| 24/01/2008 18h54min
O fluxo de palestinos que parte da Faixa de Gaza para o Egito continua hoje pelo segundo dia consecutivo após a derrubada da barreira fronteiriça, enquanto o movimento islâmico Hamas alerta para o fato de que o bloqueio do território ocupado pode levar a um cenário similar em Israel.
Desde as primeiras horas da manhã de hoje, milhares de palestinos de diferentes pontos da Faixa rumaram ao Egito para fazer compras, estudar ou simplesmente respirar ares de liberdade, após sete meses de cerco israelense. A entrada em massa no Egito aconteceu depois de milicianos palestinos derrubarem na quarta-feira a cerca que separa o sul da Faixa de Gaza do país africano.
Esta situação gerou uma troca de acusações entre Israel — que responsabiliza o Egito e o Hamas —, o movimento islâmico e a Autoridade Nacional Palestina (ANP), que quer recuperar o controle da passagem fronteiriça de Rafah e das instituições deste território palestino. Um líder do Hamas, Ahmed Youssef, disse hoje que
Israel enfrenta a
possibilidade de os habitantes da Faixa de Gaza derrubarem a cerca que separa os dois territórios e entrem no Estado judeu, da mesma forma que centenas de milhares de pessoas fizeram a partir de quarta-feira na fronteira com o Egito.
— Não é uma fantasia. É algo que posso prever, porque não é possível manter 1,5 milhão de palestinos isolados — afirmou Youssef à rádio pública israelense.
Segundo ele, da próxima vez que a situação explodir, os residentes de Gaza estarão dispostos a sacrificar sua vida, em alusão ao fato de que todos os passos com o Estado judeu estão sendo
estritamente controlados pelas forças de segurança israelenses. Pouco antes, outro dirigente do Hamas, Faraj al-Ghul, disse que o ocorrido desta quarta-feira foi um primeiro passo para acabar com o bloqueio imposto por Israel.
— A explosão das fronteiras é o começo do reforço da soberania palestino-egípcia sem a intervenção de Israel — disse Ghul, chefe do
comitê legal do grupo parlamentar do movimento
islâmico.
Nemer Hamad, assessor do presidente da ANP, Mahmoud Abbas, pediu que os islamitas abandonem o mais rápido possível a passagem de Rafah e a zona fronteiriça. Em comunicado, Hamad disse que "o episódio na fronteira com o Egito é um grande fracasso do Hamas. O movimento deveria admitir que, após sete meses, fracassou em governar a Faixa de Gaza".
Ashraf al-Ajrami, ministro de Assuntos dos Prisioneiros da ANP, com sede em Ramala, foi mais longe ao acusar o Hamas de "tirar proveito das dificuldades dos residentes de Gaza e prejudicar as relações com o Egito".
— A ANP deseja conseguir o fim do bloqueio à Faixa de Gaza ativando um mecanismo de pressão sobre a comunidade internacional — ressaltou Ajrami.
O porta-voz do presidente da ANP, Mohammed Edwan, contou à Agência Efe que a situação em Gaza será o assunto principal da reunião de domingo entre Abbas e o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, em Jerusalém.
Edwan acrescentou que este será um "encontro
extraordinário" entre os dois líderes e que terá o objetivo de avançar no processo de paz lançado na conferência de Annapolis (Estados Unidos), em novembro.
O porta-voz disse que, durante a reunião, Abbas pedirá que Israel "suspenda o bloqueio à Faixa de Gaza, forneça todos os bens necessários à região e coloque fim aos assassinatos e às incursões".
Hoje, o Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou, com o voto dos países em desenvolvimento, uma resolução que denuncia estes ataques militares e pede a Israel o fim do bloqueio imposto à Faixa e a reabertura das fronteiras.
No entanto, o Governo de Olmert parece optar pela direção contrária, a teor das palavras de hoje do vice-ministro da Defesa, Matan Vilnai, que manifestou sua intenção de deixar de fornecer aos palestinos "eletricidade, água potável e remédios, coisas que terão que receber de outras fontes".
A maré humana rumo ao Egito também gerou preocupação nas autoridades
militares israelenses, que temem uma infiltração
de terroristas e a entrada de armamento na Faixa de Gaza.
O Escritório Antiterrorismo Israelense pediu hoje que todos os cidadãos de Israel localizados atualmente na península do Sinai voltem imediatamente ao país devido ao "risco elevado e concreto" de que sejam seqüestrados e, posteriormente, levados à Faixa de Gaza.
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