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 | 25/03/2008 07h08min

Wianey Carlet: Uma década

A Lei Pelé está completando 10 anos e tantas alterações sofreu que nem caberia mais a sua denominação inicial. Hoje, a legislação está transformada em uma colcha de retalhos que se tornou inevitável, considerados os absurdos que continha na sua versão inicial. Ignorar estas mudanças seria apenas uma tentativa de mantê-la protegida sob o escudo da dissimulação. Foi retalhada porque, como poucos se atreveram a proclamar, tornava inviável a administração do futebol brasileiro.

- Perdi a conta do número de versões que esta legislação teve, desde o seu projeto inicial. No começo, foi elaborada com a parceria de bancos e banqueiros. O objetivo era fragilizar os clubes economicamente, até torná-los reféns de "investidores" que os comprariam. Mais tarde, moldou-se aos interesses dos ditos "empresários" sob a falsa promessa de que "libertaria os escravos". Neste ponto, naufragou sob os ventos de insuportável contradição: quem investiria em clubes se estes estavam perdendo o controle sobre o seu principal ativo, o passe do jogador?

- Este colunista tem a máxima satisfação de lembrar que, desde meados dos anos 90 do século passado, dedicou centenas de horas e muitos metros de colunas para analisar, alertar e projetar os efeitos da Lei Pelé. Quem quiser conferir, está nos arquivos. As principais previsões, de tanto repeti-las, as tenho decoradas:

- A lei só pensava nos grandes jogadores. Estes, que nunca foram "escravos", continuariam enriquecendo, mas os moradores da base da pirâmide teriam as suas vidas imensamente pioradas. Está escrito. Os sindicatos, hoje, concordam.

- A lei foi criada para beneficiar os negócios dos atravessadores. Nem é preciso desperdiçar tempo e espaço para demonstrar. Os "empresários", sob as mais variadas formas, tornaram-se milionários e se apropriaram dos jogadores sem investir um centavo na formação dos atletas. O dinheiro que vai parar nos seus bolsos sai da parte que era dos clubes.

- Os clubes passaram a produzir jogadores em nível industrial. Não para tê-los em seus times, mas para comercializá-los, rapidamente, em nome da sobrevivência. Apesar de, até hoje, a legislação não oferecer mecanismos de proteção aos clubes formadores.

- A administração financeira dos clubes melhorou porque as entidades colocaram freios nos seus gastos e passaram a cobrar bons valores da televisão pela cessão das imagens dos campeonatos. Além disso, foi criada a cláusula penal de rescisão, que a lei não previa. Nada tem a ver com a Lei Pelé, portanto, o novo panorama econômico dos clubes.

- A Lei Pelé barateou a formação de times, é verdade, mas retirou força de negociação dos clubes com o Exterior. Neste item, a lei tornou-se imexível, afinal, cumpre os objetivos iniciais dos seus idealizadores.

- Muito mais haveria para se falar, mas, para melhor entender o que a Lei Pelé buscava, basta ler a reportagem da Folha de S. Paulo, último domingo, que mostra como Pelé vai ganhar dinheiro com a venda de jogadores. Ele e dezenas de outros picaretas do futebol.

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