidente, um desenho sobre o lugar de cada um no ônibus ou uma linha do tempo, que ajudariam a compreender melhor o drama. Apenas detalhes. A obra vale por aquilo que não deixará esquecer: aquela noite escura no fundo de um abismo.
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