| 16/05/2009 20h20min
O apito final de um Gre-Nal das categorias de base, nos últimos dias de 2008, significou também o fim da carreira no Brasil de um menino. Maicon Moreira, então com 15 anos, ocupava a lateral-direita do Grêmio quando recebeu a abordagem de representantes do Reggina, da Itália. Em 24 de fevereiro deste ano, embarcou para a Europa. Ele mesmo contou a ZH, em conversa pelo MSN, direto da concentração do novo clube, como tudo aconteceu:
– Eu não tinha contrato profissional com o Grêmio. Aí, foi "facinho". Foi só fugir.
Foi mesmo. Bastaram algumas medidas burocráticas para Maicon tomar o avião e rumar para a nova vida. Tudo sem o Grêmio saber. A baixa só apareceu na reapresentação dos juvenis, em março. Outro jogador, um zagueiro de 15 anos, também teria ido para a Europa, segundo o clube. Certo é que o exemplo do Grêmio expõe uma questão comum nos clubes brasileiros: um assédio europeu cujo início acontece cada vez mais cedo, apesar da vigilância da Fifa.
De fato, a maioria dos jogadores de 16 anos nos times do brasileiros já fez contrato profissional. Isto não os impede, porém, de ceder procuração a empresários. Geralmente em troca de dinheiro ou promessas, os pais ou responsáveis assinam um documento entregando a gestão da carreira a terceiros. Na maioria dos casos, está feita a ponte que coloca os clubes em risco. O vice de futebol do Inter, Fernando Carvalho, explica o sistema de convencimento:
– Começa com tênis, passa para celular, chega a casa. Uns mais, outros menos.
Acontece que casos como o de Maicon surgem com frequência maior. Como a legislação brasileira só permite contratos a partir dos 16 anos, meninos abaixo desta idade não têm vínculo formal. Podem ir para onde bem entenderem. Quando o destino fica fora do país, porém, a transferência exige alguma perícia.
Advogado da Federação Nacional dos Atletas Profissionais, Décio Neuhaus revela haver relatos de adoção de adolescentes no Exterior por pais de fachada. Assim, a gurizada desfruta dos mesmos direitos de quem nasceu no país, como estudar em escolas públicas e, claro, treinar nas categorias de base até os 18 anos, quando pode assinar como profissional. Não é estranho trocarem de casa antes disso. O próprio Maicon afirma que ficará no Reggina até dezembro. Depois disso, decidirá o futuro.
– Tem uns times querendo me comprar: Sevilla, Sporting, Juventus.
A Fifa luta para evitar novos "Maicons". Endurecerá a legislação a partir de 1º de outubro, como informou por e-mail o suíço Omar Ongaro, chefe da Divisão de Estatuto Legal de Jogador da entidade. Será aumentada para 60 mil ou 90 mil euros por ano a compensação financeira pela formação entre os 12 e os 15 anos. Por essa regra, o Grêmio será indenizado por Maicon assim que se profissionalizar. Mas Neuhaus lamenta que nem sempre os times sabem o paradeiro dos ex-jogadores. O prazo para pedir indenizações expira em dois anos.
Outra medida da Fifa será exigir das escolinhas vínculo com a associação nacional (no Brasil, a CBF). Na prática, os jogadores que treinam nestas condições passarão a "existir" de forma legal. Hoje, um menino de escolinha não-registrada sai do Brasil sem dever formação a clube algum.
A Fifa negocia ainda a extensão do tempo do primeiro contrato: cinco anos para os assinados aos 16 anos, quatro para 17 e três para 18. Seria a blindagem sonhada pelos clubes. Neuhaus festeja a fiscalização. Mas lembra das dificuldades de convencer os jogadores a permanecerem. A oferta no Brasil é maior do que a demanda:
– Se os 1.176 jogadores que saíram em 2008 voltarem, onde vão jogar?
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