| 31/01/2009 20h50min
Quando você ver Ruy zunindo pela lateral-direita do Grêmio neste domingo, contra o Novo Hamburgo, saiba que ele estará sob a proteção do pai. Paulo Bueno morreu devido a um câncer no intestino, em 12 de abril de 2007. O ala garante que o pai o acompanha sempre e em cada movimento.
— Ele está sempre comigo, pode ficar certo disso — diz, antes de iluminar o rosto com um sorriso.
Melhor amigo e principal conselheiro do filho, Paulo estava internado em um hospital de Belo Horizonte havia cinco meses quando pediu que a mulher, Zeni, ligasse para o filho em Florianópolis. Na concentração do Figueirense, Ruy se preparava para dormir na véspera do clássico contra o Avaí.
— Seu pai quer falar com você — anunciou Zeni, com a voz cansada.
Foram poucos minutos de conversa. Na verdade, quase um monólogo. Paulo articulava poucas frases devido ao efeito das doses de morfina. Antes de desligar, Ruy deu um recado ao pai:
—
Pai, se o senhor quiser descansar, pode descansar, tá? Deixa
que agora eu cuido da família.
Em seguida, houve um breve silêncio. A mãe pegou o telefone outra vez e, emocionada, deu um recado curto e direto:
— Filho, seu pai morreu.
Esses poucos minutos passados no quarto da concentração do Figueirense é que fazem Ruy acreditar ainda mais na companhia do pai.
— Acho que o pai me acompanha até hoje. Morreu praticamente nos meus braços. O coração parou de bater depois do que eu disse a ele. Foi a última frase que escutou — conta o lateral, arrepiando-se ao lembrar daquele 12 de abril, um dia depois de seu aniversário.
Paulo morreu com 58 anos. Ruy estava com 29 e sofreu com o drama vivido pelo pai. Seu rendimento em campo em 2006 e 2007 foi afetado. Em 2006, conheceu Celso Roth no Botafogo. Elogia o chefe pela paciência e por apostar em um jogador com tantos problemas particulares. Sobre o pai, ficou a lembrança de um analista exigente, que cobrava sempre o melhor
rendimento em campo.
— O pai não era o cara do elogio
fácil. Ele era muito crítico comigo — lembra.
No final de 2007, Ruy saiu para jogar no Exterior, em busca de novos ares. Parou na Hungria, no ZTE, da quase impronunciável cidade Zalaegerszeg. A temperatura média era de 2ºC negativos em janeiro e fevereiro. Foram quatro meses de frio e reciclagem emocional. Em abril, voltou ao Brasil, para o calor de Recife. Assinou com o Náutico e voltou a sorrir.
— O exílio tinha chegado ao fim — recorda.
No Grêmio, Ruy busca seu grande título. Está convicto de que o alcançará no Olímpico. Seu currículo ostenta apenas dois títulos mineiros, pelo Cruzeiro, e um carioca, pelo Botafogo. Agora, diz, coincidiu de atravessar bom momento e jogar em um clube em alta.
— Em 10 anos de Brasileirão, sempre estive entre os melhores da posição, mas nunca fui escolhido “o melhor”. Acho que 2009 é o meu ano — aposta.
Atleta quer cursar Direito para corrigir injustiças
Nascido em família classe média de Belo Horizonte, Ruy começou nos
infantis do América-MG. Na mesma época, Alex Mineiro brilhava nos juvenis. O lateral conciliou estudos e treinos até 2001, quando os compromissos no time principal do América-MG colidiam com as aulas no primeiro semestre de Administração. O sonho do diploma segue e ganhou conotação social. Quer cursar Direito quando deixar o futebol.
— Como advogado ou promotor, posso corrigir injustiças que vejo. Não tolero sacanagens – explica.
Ruy exibe seis tatuagens pelo corpo. A cada uma delas, a mãe, mineira conservadora e religiosa, se derramou em lágrimas. Cansada de chorar, dona Zeni fez o filho prometer: a tatuagem das costas foi a última. Essa custou caro, R$ 1,5 mil. Homenageia a mulher, Karina, e as filhas, Luiza, três anos, e Sofia, nove meses. As três estão em Belo Horizonte. Devem chegar assim que Ruy trocar o hotel no Centro por um apartamento. Já dona Zeni ficou mais tranquila depois que o filho se distanciou dos tatuadores:
— Ela pediu para eu
parar de fazer tatuagens, que parecia
um marginal.
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