#SouItararé
Memória através dos TRILHOS
Qual a primeira imagem que vem a sua cabeça quando pensa em Santa Maria? Para essa pergunta, cabem mil respostas, dependendo do interlocutor. Muitos vão dizer que é o vento norte. Outros os xis e a pizza gigantes. Ou ainda o Calçadão. Mas é certo que, entre tantas opções, uma está entra as mais lembradas: a estação ferroviária, conhecida como Gare.
O cartão-postal é a porta de entrada de um bairro que transpira saudosismo. A região norte da cidade já foi uma das mais prósperas, entre entradas e partidas do trem. O próprio nome do bairro surgiu da implementação da ferrovia, com a chegada de uma comissão de engenheiros que estudaram o percurso do eixo que ligava o Rio Grande do Sul a São Paulo, entre 1889 e 1890.
_ Este fato levou a valorização e a atração de várias pessoas por habitarem esta região, que teve um desenvolvimento considerável no final do século XIX e especialmente na primeira metade do século XX _ comenta a coordenadora do programa de pós-graduação em História da UFSM, Maria Medianeira Padoin.
Os primeiros moradores do Itararé eram, portanto, de uma forma ou de outra, ligados à ferrovia de Santa Maria. Ainda hoje, grande parte dos atuais moradores tem um pai, tio ou avô ex-ferroviário. Durante décadas, o Itararé diferenciava-se dos demais bairros por concentrar uma parcela significativa da população e por ser um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da economia no município.
"Durante décadas, o bairro diferenciava-se dos demais por concentrar uma parcela significativa da população e por ser um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da economia no município".
Com a crise do sistema ferroviário, anos mais tarde, o processo de decadência levou à suspensão do transporte de passageiros e à privatização, no final dos anos 1990, do que restou do transporte ferroviário, gerando um consequente desemprego e decadência da economia local, com o fechamento de oficinas e encerramento das atividades no setor.
_ Eu fazia manutenção de ponte, reforça trechos. Onde tem trilho no Rio Grande do Sul eu já fui. A crise começou lá pela década de 1970. O orçamento começou a diminuir e comçou a degringolar as coisas, até que terminaram com tudo. Acabram até com o nosso trenzinho de passageiros. Ficaram lá só as carcaças _ comenta o ex-ferroviário João Carlos Pissuti Pohlmann, 74 anos.
O bairro, antes detentor de uma certa independência, pelo fato de ter tido uma infraestrutura própria, sofreu com os impactos negativos, principalmente em relação ao comércio local. Hoje, carrega na memória a lembrança de uma época de prosperidade.
_ É um bairro calmo e tranquilo. A gente só fica triste com o abandono de alguns locais, como o Clube 21 de Abril, que está fechado. Nós tentamos fortalecer o vínculo da comunidade, para não ficarmos refém só do nosso passado _ relata Aldo Antônio Maia, presidente da Associação Comunitária do bairro.
Itararé
em dados
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Em 1910, a Fábrica Cyrilla foi fundada pelos alemães Frederico Diefenthaeler e Ernesto G. Geys. Por muitas décadas, a empresa produziu refrigerantes tradicionais como o "Guaraná Cyrilla" e a "Cyrillinha", fabricada com a essência da casca da laranja
Em 1919 foram iniciadas as obras da Igreja Santa Catarina, marco histórico ainda vivo no Itararé
Em 1927, foi fundada a Sociedade Recreativa Ferroviária 21 de Abril, com salão de baile, quadra de esportes e cancha de bocha. Nos anos 60 e 70, o número de sócios chegou a cerca de cinco mil. Depois da decadência dos trens, o clube do bairro Itararé fechou as portas, em 1995.
Entre 1930 e 1932, o Monumento ao Ferroviário foi erguido em homenagem aos trabalhadores da ferrovia e à Revolução de 30. O local oferece uma vista panorâmica de boa parte de Santa Maria
Em 2006 o bairro Itararé teve parte do seu território subtraída para a criação de um novo bairro, o Campestre do Menino Deus