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 | 10/06/2009 04h54min

Ruy Carlos Ostermann: Grande, Kaká

Kaká joga esta noite no Recife como a segunda maior transação do futebol mundial – a primeira foi Zidane, também para o Madrid, negociado pela Juventus por 73,5 milhões de euros – e como o autor de uma entrevista exemplar na segunda-feira quando foi finalmente confirmado o acerto de duas semanas atrás, protelado por Berlusconi, por razões de eleições políticas. Kaká é filho de classe média paulista, tem escolarização e um comportamento ético exemplar. Aceitou o negócio porque assim estaria ajudando o Milan, em profunda crise financeira. E tanto é prova de que foi assim que uma proposta, no início do ano, do Manchester City, quase o dobro da atual, foi desconsiderada. O dinheiro é sempre o mesmo, aqui foi importante o desejo pessoal. A entrevista de Kaká foi encimada por um sorriso permanente e uma clareza nas respostas que não é a habitual. Não precisa ser um jogador de futebol, poderia ser um político, um empresário: sob o impacto da fantástica transação escapariam as palavras, se fecharia alguma frase inacabada. Mas não com Kaká.

O modo superior com que absorveu o grande impacto deve ajudá-lo essa noite no Arrudão para simplesmente jogar seu futebol extraclasse. Não vai recolher a perna, nem vai evitar o conflito da marcação e do jogo, a natureza de sua entrevista indica um atleta acima das miudezas. E a Seleção do Dunga, se já estava suficientemente representada por vários jogadores de primeira, agora conta com uma preciosidade dos negócios do futebol mundial. Olhando-se para o time se pode ver com nitidez Kaká e os seus companheiros, sempre nessa ordem da hierarquia.

Conflito

Não tinha levado em conta um velho critério de Dunga para valorizar seus convocados: quem treina bem ganha espaço, quem colabora com o grupo merece respeito, quem chega antes à Seleção tem alguma forma de prioridade. É o caso de Alexandre Pato, de certa forma um “veterano” de convocações. E como treina bem, se esforça e está sempre disponível tem nisso tudo uma vantagem. Mas depende muito do modo como a Seleção pretende enfrentar o Paraguai esta noite. Ele chega de uma derrota em casa para o Chile, de Marcelo Bielsa. Vai jogar defensivamente como todas as seleções visitantes, salvo uma empáfia argentina via Maradona, mas talvez ainda jogue mais defensivamente porque precisa se reabilitar e não dar vexame. Sendo assim, a velocidade na frente talvez seja escassa, a jogada posicional pode ser mais frequente, o conflito da marcação mais acentuado. Mais Pato do que Nilmar? Depende de como o grupo responde a essa questão do jogo desigual no trópico.

Controle

Tivesse ânimo e não fosse imperdível e urgente o filme Os Falsários, no Unibanco Arteplex do Bourbon Country, bem em cima de um dos cinco jogos das Eliminatórias marcado para esta noite a partir das 18h, e ficaria na frente da TV sem vacilar, caderninho de anotações, chimarrão e uísque noturno.

Mas devo começar pela metade de Colômbia e Peru, em Medellin, sigo pelo Brasil e Paraguai, às 21h50min, espio Venezuela e Uruguai, em Cachamay Puerto Ordaz, que começa 10 minutos depois e, se conseguir e tiver olhos, encerro a noite com Chile x Bolívia, em Santiago. Espero não me confundir nem me perder com o controle, e de tudo terei uma ideia, a começar pela nova afirmação da Seleção do Dunga, desejável e possível.

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