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meninas entre 10

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crianças e adolescentes fora da escola em Joinville

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REALIDADE SOCIOECONÔMICA

 

Não posso dizer que o adolescente delinquente vem de uma determinada condição financeira. Mas, de um modo geral, há uma desestrutura familiar e há uma continuidade do ciclo da violência - conclui Tânia Harada.

A maioria deles prefere estar na rua usando drogas. E você sabe o que a droga faz? Deixa o pensamento lento, diminui a motivação e a coordenação motora. Eles ficam mais preguiçosos e a primeira coisa que largam é o estudo.

Embora o Sul do País tenha menores índices de violência e pobreza se comparado a regiões mais vulneráveis, pesquisas revelam que a desigualdade social se faz presente em proporções mais expressivas quando a atenção vai além da porcentagem e chega ao número absoluto. E quando vai além do número e chega até a realidade de quem representa esse número.

A baixa escolaridade é uma condição recorrente entre os adolescentes que entram no sistema socioeducativo após cometerem atos infracionais. São poucos os que chegam a cursar o ensino médio.

Quando a tarefa de educar acontece precocemente e sem estrutura adequada, o ciclo se repete.

Joinville é uma das cidades mais ricas de Santa Catarina, ocupa uma boa posição no ranking da economia estadual e vem bem colocada nas pesquisas de escolaridade e renda per capita. No relatório dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, organizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, por exemplo, o município está batendo as metas.

Porém, a fatia de vulnerabilidade existe, está ali à margem da sociedade, distante dos bairros centralizados, próximo ao mangue. O último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, revela que, naquele ano, 31% da população sobreviviam com até um salário mínimo, que correspondia a R$ 510. Esses 31% dos 512 mil habitantes da época correspondem a 160 mil pessoas. Em Santa Catarina, o número de pessoas vivendo nessas condições sobe para 2,3 milhões e no Brasil chega a mais de 110 milhões.

Perdiz, o adolescente infrator que é personagem desta reportagem, pertence a uma família que se inclui nessa fatia. Os pais dele ainda ganham em média R$ 600, incluindo programas sociais do governo, para dar conta de sustentar seis pessoas. Moram afastados, em uma área de invasão onde não há tratamento de esgoto, a energia funciona clandestinamente e não há linha de ônibus.

A situação social de Perdiz se equipara à realidade da maioria das famílias dos jovens que entram no sistema socioeducativo, avalia a psicóloga Marilene Ferrari, que atua no Centro de Atendimento Socioeducativo Provisório (Casep) de Joinville.

- Pelo menos 80% dos adolescentes que passam por aqui são de classe média baixa para a pobreza. Nós fazemos visitas em domicílio e reconhecemos que eles não têm residência fixa e a estrutura é péssima.

Perdiz, o personagem desta história, deixou a escola na 4ª série do ensino fundamental por vários motivos: faltaram interesse pelos estudos, pulso firme dos pais e empenho da escola em resgatá-lo.

Os dados do Dease não são bem claros quanto à escolaridade dos adolescentes infratores que entraram no sistema no primeiro semestre de 2015. Não é possível avaliar se os garotos pararam de estudar em determinado ano ou se estão cursando. No entanto, o levantamento do IBGE possibilita uma avaliação mais segura da realidade. Levando-se em conta o Censo de 2010 e a faixa etária de 10 a 17 anos, naquele ano havia mais de cinco mil crianças e adolescentes fora da escola em Joinville, mais de 77 mil em Santa Catarina e mais de dois milhões no Brasil.

Segundo avaliação da psicóloga que atua há 15 anos no Centro de Atendimento Socioeducativo Provisório (Casep) de Joinville, Marilene Ferrari, quase 90% dos jovens infratores que entram no sistema já pararam de estudar. Os 10% restantes só estão na escola por insistência dos pais. Além dos fatores que levaram Perdiz a desistir da escola, ela acrescenta outro quesito mais grave: o contato com as drogas.

 Alguns dos adolescentes que estão no sistema socioeducativo, além de estarem reaprendendo a viver em sociedade, ainda acumulam a tarefa de educar um novo ser. Perdiz entrou no sistema antes dos 18 anos. Depois de completar a maioridade, deixou o Centro de Atendimento Socioeducativo com mais uma responsabilidade: a namorada de 16 anos engravidou e deu à luz um menino.

Considerando o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), naquele ano havia 654 meninas entre 10 e 17 anos, em Joinville, na mesma condição da namorada de Perdiz. Em Santa Catarina, mais de 9,1 mil crianças e adolescentes já eram mães nessa faixa etária. No Brasil, o número vai para 393,3 mil.

- Quando pai e mãe não conseguem impor limites, os filhos fazem o que querem. Educar dá trabalho. Se você quer ter um filho, sabe que vai ter o trabalho de educar, não é fácil. Temos que pensar bem antes de colocar um filho no mundo diante de tudo o que estamos vendo hoje - repreende a psicóloga Marilene Ferrari.

maioria está em situação de pobreza

Sala de aula substituída pela rua

Gravidez na adolescência é realidade

RENDA FAMILIAR

FREQUÊNCIA ESCOLAR DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

GRAVIDEZ NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

  BRASIL

  SANTA CATARINA

  JOINVILLE

  BRASIL

  SANTA CATARINA

  JOINVILLE

  BRASIL

  SANTA CATARINA

  JOINVILLE

O tempo ocioso e a ausência dos pais, que na avaliação de Marilene também ocorre porque eles precisam trabalhar, permitem que as crianças e os adolescentes tenham uma liberdade que não é saudável e fiquem na rua. E é na rua onde normalmente eles iniciam o contato com as drogas.

- A maconha é a porta de entrada. Depois vêm o álcool e outras drogas. Como eles ainda não têm responsabilidade e noção do que é certo e errado, se deparam com um mundo novo que acaba sendo sedutor. São estimulados pelos outros a vender (droga) e começam a gastar com a própria droga, roupa e festa. Se não tiver um adulto próximo para orientar e tirar o jovem desse meio, ele não consegue sair.

Na avaliação da psicóloga, as escolas deveriam ofertar período integral de ensino e os pais deveriam ser cobrados pelo Estado a manterem os filhos estudando. No entanto, o que a profissional percebe é que há abstenção de todas as partes.

- Falta educação, e o governo também tem culpa, na medida em que não oferece vaga na creche.

Levantamento atual do Departamento de Administração Socioeducativa (Dease) aponta que 27,4% dos adolescentes que cumpriram medida socioeducativa de internação no último semestre têm renda familiar até dois salários mínimo; 17,6% possuem renda entre de dois e três salários mínimos, e apenas 4,4% têm renda familiar acima de três salários. Pelo menos 50,5% não informaram esse dado.

A delegada Marilisa Boehm, que atuou na área por mais de 20 anos, não relaciona a classe social com a criminalidade como se isso fosse uma justificativa. Porém, avalia que a realidade socioeconômica é um fator coadjuvante.

- O problema também é socioeconômico. Jovens veem na televisão coisas que querem, mas que não têm condições de adquirir. Então, acabam influenciados por indivíduos de maior idade que os convencem que, praticando furtos, eles vão adquirir dinheiro muito mais rápido e é aí que se perdem na criminalidade.

A delegada que responde atualmente pela delegacia especializada, Tânia Harada, contrapõe a avaliação da colega. Para ela, a delinquência faz parte de todas as classes sociais, porém a desestrutura familiar é uma porta de entrada para o crime.

A SEGUNDA CHANCE

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