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 | 02/10/2006 12h18min

Equipes de resgate encontraram cenário aterrador em acidente do avião da Gol

As 155 vítimas tiveram os corpos mutilados pela queda

A clareira aberta na Serra do Cachimbo com a queda do Boeing 737-800 da Gol expõe destroços da aeronave espalhados por um raio de 500 metros na reserva indígena de Parque do Xingu, a 200 quilômetros de Peixoto de Azevedo (MT). As primeiras equipes de resgate que chegaram ao local encontraram um cenário aterrador. As 155 vítimas tiveram os corpos mutilados pela queda do Boeing que fazia a rota Manaus-Rio de Janeiro. A Aeronáutica confirmou, na noite de ontem, que não há sobreviventes do vôo 1907.

De acordo com um oficial do Grupamento Aéreo da Polícia Militar de Mato Grosso, apenas dois corpos foram localizados inteiros e resgatados. Os militares revelam que há uma grande concentração de destroços em uma área e um forte cheiro de corpos queimados.

- É um horror. O avião se despedaçou, não existem pedaços significativos da aeronave - informou o oficial.

Ao ser comunicada pela Aeronáutica da ausência de sobreviventes, a Gol informou, por meio do presidente, Constantino de Oliveira Junior, que "lamenta profundamente o fato e expressa suas condolências aos familiares e amigos das vítimas".

A Força Aérea Brasileira (FAB) começou ontem a fazer o resgate dos corpos. Eles estão sendo levados para a Base Aérea de Cachimbo, a cerca de 30 quilômetros do local do acidente. Os corpos serão acondicionados em dois caminhões-frigoríficos emprestados por empresários da região.

Pela estimativa do presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, o resgate das vítimas deve levar uma semana.

Segundo fonte da FAB, o avião caiu rodopiando, em formato de parafuso, e colidiu de nariz numa região de mata densa, com árvores de 70 metros de altura e dois metros de diâmetro. A explosão foi instantânea.

Onze militares da FAB e cinco do Exército estão pernoitando na região. Eles estão lá desde sábado, abrindo picadas na floresta e afastando animais. Com a dificuldade de atravessar a mata a pé, dois militares foram lançados de pára-quedas e outros desceram de helicópteros por rapel.

Um grupo de índios da reserva do Alto Xingu foi convocado para auxiliar no trabalho de abrir clareiras. Ontem começaram a pousar no local os primeiros helicópteros de resgate.

Um quartel-general foi montado na Fazenda Jarinã, a 240 quilômetros de Peixoto de Azevedo. Mais de 90 homens das Forças Armadas, do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar estão no local. O campo de futebol da fazenda foi transformado em pista de pouso e decolagem de seis helicópteros. A fazenda fica a 10 minutos de vôo do local da queda.

O serviço de buscas foi interrompido às 18h de ontem e será retomado às 5h de hoje. No final da tarde, um temporal desabou sobre a região, dificultando ainda mais o resgate. O espaço aéreo na área do acidente foi fechado pela Aeronáutica. Qualquer aeronave que se aproxima é orientada a aumentar a altitude e se afastar.

Já está na Fazenda Jarinã o delegado Luciano Inácio, designado pela Secretaria de Segurança de Mato Grosso para conduzir o inquérito. Ele está acompanhado de técnicos especializados na coleta de DNA, procedimento que será utilizado na identificação dos corpos. A equipe, no entanto, não chegou ao local da queda.

Seis peritos do Instituto Médico Legal de Brasília voaram ontem até a fazenda para ajudar na identificação dos corpos. Para apressar o transporte das vítimas, o Ministério da Saúde suspendeu formalidades como o uso de urnas lacradas e a emissão de atestados de óbito. Os corpos serão levados para o IML de Brasília.

No sábado, chegou a Peixoto de Azevedo o primeiro familiar de uma das vítimas. Fábio Oliveira voou num jatinho bimotor com um parente. Ele tenta acompanhar o resgate do pai, o empresário carioca Márcio Oliveira. Outros familiares estão se deslocando para Guarantã (MT). Todos se negaram a dar entrevista.

FABIO SCHAFFNER/ ENVIADO ESPECIAL/PEIXOTO DE AZEVEDO (MT)

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