| 12/02/2009 07h05min
Faz 20 anos hoje. Parece que acabou ontem. O Gre-Nal do Século completa duas décadas e talvez ainda demore outras mais para que seja superado em emoção e drama. Depois dele, já houve 77 clássicos. Nenhum tão eletrizante.
Reveja gols, fotos e personagens e saiba por que foi importante
Os jogadores se arrepiam ao falar daquele domingo de calor perto de 40ºC em Porto Alegre. Quase 80 mil ingressos foram vendidos para o confronto no Estádio Beira-Rio. Um Grêmio altivo, dono das ações e surpreendente fez 1 a 0 aos 16 minutos, com Marcos Vinícius. O drama do Inter aumentou com a expulsão de Casemiro aos 37. O Grêmio passou a errar
gols. Foram tantos que o cordato Rubens Minelli perdeu as estribeiras no
vestiário. O que abriu o caminho da derrota, garante Alfinete, o lateral-direito daquele time:
— O time estava com alegria, leve. No vestiário, o Minelli deu uma bronca e tirou o brilho do time. Disse que estávamos de brincadeira, de palhaçada. Ali perdemos o Gre-Nal.
No outro lado do Beira-Rio, Abel Braga fez o contrário. Em vez de xingar, se encostou em um canto do vestiário e ficou por 10 minutos fitando o nada. O centroavante Nilson sentou nas espreguiçadeiras de madeira e pensou:
— Hoje não vai ter jeito mesmo.
Antes de mandar o time a campo, Abel saiu da letargia e anunciou que Diego Aguirre entraria no lugar do volante Leomir. O ponta-esquerda Edu fecharia o lado esquerdo com Norberto. Ao mandar todos a campo, o técnico gritou:
— Vocês fizeram essa caca. Agora entrem lá e resolvam.
Gols de Nilson desestruturam o Grêmio de Rubens Minelli
Nilson entendeu o recado. Aos 16, empatou o jogo. Aos 26, virou, ao aproveitar cruzamento de
Maurício. Na comemoração, imitou o personagem Sassá Mutema, um cortador de cana interpretado por Lima Duarte na novela O Salvador da Pátria. Maurício garante que o cruzamento foi mecânico.
— Quando ia em direção à área, ele (Nilson) corria para o segundo pau. Sabia onde mandaria a bola. Chutei e ele botou o biquinho. Metade do gol é meu – diverte-se.
Naquele instante, os jogadores do Grêmio já não se entendiam.
—No segundo gol, nosso time se perdeu. Ninguém acreditava. O Minelli alertou para ficarmos espertos – recorda o ponteiro-esquerdo Jorge Veras.
Nilson lembra de ver os jogadores do Grêmio discutindo em campo. Mazaropi, lá de trás, havia diagnosticado antes da virada um relaxamento do time. O mesmo que havia enfurecido Minelli no vestiário. O meia do Inter Luís Carlos Martins se desdobrava em campo e ainda tentava entender a engenharia tática feita por Abel Braga:
— Este Gre-Nal dificilmente será
superado, pelas circunstâncias. O Abel fez o contrário, ficamos com
quatro atacantes.
Depois de fazer o 2 a 1, Nilson se virou para a torcida e, acenando com as mãos, gritava:
— Tchauzinho, acabou para vocês.
A poucos minutos do fim, Maurício foi substituído e saiu de braços abertos, imitando um avião. Os colorados, ensandecidos, pareciam não acreditar no que viam. Os gremistas, abalados, também não.
Na semana do jogão...
> A prefeitura de Porto Alegre intervém em três empresas de ônibus
> Caxias do Sul espera 600 mil turistas na Festa da Uva
> A novela Que Rei Sou Eu? estreia na Globo
> O cantor Cazuza confirma ter Aids
> Paes de Andrade é eleito presidente da Câmara dos Deputados, e Nelson Carneiro, do Senado
> Inflação de janeiro pelo INPC é divulgada: 35,48%
JORGE VERAS
"Sempre tive bons momentos
nos Gre-Nais. Foi o único que me deu tristeza."
MAZAROPI
"Foi o único clássico valendo algo contra o Inter que perdi."
MAURÍCIO
"É um Gre-Nal que jamais será esquecido pelos dois lados."
NILSON
"O Grêmio fez um primeiro tempo espetacular. Se fosse 5 a 0 não seria absurdo."
Para você ler
O Gre-Nal do Século é pano de fundo do ótimo romance O Segundo Tempo (2006), do escritor gaúcho Michel Laub. Na obra, ele narra a história de um guri gremista de 15 anos que, no Beira-Rio, divide-se entre a atenção ao jogo e o dilema de contar para o irmão caçula sobre a separação de seus pais. O livro foi finalista de um das mais importantes premiações em língua portuguesa, o Prêmio Portugal Telecom. Companhia das Letras, R$ 34.
Onde eles estão
INTER
1) Luis Carlos Winck (lateral-direito) – Técnico, comanda o São Raimundo-AM.
2) Taffarel (goleiro) – Empresário de jogadores, mora em Porto Alegre.
3) Nenê (zagueiro) – Trabalhou como técnico por 11 anos nos EUA. Em
2009, treinará um time chinês.
4) Norberto (volante) – Auxiliar de Lori Sandri no Marítimo.
5)
Casemiro (lateral-esquerdo) – Técnico do Fortaleza.
6) Aguirregaray (zagueiro) – Pecuarista, tem fazenda em Artigas e trabalha como auxiliar de Sérgio Markarián no Universidad de Chile, adversário do Grêmio na Libertadores.
7) Maurício (atacante) – Mora no Rio, onde trabalha no projeto social Craque do Futuro. Tentou se eleger vereador no Rio.
8) Leomir (volante) – Auxiliar de Abel Braga no Al-Jazira.
9) Nilson (atacante) – Tinha um bingo no interior paulista e busca emprego como auxiliar técnico.
10) Luís Carlos Martins (meia) – Foi auxiliar de Guilherme Macuglia no Coritiba e no Joinville. Em 2008, treinou o Inter, de Lages. Está em Porto Alegre à espera de propostas.
11) Edu Lima (atacante) – Foi técnico do Fluminense-BA.
Técnico: Abel Braga – Treina o Al-Jazira, dos Emirados Árabes.
GRÊMIO
1) Mazaropi (goleiro) – Técnico do
Santo Ângelo.
2) Trasante (zagueiro) – Dono de escolinha de futebol em Montevidéu. Tinha programa
sobre futebol em rádio uruguaia.
3) Alfinete (lateral-direito) – Treinou o Brasiliense em 2008. Aguarda propostas em Jaú (SP), onde mora.
4) Luís Eduardo (zagueiro) – Auxiliar-técnico no Cerâmica, de Gravataí.
5) Bonamigo (volante) – Técnico, está sem clube desde que saiu da Ponte Preta em setembro. Está em Curitiba.
6) Aírton (lateral-esquerdo) – Mora no Rio, onde foi auxiliar técnico.
7) Cuca (meia) – Técnico do Flamengo.
8) Jorginho (meia) – Dono de escolinhas em Maríia (SP).
9) Marcos Vinícius (atacante) – Trabalha com escolinhas conveniadas à Secretaria de Esportes de Belo Horizonte.
10) Cristóvão (meia) – É auxiliar técnico de Toninho Cerezzo no Al-Shabbab, dos Emirados Árabes.
11) Jorge Veras (atacante) – Auxiliar técnico de Casemiro no Fortaleza.
Técnico: Rubens Minelli – Aposentou-se e vive entre São
Paulo e seu sítio, no interior paulista.
O centroavante Nilson corre para comemorar o gol que confirmou o Inter na final do Brasileirão e na Libertadores
Foto:
Banco de Dados
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