| 28/05/2009 16h02min
A campanha institucional do Grupo RBS "Crack, Nem Pensar" foi lançada hoje com a 10ª edição do Painel RBS, que reuniu especialistas para discutir o problema da droga que provoca dramas familiares, violência urbana e mortes de usuários. O debate teve transmissão da RBS TV, da TV Com e do site www.painelrbs.com.br.
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O primeiro bloco abordou o tema da prevenção. O repórter da RBS TV e integrante da Central Única das Favelas (Cufa), Manoel Soares, o diretor-geral do Hospital Psiquiátrico São Pedro, Luis Coronel, e o presidente da seccional gaúcha da OAB, Claudio Lamachia, falaram sobre a importância de a família estar atenta ao comportamento dos filhos e oferecer informações sobre os malefícios da
droga para prevenir o vício.
— Na construção da
reportagem [que abriu o painel], por exemplo, eu ficava atento a quem consumia, mas também a quem não consumia. O que era determinante para que uma família não tivesse crack dentro de casa muitas vezes era um mínimo de informação.
O médico Luis Coronel concorda:
— Uma pesquisa que estou acompanhando de alunos da psquiatria mostra que 40% dos menores que estão em tratamento numa determinada clínica, eles moram com outros. Não é pai, nem mãe. Eles não têm família.
O presidente da OAB destacou a importância da campanha no sentido de conscientizar a sociedade civil sobre a epidemia do crack e disse que a presença dos pais na vida dos jovens é fundamental para enfrentar o problema.
— A conscientização da sociedade civil e das autoridades é fundamental para que se possa chegar num combate efetivo da epidemia do crack: [é fundamental] a informação, a repressão, a educação, mas principalmente a atenção dos pais,
independente da classe social que for, verificando o
que tem acontecido com seu filho no dia-a-dia, participando da vida da família de uma forma direta.
O ministro da Justiça, Tarso Genro, fez participação em vídeo de Brasília no segundo bloco do painel. Tarso abordou a legislação brasileira e o policiamento de fronteiras, destacando a importância da presença de um policial qualificado dentro das comunidades para enfrentar o problema do crack e da cooperação internacional para impedir a entrada da droga no país, ainda que, segundo ele, o controle total das fronteiras em um país como o Brasil seja "ilusão". Segundo o ministro, o núcleo fundamental de resistência "permanece sendo a família".
— Um policial que atua nessas áreas [onde há tráfico] tem que ser um policial treinado. Sem policiamento de alto nível, que aja de maneira articulada com setores de inteligência da polícia, só a prevenção é insuficiente — disse o ministro — A prevenção é base, é o que vai realmente enfrentar o
problema. Agora a sensação de
segurança que um policial comunitário causa ajuda a comunidade a se agregar para combater o traficante e não deixar ele entrar na região.
No terceiro bloco, o presidente da Associação do Ministério Público do RS, Marcelo Dornelles, e o Chefe de Polícia do Estado, João Paulo Martins, discutiram a questão da repressão. Segundo Martins, "mesmo fazendo o máximo dentro de suas possibilidades, a polícia está aquém do necessário para para combater o tráfico" e incentivou as pessoas a fazerem denúncias de locais onde a venda de drogas ocorre pelos telefones 0800 518 518 e 181.
O presidente da Associação do MP falou da mudança do perfil de criminosos com a ascensão do crack e a incerteza das vítimas.
— Você não está diante de alguém que quer o seu patrimônio, você está diante de alguém que precisa de qualquer coisa para abastecer o seu vício — disse Dornelles — Começamos a nos dar conta que não é algo a ser resolvido apenas por autoridades, é
uma questão que se não envolver
diretamente a sociedade não tem como avançar.
O último bloco teve como tema o tratamento, com a participação da clínica-geral do Hospital Conceição Irma Rossa, do psiquiatra do Hospital de Clínicas Flávio Pechansky e do diretor-administrativo da Comunidade Terapêutica Criar Vitória, Adilson Rodrigues. Os especialistas discutiram os efeitos do crack no cérebro do usuário e os problemas de saúde que podem decorrer do uso da droga, além de como determinar qual a melhor forma de internação do paciente. Segundo Pechansky, é difícil reverter o vício em pouco tempo:
— Isso tem a ver com uma característica da substância. Em cerca de 10 minutos, o crack chega numa zona do cérebro em que ele faz com que uma substância que liga os nossos neurônios e faz eles funcionarem, chamada dopamina, fique livre. Essa substância é que dá a sensação prazerosa. Nosso cérebro tem uma memória, ele lembra e gosta disso — disse o médico — Essa memória é apagável. Mas não existe ainda um
medicamento que se possa
usar para que a gente rapidamente esqueça essa lembrança química que o crack dá. Isso não se consegue fazer em dois dias de emergência.
Irma destaca que para o paciente abandonar o crack, ele precisa se dar conta de que os malefícios da droga ultrapassam a sensação que atinge com o consumo:
— Às vezes a gente tem que ajudar a família a favorecer que apareçam mais esses malefícios. Hoje se tem um acesso muito fácil, tem muita pressão para uso, e esses fatores dificultam.
Leia mais sobre a campanha no especial Crack, nem Pensar.
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