A crise do arroz não envolve apenas a disputa entre produtores brasileiros e argentinos. O consumo do produto vem caindo no país. Os esforços para retormar as vendas vão de campanhas de marketing ao consumidor à busca de espaço na concorrência, mas uma parcela dos agricultores já estuda deixar parte de suas áreas para outras atividades, como soja ou pecuária de corte.

As duas alternativas devem substituir boa parte das áreas cultivadas com arroz nos próximos anos. Gaúchos que plantam na Argentina e no Uruguai já fazem planos de reverter o investimento feito na década de 80 para escapar da estagnação no mercado consumidor do grão.

Paulo Santana, produtor de Santana do Livramento, tem uma propriedade de 200 hectares em Tacuarembó, no Uruguai. Conta que, na próxima safra, pretende substituir parte de sua lavoura de arroz irrigado por gado de corte. Afirma ter "consciência de que o retorno econômico com o gado bovino é menor" do que na agricultura. Mas avalia ser o único caminho que lhe restou.

– Uma coisa é certa: vamos encurtar nossas lavouras. Resta saber o que iremos fazer com o restante das terras – comenta Orlando Bessow, também de Santana do Livramento.

Bessow já fez uma investida fracassada em soja nos anos 80, por problemas climáticos, e por isso teme reconverter novamente a lavoura de arroz. Mas afirma que há tecnologias em desenvolvimento para o plantio de soja em terras de arroz de várzea. Também lembra de estudos sobre o clima da região da fronteira sudoeste apontando como apropriado para o cultivo de soja em algumas áreas de Santana do Livramento.

Enquanto decide, Bessow troca idéias com colegas de lavoura sobre o que fazer com as terras após a redução da área de arroz. A maior parte dos agricultores, relata, deve ocupar o espaço com pecuária de corte, mesmo não sendo a alternativa de maior rentabilidade.

–  A pecuária pode não ser o maior negócio do mundo, mas é uma maneira de ganhar dinheiro – conforma-se.

CARLOS WAGNER E ISABEL MARCHEZAN/ZERO HORA